Segundo o estudo realizado pelo Itaú Unibanco sobre a recuperação da economia por setores de negócio, segmentos como de vestuário e de eletroeletrônicos estão hoje no meio do caminho entre o “céu e o inferno”. Eles experimentam uma retomada mais forte do que o esperado na ponta da demanda, o que pegou as empresas de surpresa. E o impacto esperado é um possível desabastecimento no curto e longo prazos, com aumento de preços.
“A gente tem visto entre os fabricantes de linha branca uma dificuldade em atender a demanda”, afirma a vice-presidente da área de vinílicos da petroquímica Braskem, Isabel Figueiredo. A empresa fornece, entre outros insumos, resinas e solventes que são usados na produção de geladeiras e fogões.
Com dificuldades em atender os pedidos, grandes varejistas já falam reservadamente na falta de alguns itens nos estoques. Eles já se preocupam se conseguirão abastecer as gôndolas para a Black Friday, que acontece na última quinta-feira do mês de novembro e é aguardada com ânimo por uma boa parte desse setor.
“Não tenho dúvida de que teremos uma Black Friday mais fraca neste ano, porque não teremos produtos. A procura por linhas de informática, celulares e toda a linha branca cresceu muito durante a pandemia. E os fornecedores já nos avisaram que vamos ter uma entrega mais lenta daqui para a frente”, diz o executivo de um grande varejista.
Altos-fornos
A cadeia de siderurgia também passa por um momento semelhante. Depois dos primeiros meses com produção mínima, as empresas começam a, gradualmente, religar os altos-fornos. Segundo o economista do Itaú Unibanco Pedro Renault, as plantas operam hoje com utilização de cerca de 60% da capacidade.
O cenário é bem positivo no que diz respeito à demanda por aços longos, empregados na construção civil. “Espera-se aumento do consumo de aços longos na comparação do total de 2020 com 2019, mas a produção será menor. No geral, as empresas se prepararam para um cenário de demanda muito pior, gerando a mencionada pressão sobre estoques”, afirma Renault. Ao longo dessa cadeia, já se observa dificuldade para se encontrar produtos com prazo de entrega inferior a 90 dias.