Nesta terça-feira (9), governador Ibaneis decretou estado de calamidade pública na área de saúde. Iges, que administra Unidades de Pronto Atendimento, atribuiu superlotação ao ‘alto volume de atendimentos durante plantão noturno’.
Profissionais de saúde do Distrito Federal denunciam a superlotação na rede pública diante da segunda onda de Covid-19 na capital. A TV Globo recebeu imagens de Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) lotadas, com pacientes deitados no chão e fila de ambulâncias na porta.
Um vídeo gravado na noite desta segunda-feira (8), na UPA de Samambaia, mostra pelo menos quatro ambulâncias aguardando na fila para transferência de pacientes. O funcionário que fez as imagens faz um alerta:
“Para quem não acredita em Covid-19, olha aí”, diz o servidor, enquanto mostra o cenário.
Em nota, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) – responsável pela gestão da unidade de saúde – confirmou que houve um “alto volume de atendimentos durante o plantão noturno desta segunda-feira (8)”, na UPA de Samambaia.
O comunicado diz ainda que a superlotação ocorreu apesar de a equipe estar completa “com todos os médicos escalados” (leia íntegra ao fim da reportagem). “No total, 221 pacientes foram atendidos de 8 a 9 de março, sendo 60 apenas na madrugada”, diz nota.
Nesta terça-feira (9), o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou estado de calamidade pública na área de saúde do Distrito Federal. A medida vale “enquanto perdurar os efeitos da pandemia do novo coronavírus”.
Longa espera
Uma paciente que esteve na unidade de Samambaia, na última quinta-feira (4), relata que passou quase duas horas na fila da triagem de atendimento. A mulher preferiu não se identificar.
“Por volta de 6h30 mais ou menos, a UPA de Samambaia estava muito, muito, muito cheia. Aí fui orientada a pegar a senha da clínica médica, porque a senha de problemas respiratórios não tinha pessoas pra atender. Então todos estavam passando pela triagem da clínica médica”, contou à reportagem.
“Demorou quase duas horas para sermos atendidos na triagem. Quarenta minutos que a gente estava esperando, fomos informados que só iam atender pessoas que estavam com casos de gripe, sintomas de gripe ou febre, coriza, essas coisas”, disse a paciente.
Falta de profissionais e de equipamentos
De acordo com uma profissional de saúde da UPA do Núcleo Bandeirante, que também preferiu não quis se identificar, todas as áreas da unidade estão com déficit de funcionários.
“São de 15 a 20 pacientes para um técnico, três enfermeiros para a UPA inteira, e dois médicos. Um na [ala] respiratória e outro fica atendendo. Eles têm que ficar revesando para cuidar dos pacientes que estão internados”, explica.
” É gente morrendo o tempo todo. Não tem oxigênio. Um desespero total.”
‘Cenário de guerra’
Outra funcionária da UPA do Núcleo Bandeirante, que também não quis se identificar, descreveu o atual momento na rede pública do DF como um “cenário de guerra”. “Está muito complicado de trabalhar. A gente não tem profissional. Falta capote para a gente trabalhar, não tem condição essa situação. Todos os funcionários estão esgotados”, afirma.
“Nós estamos no nosso limite, porque foram demitidos os contratos temporários bem no pico da segunda onda. Não recolocaram novos funcionários. Pacientes que ficam internados em outra ala, que não são Covid-19, acabam pegando [coronavírus] porque ficam muito tempo aguardando exame e um parecer médico.”
Estado de calamidade pública na saúde
O decreto que estabelece o estado de calamidade pública na saúde do DF foi publicada no Diário Oficial (DODF) desta terça-feira (9), um dia após o Executivo determinar “toque de recolher” na capital.
A medida cita o “risco iminente de superlotação das UTIs [Unidades de Terapia Intensiva] e unidades hospitalares na fase aguda da pandemia”.
O DF contabiliza, nesta terça-feira (9), na rede pública, 194 leitos de UTI com suporte de hemodiálise, que correspondem a 66% do total de leitos para Covid-19. Segundo a sala de situação da Secretaria de Saúde, pela manhã só havia um leito desse tipo disponível na capital.
De acordo com o balanço mais recente da pasta, divulgado nesta segunda-feira (8), o DF registra 4.979 óbitos pela doença, e os infectados somam 308.539. No mesmo dia, a rede pública de saúde alcançou a taxa de 100% de ocupação dos leitos de UTI reservados para casos da Covid-19. O índice mais atualizado é de 95% de lotação.
O que diz o Iges-DF
“O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) confirma que foi realizado alto volume de atendimentos durante o plantão noturno desta segunda-feira, 8 de março, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia, apesar de a equipe estar completa com todos os médicos escalados. E acrescenta que:
- Compareceram os quatro médicos escalados para o plantão, além da equipe de enfermagem e de laboratório.
- No plantão noturno, a equipe recebeu 60 pacientes, sendo 12 ocorrências do Samu 192 e Corpo de Bombeiros.
- No total, 221 pacientes foram atendidos de 8 a 9 de março, sendo 60 apenas na madrugada.
- Para tentar contornar a situação, a UPA está trabalhando para transferência de pacientes.
- Ressaltamos que a UPA de Samambaia segue rigorosamente os protocolos de atendimento e os pacientes são atendidos, conforme classificação.
O Iges-DF aproveita e pede para que a população siga as orientações para evitar a transmissão da Covid-19. Lave as mãos com água e sabão ou higienize com álcool em gel, use a máscara e mantenha o distanciamento social.” (G1DF)