Autoridades de saúde relatam “mudança radical” na média de idade dos pacientes. Há hoje mais pacientes jovens que idosos precisando de tratamentos intensivos.
As autoridades de saúde chilenas relataram uma “mudança radical” na idade dos pacientes internados nas UTIs, observada na quinta-feira (8), com relação à primeira onda de coronavírus: os pacientes em reanimação com menos de 39 anos são agora mais numerosos do que aqueles com mais de 70.
Além de relatar um novo registro diário de infecções (8.195) e de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (3.044), o subsecretário de Redes de Saúde do Chile, Alfredo Dougnac, disse que a tendência de mudança de idade daqueles que hoje estão internados por Covid-19 foi consolidada.
“Há um declínio confirmado da presença de pacientes com mais de 70 anos de idade e uma estabilização de pacientes entre 60 e 70 anos nas UTIs”, disse Dougnac. “No entanto, o aumento crescente de grupos com menos de 59 anos é preocupante. Mesmo o grupo com menos de 39 anos ultrapassa o de mais de 70.”
Vacinação e variantes
Essa mudança seria explicada por vários fatores. Primeiro, pelo efeito da vacinação em massa, que o Chile começou em 3 de fevereiro, e que já atingiu 7,2 milhões de pessoas com pelo menos uma dose.
“Essa população com mais de 60 anos foi a primeira a ser vacinada, então a maioria dela atualmente tem as duas doses completas, ao contrário da população jovem”, explicou à RFI Rodrigo Cruz, infectologista do Hospital Carlos Van Buren, em Valparaíso, e médico da UTI do Hospital IST, em Viña del Mar.
Um primeiro estudo sobre a eficácia da vacinação, realizado pela Universidade do Chile, determinou para o uso combinado das vacinas Pfizer e Sinovac uma eficácia na prevenção de infecções de 56,5%, 14 dias após a aplicação da segunda dose.
Outro fator é o surgimento de novas variantes do vírus. “No Chile estão circulando variantes que conhecemos mundialmente, como as do Brasil e do Reino Unido, que têm maior transmissibilidade e, às vezes, mortalidade”, enfatizou Cruz.
Obesidade juvenil
Além disso, a população idosa é “a que mais segue as recomendações da autoridade sanitária, ou seja, não sai, não fica exposta à multidão, usa máscara, usa álcool gel, mantém o distanciamento social. É preciso lembrar que a população mais jovem é aquela que, no Chile, realiza festas clandestinas, encontros sociais, muitas vezes sem máscaras, sem o distanciamento social recomendado”, destaca o especialista.
Mas, de acordo com Cruz, há outro fator que explica a porcentagem de jovens que entram nas UTIs: “Um dos principais fatores é a obesidade – e hipertensão –, e quase 35%, 40% de nossa população jovem no Chile sofre da primeira doença. Este é também um fenômeno que estamos vendo na Unidade de Terapia Intensiva: a presença de jovens, mas principalmente com obesidade associada.”
O novo aumento das infecções levou as autoridades a imporem um lockdown em praticamente todo o país e a fecharem as fronteiras desde segunda-feira (5).
Por RFI*