“Poderíamos estar salvando o dobro de vidas, se não fosse o vandalismo.” A afirmação é de Flávio Dias, especialista em transporte pela Universidade de Brasília (UnB), ao se deparar com o gasto de R$ 1.018.910, do Departamento de Trânsito (Detran/DF), para reformar placas de sinalização depredadas, entre janeiro e setembro deste ano.
Para Dias, o custo das reformas poderia ser aplicado em iniciativas com objetivo de prevenção a acidentes de trânsito. “É sempre triste ver o desperdício de dinheiro público com custos desnecessários, em função da ação de vândalos. Quando você reforma uma placa, está salvando vidas porque as pessoas vão se basear na sinalização para evitar acidentes. Mas, ao refazer um serviço por causa do vandalismo, deixamos de investir em outras formas de salvar vidas, em campanhas educativas, por exemplo”, diz o especialista.
Nos primeiros nove meses de 2019, o Núcleo de Sinalização Estatigráfica do Detran (Nuest) recuperou 5.317 placas, no Distrito Federal. A maioria pichadas, amassadas, entortadas e até com marcas de tiros. “Se ninguém mexer, bater e amassar, a placa fica por 30 anos, porque a chapa galvanizada (material utilizado) é boa e duradoura”, afirma Luiz Brito, chefe do Nuest.
O setor conta com o trabalho de 10 servidores do Detran e cerca de 40 apenados da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap) que atuam realizando rondas, recolhendo sinalizações depredadas e reformando as placas. Segundo o Detran, o núcleo — criado em outubro de 2010 — gera uma economia de mais de 100% com a manutenção das sinalizações verticais. Pelas contas da autarquia, com base em gastos de outras unidades da Federação, se fossem feitas licitações para a compra de novos materiais, o valor poderia chegar a R$ 3 milhões.
No entanto, segundo o Detran, a economia gerada pelo Nuest não anula o fato de que a verba das reformas poderia ser destinada a impulsionar medidas educativas do Detran, considerando que os recursos de engenharia e educação de trânsito são oriundos da mesma fonte de receitas: as multas.
Trabalho duro (e caro)
» De janeiro a setembro
Placas recuperadas pelo Nuest: 1.471
Placas limpas: 250
Placas recicladas (no galpão do Nuest): 522
Placas substituídas: 784
Placas novas implantadas: 2.290
» Valor unitário
Placa limpa: R$ 45
Placa reciclada e/ou recuperada: R$ 120
Placa implantada e/ou substituída: R$ 250