Às vésperas do fim da janela de transferência partidária, no sábado, o tucanato do Distrito Federal observa a dissidência de alguns dos principais nomes da legenda. A ex-governadora e fundadora do PSDB, Maria de Lourdes Abadia, o suplente Virgílio Neto, o distrital Robério Negreiros e o ex-deputado federal Luiz Pitiman anunciaram o desembarque — todos pretendem levar consigo dezenas de integrantes da sigla. Motivada pelo descontentamento com a gestão do presidente regional e pré-candidato ao Palácio do Buriti, deputado federal Izalci Lucas, a debandada dificulta a construção de nominatas fortes para as câmaras Legislativa e dos Deputados e agrava a crise interna no partido (leia Memória).
Parte da debandada do PSDB se traduz em ganho para o PSB, do governador Rodrigo Rollemberg. Às 19h de hoje, Abadia e Virgílio Neto assinam a filiação ao partido socialista no Parlamundi da Legião da Boa Vontade (LBV). A ex-governadora contribuirá com o vasto histórico político e a boa interlocução várias regiões do DF. O suplente de distrital, por sua vez, deve fortalecer o quadro de pré-candidatos. Até então, ele ocupava o Núcleo de Suplentes do PSDB e, agora, trabalha para levar alguns dos 62 integrantes do grupo para o novo partido.
Robério Negreiros, por outro lado, não decidiu a legenda de destino. Com a saída do parlamentar, ontem, o PSDB, partido com o maior número de filiados da capital, fica sem representantes na Câmara Legislativa. Ele, que analisa propostas do DEM, PSD, Podemos e Patriotas, deixou a sigla depois de o presidente do tucanato garantir que o distrital “não teria legenda para concorrer à reeleição”. A tendência é de que ele escolha o DEM.
Izalci definiu que só poderão disputar o Legislativo local tucanos com estimativa de votos inferior a 12 mil. Negreiros, contudo, foi o segundo distrital mais votado no pleito de 2014, quando integrava o MDB, com o apoio de 25.646 eleitores. Na carta de desfiliação, o parlamentar destacou a necessidade de diálogo para que os políticos possam ir “além das diferenças pessoais e construir soluções voltadas ao cidadão” e para “encontrar, dentro das divergências, as convergências”.
Candidato do PSDB ao Palácio do Buriti em 2014, Luiz Pitiman assinou o pedido de desfiliação na última terça-feira. Para ele, faltou diálogo ao longo dos últimos anos e Izalci Lucas adotou “uma monarquia familiar no comando do partido”. A desavença é tamanha que apenas o presidente nacional da legenda, Geraldo Alckmin, foi comunicado sobre a decisão. “Estou construindo um novo caminho até sábado e devo levar, no mínimo, 10 candidatos a deputado distrital e federal comigo”, garantiu.
Além desses quatro, Paulo Roriz, primo do ex-governador Joaquim Roriz, estuda deixar o ninho tucano. Ele deve concorrer ao posto de deputado federal. Nesse caso, seria concorrente do neto do ex-chefe do Buriti, que também leva o nome do avô. No clã, apenas os dois, além de Dedé Roriz, detêm condições eleitorais para entrar na disputa. “Vou conversar com Izalci amanhã (hoje) para saber como está a nominata. Não quero tomar uma decisão prematura e, depois, me arrepender”, pontuou. O ex-distrital Milton Barbosa também avalia o desembarque.
Nominatas
Com a baixa dos nomes fortes, o PSDB pode ter dificuldades em emplacar deputados federais e distritais. Isso porque, pelas regras eleitorais, calcula-se quais frentes tiveram mais votos e as vagas disponíveis são distribuídas entre os políticos melhor colocados desses grupos. De olho nisso, as legendas se dividem da forma que avaliam ser a mais favorável à vitória — sozinhas, em duplas, trios, e assim por diante. Numa chapa de distritais, há até 48 candidatos; na de federais, 16.
Por ora, o PSB forma uma coalizão com PSD, PTB, PPS e PRB, além de alguns nanicos. Todas essas legendas têm nomes fortes para a disputa. O PSD, por exemplo, deve tentar a reeleição de Rogério Rosso — segundo deputado federal mais votado em 2014 (93.653) —, além de emplacar o distrital Cristiano Araújo e o vice-governador Renato Santana na Câmara Legislativa. O PRB, por sua vez, pretende alavancar o distrital melhor colocado no pleito de 2014 e pastor da Universal do Reino de Deus, Júlio Cesar, na Câmara dos Deputados. Para o Legislativo local, conta com o nome do pastor da Sara Nossa Terra Rodrigo Delmasso.
“Bom para oxigenar”
Apesar do quadro, Izalci Lucas minimiza as consequências da debandada. Para o presidente do tucanato, a saída dos figurões é uma forma de “oxigenar” o partido. “Temos 120 pré-candidatos a deputado distrital e federal. Muitos deles não foram testados, mas podem surpreender o eleitorado. Haverá muitas surpresas até sábado. Há pessoas que temiam que nos juntássemos ao governo, mas, agora, têm segurança de vir para o PSDB”, destacou.
O tucano garante, ainda, que as saídas eram esperadas. “Abadia e Virgílio sinalizaram que estariam com Rollemberg desde que passaram a integrar o governo. A Robério, eu havia explicado que, por conta de um acordo firmado com correligionários, apenas aqueles com até 12 mil votos teriam legenda para concorrer. É uma forma de dar oportunidades iguais para todos”, concluiu. Segundo Izalci, a situação poderia ser diferente se o distrital tivesse sido eleito pelo PSDB em 2014, e não pelo MDB.
Definição entre distritais
Depois de dezenas de reuniões e diálogo, os distritais Claudio Abrantes e Rodrigo Delmasso escolheram as legendas pelas quais disputarão a reeleição. Abrantes, que deixou a Rede em maio de 2017 para fazer oposição ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB), vai entrar no páreo pelo PDT, do pré-candidato ao Buriti Joe Valle. Delmasso, por sua vez, escolheu uma sigla alinhada aos princípios evangélicos e aos “valores da família”: o PRB, fundado por integrantes da Universal do Reino de Deus.
Memória
Confusão desde o ano passadoTucanos estão em pé de guerra desde meados do ano passado. Com o início das articulações para o pleito, as alas ligadas a Maria de Lourdes Abadia, Virgílio Neto e Robério Negreiros cobravam a realização de eleições internas para a escolha da Executiva local, presidida por Izalci Lucas de forma provisória desde 2015. O mal-estar se agravou quando o pré-candidato ao Buriti viu parte dos correligionários ganharem vagas na gestão Rollemberg, numa tentativa de aproximação do governador com o PSDB. Ele, então, deu um ultimato: todos deveriam deixar o alto escalão do GDF, caso contrário, poderiam ser expulsos da sigla. A postura levou a militância a recorrer a Geraldo Alckmin pela realização de eleições. Na contramão do pedido, o presidente nacional prorrogou o mandato de Izalci até junho, às vésperas das convenções partidárias.