Maria José Rocha Lima
A nova edição do Projeto Curta Maria – Jornadas para Produção de Vídeos sobre a Lei Maria da Penha, por um mundo sem violência contra as mulheres e meninas, será especial por coincidir com os 15 anos da Lei Maria da Penha. O projeto tem como meta alcançar mais mil jovens, em dez escolas do Distrito Federal, ainda em 2021, adotando novos arranjos didáticos, compatíveis com o retorno sob a pandemia. O projeto visa, ainda, alcançar 4 mil pessoas no DF, contando com a parceria da AV3.
O projeto terá um novo objetivo: produzir pesquisa do perfil socioeconômico dos mil jovens atendidos, visando oferecer à Secretaria de Cultura identificação dos setores criativos, seus possíveis impactos e oportunidades para os participantes.
Entre 2015 e 2019, o Projeto Curta Maria, da Casa da Educação Anísio Teixeira e por mim idealizado, realizou 12 jornadas, e a 12ª, a 25 de novembro de 2019, totalizou a participação direta de mais de mil estudantes, 150 mulheres vítimas de violência e mais de 3 mil participantes da comunidade escolar.
O projeto também alcançou milhares de pessoas do Distrito Federal, por intermédio da divulgação nas mídias impressas e televisivas, além das redes sociais, a exemplo da página do Banco Mundial e da Fundação Banco do Brasil.
O projeto foi laureado pela Casa da Mulher Brasileira, reconhecido pela Procuradoria da Mulher no Senado Federal, tendo sido selecionado para apresentação na Pauta Feminina, transmitida para todo o país; foi apresentado nos Estados Unidos, pelo jovem embaixador Marcelo Júnior, e em 2017 participou, na Câmara dos Deputados, da Abertura dos 16 dias de Ativismo da ONU, para o enfrentamento da violência contra a mulher. Fez tudo isso contando apenas com os parcos recursos financeiros dos integrantes da Casa da Educação.
Já na primeira jornada, o projeto mostrou ter metodologia simples, eficiente e eficaz. Ele sensibiliza um número cada vez maior de jovens, usando estratégias muito atrativas para os estudantes, como os recursos audiovisuais que mais alimentam e atualizam o universo cognitivo, sensorial, afetivo e ético desses jovens, que pertencem a uma nova geração midiática.
O projeto faz um enorme sucesso entre os jovens pela promoção do protagonismo juvenil, uma vez que as oficinas de cada uma das jornadas são realizadas por jovens vencedores de jornadas anteriores, promovendo um diálogo de jovens para jovens, além do pequeno pró-labore, fortalecendo o valor do trabalho.
O projeto, sob a coordenação pedagógica de especialistas da Casa da Educação Anísio Teixeira, conta com a importantíssima colaboração e contrapartidas das unidades de ensino. Não é fácil discutir a violência contra a mulher no interior da escola. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), em relatório de 2019, concluiu que a violência contra a mulher não se limita à doméstica, que, em 2019, representou 18% do total de ocorrências registradas com vítimas do sexo feminino. As mulheres são a maioria das vítimas no estupro, em furtos, na lesão corporal dolosa, na injúria e na ameaça. A violência doméstica tornou – se parte do cotidiano das famílias e das comunidades escolares no DF, afetando a aprendizagem dos estudantes, que vivem os sobressaltos das cenas de violência no interior dos seus lares, espaços que deveriam ser para a sua proteção, lugar de repouso e de aprendizagem, para a convivência harmoniosa e de paz.
O sucesso do Projeto Curta Maria, com a realização da edição especial para 1000+, é a contribuição da educação para um futuro sem violência contra as mulheres e meninas.
MARIA JOSÉ ROCHA LIMA é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista e diretora da ABEPP. Membro da Organização Internacional Clube Soroptimista Internacional Brasília Sudoeste