Parlamentares da base e da oposição indicam motivos para derrota tripla de Lula, Motta e Alcolumbre na escolha da cúpula da comissão

Uma série de fatores levou à derrota simultânea dos chefes de dois Poderes, deflagrada com a tomada nesta quarta-feira (20/8), pela oposição, da cúpula da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará as fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Nos bastidores, apontam-se falhas na atuação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e dos presidentes do Legislativo, representado pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Lula encerrou o dia enfraquecido, com reclamações da própria base aliada à articulação do Planalto. O senador Omar Aziz (PSD-AM), que havia sido escolhido por Alcolumbre para presidir a CPMI em acordo com o governo, reclamou ao final quando viu que o acordo não valeu de nada. “Não sabem contar votos?”, questionou. Ele foi derrotado na votação para a presidência do colegiado pelo senador Carlos Viana (Podemos-MG), de perfil oposicionista. Até a abertura da votação, a base lulista acreditava que o jogo estava definido.
Para completar a derrota tripla, Viana escolheu o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) como relator da comissão. Gaspar é bolsonarista e crítico ferrenho do governo. Motta havia escolhido, publicamente, o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) para relatar a CPMI. Após a reviravolta, lideranças governistas e de oposição citaram os motivos que explicam o desfecho.
Motivos para derrota:
- A baixa liberação de emendas pelo governo federal. Como mostrou o Metrópoles, até a semana anterior à instauração da CPMI, o Planalto havia pagado apenas R$ 14 bilhões com rubricas do Legislativo. A média diária de pagamentos caiu quase pela metade com relação ao apresentado em 2024, o que aumenta a insatisfação de parlamentares, principalmente os do Centrão, que se uniram à oposição para dar o controle da comissão aos bolsonaristas.
- O “salto alto” da base. Esse foi o termo citado pelo líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), ao comentar a derrota. “O time entrou com salto alto, subestimou o adversário, e o adversário teve capacidade de se articular, exerceu maioria e elegeu presidente”, disse o senador, responsável pela articulação do Planalto em temas que dizem respeito às duas Casas do Congresso.
- A falta de controle de Motta sobre o Centrão. Caciques de partidos que integram esse grupo, do qual o presidente da Câmara faz parte, indicaram deputados de perfil oposicionista, e sob segredo sugeriram a votação em Viana, com Gaspar para relatoria. O movimento aconteceu num momento de aproximação de legendas como União Brasil e PP com o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.
- Ausência de nomes da base. Viana foi eleito por 17 votos a 14 de Aziz, e isso ocorreu diante da ausência de nomes importantes do governo no plenário. Foram citadas as faltas do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e Rafael Brito (MDB-AL).
- O cuidado da oposição, que articulou na véspera à boca miúda a troca de indicações. Caciques do Centrão pediram reserva aos liderados durante a noite e a madrugada de terça para quarta, visando pegar o governo de surpresa.
A CPMI reúne 32 integrantes, entre deputados e senadores, tanto da base do governo quanto da oposição. O colegiado ainda contará com o mesmo número de suplentes.
Após a derrota, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, convocou os líderes da base do governo no Congresso Nacional para tratar da CPMI. O encontro ocorreu no Palácio do Planalto após o presidente Lula se reunir com Motta e o líder do PT do Senado Federal, Rogério Carvalho (SE).