A democracia está comprometida no Brasil, a partir do momento em que o postulante a um mandato parlamentar, para falar com seus eleitores, precisa ultrapassar várias barreiras.
A primeira é econômica e financeira. Quem não dispõe de recursos não consegue nem mesmo usar as redes sociais de forma razoável, porque os proprietários do espaço impõem limites de circulação das mensagens, a menos que se pague determinado valor.
Fala-se muito de propaganda gratuita, mas a gravação das mensagens exige profissionais e equipamentos que são pagos pelo postulante a um mandato, o que ajuda a excluir os candidatos pobres.
A burocracia exige advogados e contadores, os quais não trabalham de graça.
O Fundo Partidário, criado para financiar as campanhas com dinheiro público, só fica disponível a 45 dias da eleição – e assim mesmo a conta-gotas -, permitindo que os candidatos ricos façam a festa.
Criou-se mais uma barreira para acesso ao eleitor: as chamadas lideranças. Nos morros do Rio de Janeiro, por exemplo, os candidatos somente falam com o eleitorado se passar pelos líderes comunitários, quase sempre vinculados a facções criminosas.
Em outros lugares, o contato também é restrito, embora sem essa conotação perigosa do Rio. Mesmo assim, não se consegue falar diretamente com as pessoas, porque as chamadas lideranças deram um jeito de aprisionar os moradores num sistema de pequenos favores – um quilo de arroz, um bolo para as crianças, uma vaga no hospital, o dinheiro da passagem etc.
Assim, em época de eleição, uma barreira é montada entre o candidato e o povo. Quem não der um jeito de ultrapassá-la estará fadado ao fracasso.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil, jornalista e escritor.