Maria José Rocha Lima[1]
Esperança Garcia, mulher negra e ex – escravizada, foi reconhecida pela OAB como a primeira advogada brasileira. Em 1979, o pesquisador Luiz Mott descobriu, no Arquivo Público do Piauí, carta da escrava Esperança Garcia, na qual denunciava maus-tratos. Atendendo ao Movimento Negro do Piauí, a data de 6 de setembro foi oficializada como o Dia Estadual da Consciência Negra. Em setembro de 2017, 447 anos depois, a Comissão da Verdade reconheceu Esperança Garcia a primeira advogada piauiense pela OAB/PI.
É uma alegria e honra celebrar a eleição de Jane Klébia, para o exercício do mandato de deputada na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Uma conquista altamente representativa. Primeiro por ser a primeira delegada a galgar essa função tão relevante, considerando que já é excepcional ser delegada, numa carreira predominante masculina. Desse modo, só chega lá quem tem talento. Em segundo lugar, a sua eleição deve ser celebrada por ser a primeira mulher assumidamente negra a assumir o mandato eletivo de deputada. Depois, é muito gratificante acompanhar a sua desassombrada, educativa e elegante caminhada.
Nascida em Sobradinho e moradora da cidade, é filha de baianos que chegaram a Sobradinho em 1960, quando vieram buscar o sonho da realização familiar na capital do país: “Brasília capital da esperança”, dizia a música. Aos três meses de idade experimenta a primeira violência da vida: o abandono paterno que viria a marcar fortemente a sua vida. Com a ausência paterna, sobrevive sob os cuidados da mãe, Evenita, uma mulher de fé. O exemplo de vida da sua mãe foi sua inspiração para também tornar-se forte e suportar a dureza da vida simples, com muitas limitações financeiras, sem deixar de aprender e praticar os padrões morais da Igreja Batista. Sua mãe, como milhões de mulheres de nosso país, assumiu a chefia da família e criou seus dois filhos, com a responsabilidade de torná-los cidadãos honrados. Jane foi aluna de escola pública, seguia os conselhos da mãe: “Estudar é a única forma que o pobre tem de vencer na vida”. Jane Klébia aproveitou todas as oportunidades e já aos 18 anos concluiu, com honroso aproveitamento, o segundo grau e alcançou seu primeiro emprego no serviço público: tornava-se auxiliar de enfermagem, como sua mãe. Inquieta, sonhadora e realizadora, seguiu estudando, concluiu o curso superior, foi da Secretaria de Educação (professor nível II e III) e da Polícia Civil (Agente de polícia e Delegada de Polícia). Pós graduou-se em Administração escolar e Polícia Judiciária. Em 2011, foi Corregedora da Codeplan, na Gestão do Delegado Miguel Lucena. Foi Secretária da Criança no GDF, onde testemunhei a sua eficiência e coragem para superar as adversidades, e conseguiu produzir o Primeiro Plano Decenal de Atendimento Socioeducativo, lançado pelo secretário que a sucedeu.
A sua rica experiência tem sido aperfeiçoada ao longo da vida, o que lhe permite defender com autoridade de conhecimento diversos temas: direitos das mulheres, segurança pública, educação, direitos das cidades, política para infância e juventude, defesa das instituições públicas, funcionalismo público, direito das minorias, dentre outros.
Para doutora Jane Klébia, o desafio é “ajudar outros a construirem suas histórias e conquistar seus direitos garantidos pela Constituição”.