Especialistas explicam que vacinas disponíveis no mundo hoje não tem função de impedir as contaminações, e sim evitar a hospitalização e aparição de casos graves da doença
Israel, Chile e Reino Unido são três nações que ostentaram o avanço na vacinação contra a Covid-19 no primeiro semestre de 2021, protagonizando a “derrubada” de máscaras e até mesmo a permissão de abraços. Na última semana, no entanto, voltaram a retomar medidas de precaução diante do aumento de novos casos da doença. Os números são tímidos em relação as milhares de ocorrências registradas no Brasil, mas já assustam e fazem muitos questionarem a efetividade dos imunizantes. Especialistas lembram que o aumento nas contaminações não significa que as vacinas são ineficazes, e sim que são um dos muitos aliados contra o novo coronavírus. Enquanto Israel — que chegou a ter média de 12 mortes diárias e hoje registra 227 óbitos em um dia — voltou a obrigar o uso de máscaras, o Reino Unido, com 47,9% da população imunizada, teve 16,7 mil novos casos em 24h, maior número desde fevereiro, e precisou adiar a reabertura total do comércio marcada para 21 de junho. O Chile, país mais vacinado da América do Sul, decretou lockdowns após uma explosão de casos em março e se prepara para um desconfinamento depois de registrar taxa de contaminação abaixo dos 10% e queda de 25% em novos casos.
Para o médico Luiz Gabriel Signorelli, não há um “fator único” para explicar o aumento dos casos nestes países. “Acredito que essa seja uma situação multifatorial. Um dos motivos pode ser a retirada precoce de outras medidas, como lavar as mãos ou usar máscara, alguns cuidados que a gente estava tendo, mas que alguns países estão deixando de ter. A vacina não é uma estratégia única de combate à Covid. É uma estratégia que tem que ser somada com outras”, explica. Ele reforça que o efeito das vacinas é benéfico e comprovado não só por pesquisas, mas também dentro do ambiente hospitalar, já que profissionais de saúde, os primeiros a serem imunizados no Brasil, têm adoecido menos após a vacinação contra o coronavírus. O tipo de imunizante aplicado nos países também pode trazer diferentes comportamentos de contaminações a longo prazo, mas todos os que tiveram aval de órgãos reguladores são eficazes, afirmam os especialistas.
No caso do Chile, que imunizou maior parte da população com a CoronaVac e tem 51,4% da população vacinada segundo dados do Our World In Data, o aumento de casos não é sinal de que as doses da fabricante chinesa não funcionam. “A CoronaVac é uma vacina que tem efeito mais efetivo em casos graves do que em contaminações. Então, para efeito de contaminação, ela tem proteção em torno de 33%. O que isso significa? Que as pessoas continuam pegando o vírus e, por não terem gravidade, elas continuam fazendo com que o vírus circule”, explica Signorelli. Isso, porém, não significa um maior número de mortes ou de internações. O Ministério da Saúde do país latino divulgou há pouco mais de uma semana dados sobre a eficácia do imunizante de tecnologia chinesa no país e mostrou que ele teve 90,3% de eficácia na prevenção contra internações; 86% de mortes; 87% de hospitalizações e 65,3% na prevenção de infecções sintomáticas contra a doença. De acordo com dados da Universidade John Hopkins desta quinta-feira, 24, o Chile teve uma média de 94 mortes pela Covid-19 nos últimos sete dias.
O médico membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime, explica que existe um mal entendido de qual é o real significado da vacina. “As vacinas, principalmente com o vírus inativado, como a CoronaVac, e as de vetor viral, como a de Oxford, têm como principal benefício a redução de pessoas que vão ter Covid grave ou que vão a óbito por causa da Covid. Elas não têm um impacto significativo na transmissão. Ou seja, as pessoas podem ter Covid leve. Por isso que em populações vacinadas você pode ver alta nos números. Nesse caso, o que realmente importa é a redução dos casos graves, dos óbitos. Isso são coisas que a gente está vendo”, esclarece.
Alguns dos países que adiaram a reabertura de espaços públicos ou voltaram a obrigar o uso de máscaras estão na “rota de passagem” de cepas mais graves da doença, como é o caso do Reino Unido, que teme a variante Delta Plus originada na Índia. Não há informações suficientes, porém, se elas são responsáveis pelo crescimento no número de casos. “A gente sabe que a variante P1, que é brasileira, é mais transmissível e a variante indiana é ainda mais transmissível do que a brasileira, mas a gente não sabe se isso afeta a eficácia das vacinas”, afirma. O médico aponta que estudos preliminares mostram que as vacinas adotadas no Brasil são eficazes contra a cepa P1, mas o comportamento dos imunizantes diante das novas infecções registradas na população mundial ainda é analisado. O ideal, segundo os dois especialistas, é continuar adotando todas as medidas de precaução, lavando as mãos, utilizando máscaras e mantendo o distanciamento social sempre que possível. (Joven Pan)