
Miguel Lucena
Quando Arimatéia soube que havia sido aprovado no vestibular, sentiu-se o herói da própria história. Em sua pequena cidade no interior da Paraíba, o feito representava uma vitória quase épica. Imaginou-se chegando à capital do estado como um gladiador vitorioso, sendo recebido com faixas, aplausos e discursos. Viajou embalado por essa fantasia, mas, ao desembarcar na rodoviária, encontrou apenas um irmão solitário à sua espera, com um aceno contido e uma sacola de quentinhas na mão.
Essa cena se repete, com outras roupas, no palco da política. Há quem, ao se eleger vereador, passe a acreditar que conquistou o mundo. Como se o pequeno cargo lhe conferisse poder absoluto e reverência imediata. Mal sabem que o caminho até algum protagonismo é árduo e, na maioria das vezes, frustrante. Deputados federais, ao estrear no plenário imenso da Câmara, muitas vezes se deparam com o vazio de seus próprios nomes: são mais um entre centenas, ignorados pelo chamado “alto clero”, onde o verdadeiro poder circula em silêncio, fechado em gabinetes e conluios.
Essa ilusão de grandeza se projeta também no cenário internacional. Muitos brasileiros, ao pisar nos Estados Unidos, acreditam que ali terão protagonismo. Pensam que a política brasileira tem peso real na balança de interesses norte-americana. Fazem discursos inflamados nas redes, encenam performances em frente a monumentos e gabinetes, como se Trump ou Biden perdessem um segundo de sono por causa disso. Para os EUA, o mundo termina em suas fronteiras. O restante serve, quando muito, para consumo ou influência — nunca para reverência.
O mesmo delírio coletivo acometeu os que acamparam em frente aos quartéis, pedindo intervenções que jamais viriam. Alucinados por teorias de salvação nacional, invadiram as sedes dos poderes achando que estavam reescrevendo a história. Hoje, muitos desses “revolucionários” enfrentam anos de prisão e o amargo gosto da realidade, que, diferentemente da ilusão, não tem filtro nem aplauso.
O deslumbramento, quando não encontra o espelho da lucidez, vira tragédia pessoal e social. Arimatéia ao menos aprendeu cedo, diante da rodoviária vazia, que a vida é menos aplauso e mais estrada. Já outros insistem em viver num teatro onde só eles veem o espetáculo.