Nelson Valente
Aproximadamente 1/4 da população mundial está infectada por M. Tuberculosis, bactéria causadora da tuberculose.
Já faz anos que exploro o mundo dos códigos e dos signos pelo estudo da linguagem, da comunicação, da psicanálise, do saber e de muitas outras formas. No entanto, nunca defini meu objeto! Porque cada linguagem propõe um paradigma de mundo diferente.
Quando jovem, meu professor de Semiótica, Naief Sàfady afirmou:
- “Nascemos apenas com uma ideia na cabeça e não fazemos outra coisa senão desenvolvê-la ao longo de toda a nossa existência.”
Disse para mim mesmo: - “Será, então, que não é possível que haja uma mudança de vida?” Que reacionário! Perto dos 72 anos de idade, entendi que meu professor tinha razão: de fato, durante toda a minha vida persegui tão-somente uma única ideia. O único problema é que não sei que ideia é essa!
Creio que estou chegando lá. De tanto me dedicar à semiologia, estou cada vez mais convencido da possibilidade de que o mundo não existe, de que ele nada mais é do que um produto da linguagem.
Houve momentos, no decorrer do século passado, que a filosofia se recusou a falar do mental sob o pretexto de que não podia vê-lo. Hoje em dia, com as ciências cognitivas, as questões do conhecimento – o que quer dizer conhecer, perceber, aprender? – tornaram-se centrais. Os progressos da ciência permitem tocar naquilo que antigamente era invisível, o que obriga a Semiótica questionar: como é que a linguagem estrutura a percepção que temos das coisas?
No mundo midiático, digital, instantâneo, a informação é cada vez mais estilizada, pasteurizada, e os fatos recortados da realidade sem nexo, sem contexto, sem passado, sem história, sem memória, numa destruição clara da temporalidade, como se o mundo fosse um eterno videoclipe. Dessa forma, mais confunde do que esclarece e mais deforma do que forma.
. E quando a telinha do computador se abre, o portal do mundo está aberto. Entretanto, permeando tais informações, há uma grande quantidade de “lixo informacional” invadindo nossos lares todos os dias. O cerne da questão está no fato de que o volume de informação não garante a qualidade. Com o uso da internet, o volume de informação dificulta a compreensão num mundo caleidoscópico, que se apresenta em forma de mosaico sem nexo, que vive transfigurando e refigurando o espetáculo da vida como se o confundisse com um reality show.
Outro dia, em conversa com o acadêmico Arnaldo Niskier, um dos maiores exemplos de fertilidade literária, falou-se sobre a inspiração de escritores que tiveram a infelicidade de sofrer de tuberculose. É impressionante a relação dos quais padeceram desse mal, a começar por Castro Alves, que morreu antes mesmo de completar 25 anos de idade.
A primeira referência à tuberculose, no continente americano, está nas cartas dos jesuítas, que a reconheciam em si mesmos, como fizeram os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, que para aqui vieram desde 1549.
A tuberculose apareceu em nosso folclore e na nossa literatura – e de tal modo que Tristão de Ataíde, ao analisar a Revolução de 64, escreveu que “os brasileiros se ponham de acordo com o tratamento da nossa atual tuberculose política, pois a terapêutica assenta no emprego de uma penicilina de liberdade e de confiança”.
Durante o romantismo literário, a tuberculose chegou a fazer-se querida, desejada por homens que nela viam a libertação de um mundo que não os satisfazia.
A enfermidade tornou-se até elegante, pois dela morriam os poetas e suas amadas. Esse é o lado lírico de uma doença que, lamentavelmente, agora volta ao cenário das discussões públicas.
Os motivos são os mesmos: condições insatisfatórias de higiene, saneamento e uma ausência quase completa de medidas preventivas. Fala-se novamente em desasseio, como se fôssemos voltar aos tempos de Rodrigues Alves, Pereira Passos e Oswaldo Cruz.
O fenômeno é cíclico, mas indesculpável. Fala-se hoje em tuberculose, abstraindo a carga poética, é um verdadeiro absurdo, que pode envergonhar a nossa geração. Ainda há tempo para reagir, com ações preventivas que não devem tardar. O Dia Mundial da Tuberculose é comemorado no dia 24 de março, a data em que, em 1882, Dr. Robert Koch descobriu que a infecção bacteriana se espalhava pelo ar.
A Tuberculose é doença infecciosa mais mortal do mundo. A tuberculose é uma das doenças transmissíveis mais antigas do mundo, afetando o homem desde a pré-história. A tuberculose representa atualmente um grande desafio em diversas regiões do mundo, ou seja, 1/4 da população mundial infectada.
A grave situação mundial da tuberculose está intimamente ligada ao aumento da pobreza, à má distribuição de renda e à urbanização acelerada. Este quadro contribui para a manutenção da pobreza, pois, como a aids, a tuberculose atinge, principalmente, indivíduos que poderiam ser economicamente ativos. A epidemia de aids e o controle insuficiente da tuberculose apontam para a necessidade de medidas enérgicas e eficazes de saúde pública. A emergência de focos de tuberculose multirresistente (TBMR), tanto nos Estados Unidos da América, no início dos anos noventa, quanto atualmente, nos países que compunham a antiga União Soviética, tem mobilizado o mundo para a questão da tuberculose.
Do total de casos novos de tuberculose estimados pela OMS, menos da metade são notificados, situação que traduz a insuficiência das políticas de controle. Nos 22 países com maior carga de tuberculose, a estimativa é de 6.910.000 casos. Neste grupo, a Índia ocupa a 1a posição com 1.856.000 casos novos anuais, o Brasil a l5a com 116.000 e o Afeganistão a última com 70.000. Se classificados pelo coeficiente de incidência, o Zimbabwe que está em 21o lugar em número absoluto de casos, assume a liderança com 584/100.000 habitantes, e o Brasil passa para o 22o com uma estimativa de 68/100.000.
Em 2019, aproximadamente 1,4 milhão de pessoas morreram devido à tuberculose, a doença infecciosa que mais matou em todo o mundo e, cerca de 10 milhões de pessoas desenvolveram a doença naquele ano, porém, cerca de 3 milhões não foram diagnosticadas ou não foram oficialmente notificadas às autoridades nacionais, de acordo com a OMS.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a tuberculose é a principal causa de morte por um único agente infeccioso em todo o mundo, além de ser a principal causa de morte entre pessoas vivendo com HIV.
Estima-se que 1,8 milhão de pessoas possam morrer de tuberculose em 2020. Os números foram baseados na modelagem da OMS em que estimou um adicional de 200.000 a 400.000 mortes por TB em 2020 se o número de pessoas com TB diagnosticadas e tratadas cair de 25% a 50% em um período de três meses.
A tuberculose é uma doença relacionada a pobreza e as dificuldades econômicas, vulnerabilidade, marginalização, estigma e discriminação são frequentemente enfrentadas pelas pessoas acometidas pela tuberculose. Aproximadamente 1/4 da população mundial está infectada por M. Tuberculosis, bactéria causadora da tuberculose. A TB é curável, cerca de 85% das pessoas que desenvolve a doença pode ser tratada com sucesso com um regime de medicamentos de 6 meses. Caso a gravidade deste quadro não se reverta, teme-se que, até 2020, um bilhão de pessoas sejam infectadas, 200 milhões adoeçam e 35 milhões possam morrer
No curto prazo, as respostas recomendadas pelas autoridades mundiais em saúde para evitar à propagação da Covid-19 por meio do distanciamento social e confinamento, de certa maneira foi severo nos serviços de atendimento à tuberculose, impactando severamente o diagnóstico e notificações dos casos de tuberculose, apesar dos esforços na manutenção da continuidade dos serviços essenciais que tratam pessoas acometidas pela TB. Além disso, por causa da Covid-19, o hábito social de uso de máscaras faciais se tornou menos estigmatizante e há uma aceitação mais ampla de que qualquer pessoa pode ter uma infecção respiratória. Paralelamente, isso poderá tornar a tuberculose menos estigmatizada.
A doença cardíaca permanece a principal causa de morte em todo o mundo nos últimos 20 anos. No entanto, agora está matando mais pessoas do que nunca. O número de mortes por doenças cardíacas aumentou em mais de 2 milhões desde o ano 2000 para quase 9 milhões em 2019. Essa enfermidade agora representa 16% do total de mortes por todas as causas. Mais da metade dos 2 milhões de mortes adicionais ocorreram na região do Pacífico Ocidental da OMS. Por outro lado, a região europeia viu um declínio relativo na doença cardíaca, com mortes diminuindo em 15%.
A doença de Alzheimer e outras formas de demência estão entre as 10 principais causas de morte em todo o mundo, ocupando o terceiro lugar nas Américas e na Europa em 2019. As mulheres são afetadas desproporcionalmente: globalmente, 65% das mortes por Alzheimer e outras formas de demência ocorre entre mulheres.
As mortes por diabetes aumentaram 70% globalmente entre 2000 e 2019, com um aumento de 80% nas mortes entre homens. No Mediterrâneo Oriental, as mortes por diabetes mais do que dobraram e representam o maior aumento percentual de todas as regiões da OMS.
Brasil tem quase 1 milhão de casos de dengue em 2020 e 528 pessoas morreram de dengue, sendo que 77% dessas mortes (401) estavam concentradas em São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.
Pode-se concluir que a mudança da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias por doenças crônicas e as violências em outras regiões do Brasil. O processo de urbanização da cidade, associado às questões econômicas e ecológicas, contribuindo para a endemicidade da leshmaniose e da dengue e de outras doenças infecciosas.
A falta de um programa público efetivo para controle da tuberculose pulmonar permitiu que ocorresse um número cada vez maior de acometidos, além do seu deslocamento para indivíduos acima dos 50 anos
A expansão da epidemia de aids; e o aumento da incidência das pneumonias e septicemias nos indivíduos com mais de 50 anos.
*Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor