Fabíola Góis
De Abuja, Nigéria
Estamos a um dia de sair de uma bolha que se chama Abuja, capital da Nigéria. No condomínio onde moramos, me sinto segura, tem acesso com ruas asfaltadas, há abundância de água, os geradores funcionam quando falta energia (umas 15 vezes por dia). Não veria sinais de terrorismo não fossem os guardas armados com AK-47 por todos os cantos da cidade e as revistas em nossos carros e bolsas sempre que entramos em algum shopping.
A realidade de 99% dos moradores da Nigéria é totalmente diferente. A desigualdade social é enorme. Veja o caso da guerreira Grace Isaac Musa, 27 anos. Ela é da tribo Birom, no Plateau State, Nordeste da Nigéria. Em 2015, a casa dela foi incendiada pelo Boko Haram (um dos maiores e mais perigosos grupos terroristas nos dias atuais). Aliás, esses fundamentalistas incendiaram a vila inteira, Vatt, perto da capital Jos, e mataram 17 pessoas em um só dia. O pai e a mãe dela rezavam no domingo, em uma igreja cristã, quando eles atuaram. Quando voltaram a casa, havia cinzas de tudo o que construíram em uma vida inteira de trabalho duro na fazenda. Ficaram sem nada.
Grace veio morar em Abuja para conseguir pagar o aluguel dos pais e das irmãs, que ficaram em Jos. Ela é costureira, mas trabalha em casas de família (ela adora trabalhar com brasileiros!) para tentar juntar dinheiro e construir a tão sonhada casa própria em Nasarawa para que a mãe e a irmã mais nova, de 20 anos, possam morar.
O pai morreu há dois anos de câncer. Grace acha que foi de desgosto. Começou a ficar doente e ter pressão alta logo após o ataque terrorista, que matou o pai e o irmão dele. A mãe desenvolveu diabetes. Grace também paga a escola da irmã mais nova e sonha em ser enfermeira. Vai casar com um rapaz de sua tribo no ano que vem. E, como uma boa e fiel religiosa nigeriana, agradece e pede a Deus um futuro melhor. God, please, bless Nigéria.
PS: Esse vestido lindo que a Grace usa na foto foi feito por ela.