Arquivo pessoal
Maria José Rocha Lima
Foi uma festa memorável, de mestre para mestres. Tudo lindo e festivo. A começar pela anfitriã, Therezamaria, a Sherazade do Cerrado, lindamente trajada, como é dado às rainhas, nos ofertando um banquete de iguarias líricas, musicais e culinárias, como o manjar árabe mahalabie (malabie), com caldas de damasco e tâmaras.
Era uma constelação de mestres das universidades da vida e das universidades instituídas pela lei, no DF, quase todas representadas. Fomos agraciados com delicadas prendas com arroz, símbolo de fertilidade e prosperidade; balão para despertar a alegria das crianças, que nos habitam, e uma pequena lhama, que representa força e perseverança, para lembrar que precisamos nos esforçar para ultrapassar os obstáculos que surgem no caminho.
Como a lendária rainha da Pérsia Sherazade, narradora dos contos de As Mil e Uma Noites, Therezamaria, com sua beleza e inteligência, nos fascinou com seus fabulosos contos, poemas, alegorias, histórias de heróis, conduzindo-nos para as coisas do alto.
Ela começou o belíssimo encontro ao som da flauta do professor Tales! E aí foi contando as histórias poéticas de Carlos Drumond de Andrade, sempre acompanhadas pela flauta. Tudo mágico! A primeira contação foi A INCAPACIDADE DE SER VERDADEIRO, de Drummond:
“Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa, como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
– Não há nada a fazer, Dona Coló. Esse menino é mesmo um caso de poesia”.
Como no poema, Therezamaria é uma caso de poesia! Assim, ela prosseguiu contando a belíssima Odisseia, o Poder de uma Rebeca, de Carlos Drumond de Andrade, lembrado pela celebração dos 100 anos do poeta. A história de uma águia, uma lenda africana, e o Tejo, de Fernando Pessoa.
Como disse a professora e jornalista Camélia Chaer Dib: “Therezamara, é solar a sua presença, ilumina todos ao seu redor e e quem vai ao seu encontro deve prever um ambiente alegre, de festa, amizade, um convívio para viver e aprender”.
Todos aplaudimos esse memorável, maravilhoso, abençoado encontro, sarau, happppening, ninguém sabe como nomeá-lo, mas todos em uníssono disseram: tarde memorável!
Era tudo elevado à máxima potência, naquela festa tinha três Zezés.
Nos associamos a Camélia Chair Dib, aplaudindo professores e lideranças da educação como Marlene Cabrera, “que fez da sua pulsante história um legado que perdura até hoje” e emocionou a todos e a mim especialmente. Marlene Cabrera me deu notícias promissoras de Anisio Teixeira; à professora Teresa Cristina(Lelesa), que levou ioga para escolas públicas do DF; ao professor Thales, que encantou a todos com a sua linda flauta; à professora da UnB e arquiteta Denise Campos, sobrinha de Therezamaria, que relatou suas relevantes experiências, pensando em uma Brasília ainda mais linda!
Eu homenageei Therezamaria. Ela faz tudo com tamanha autenticidade, é tudo tão verdadeiro, que parece destoar desse mundo copiado que vivemos!
Camélia Dib concluiu com aplausos a Zezés, Denise, Teresa Cristina( Lelesa), Cleonice e a todos que participaram dessa tarde memorável e abençoada tarde, e a chuva veio junto!
Eu só sei que depois de três dias, como na Odisseia de Drumond, O AMOR RESSUSSITOU!
Fotos: Arquivo pessoal
Maria José Rocha Lima é professora mestre em educação, pela UFBa e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991-1999. É Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira. Soroptimist International SI Brasília Sudoeste.