Miguel Lucena
O Brasil é mesmo um país curioso. Quando se fala em cortar gastos, o recado é claro: corte dos outros, nunca dos meus.
Um empresário, conhecido como Rei do Ovo, bradou na televisão que o povo está viciado no Bolsa Família. Realmente, é um escândalo: pobre querer comer três vezes por dia, pagar um aluguel ou comprar um botijão de gás. Uma afronta à ordem econômica!
O curioso é que o próprio Rei do Ovo, entre 2007 e 2024, tomou 71 empréstimos no BNDES, somando R$ 132 milhões. Mas isso não é vício. É empreendedorismo.
Na boca dos comentaristas engravatados, “é urgente cortar gastos!”. Mas cortar de quem? Do povão, claro. Incentivos fiscais para empresas bilionárias? Intocáveis. Juros subsidiados pra magnata? Sagrado. Emendas secretas? Isso nem se discute.
No fim, sobra o exemplo de um governador da Bahia, que fez seu sacrifício: cortou o cafezinho da repartição. O país foi salvo.