Familiares também passaram a fazer o reconhecimento dos corpos por meio de fotografiasRafaela Felicciano/Reprodução
Responsável por periciar cadáveres, o Instituto de Medicina Legal (IML-DF) é mais um órgão do Governo do Distrito Federal (GDF) a ter funcionários infectados pelo novo coronavírus. Até agora, pelo menos dois médicos legistas testaram positivo para o Sars-Cov-2. A informação foi confirmada pela Associação Brasiliense de Medicina Legal (ABrML).
De acordo com o presidente da entidade, João Pitaluga, esses foram os primeiros casos confirmados, mas existem outros suspeitos. “É sinal de que o vírus chegou ao IML”, disse ele à coluna.
A notícia fez com que a categoria acendesse o sinal amarelo, já que há a possibilidade de aumento do contágio, especialmente pelo número de casos registrados nos presídios do Distrito Federal.
O sistema penitenciário registrava, na noite de quarta-feira (13/05), 652 infectados, entre detentos e policiais penais. Para se ter ideia, o IML lida, diariamente, com detentos, tanto os recém-ingressados quanto os que estão há mais tempo encarcerados.
“O número crescente de casos preocupa bastante, mas as medidas individuais e gerais de proteção têm sido reforçadas e cobradas. Isso é uma forma de minimizar os riscos, mas não de eliminá-los”, explicou Pitaluga.
Segundo o especialista, as características de vulnerabilidade nos presídios aumentam os riscos de contágio, já que há aglomeração de pessoas, pouca ventilação e, com isso, alta transmissibilidade do vírus.
Necropsias
Rotina dos servidores foi completamente alterada com a pandemia do novo coronavírus Rafaela Felicciano/Reprodução
Para evitar o aumento da contaminação, Pitaluga diz que o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) é fundamental, assim como manter a distância adequada durante os exames periciais. “Temos tido contato apenas quando necessário para a perícia, realizado necropsias sem abertura dos corpos e higienização constante das superfícies e das mãos com álcool”, emendou.
Também preocupada com as crescentes infecções, a Associação dos Técnicos em Necropsia do IML (Asten-DF) afirmou ter solicitado a testagem imediata dos 30 profissionais ativos que integram a categoria.
“A Policlínica da PCDF está fazendo esse levantamento para que possamos passar pelos exames. Mas ainda não há indicação de infecção por técnicos”, disse José Romildo Soares, presidente da entidade.
Conforme o Governo do Distrito Federal (GDF) informou, até a noite de quarta-feira, 282 profissionais que atuam na Segurança Pública local foram diagnosticados com o novo vírus. O número representa 15% do total de registros em toda a população brasiliense.
Já no caso dos profissionais da saúde, o Executivo informa que, atualmente, já são 339 servidores, o que representa 18,1% do total de diagnósticos.
PCDF adotou técnica de necropsia usada na tragédia de Brumadinho Rafaela Felicciano/Reprodução
Brumadinho
O IML aderiu a uma tecnologia de ponta para auxiliar os médicos legistas e peritos do órgão de Brasília durante a pandemia de coronavírus: a necropsia virtual.
Protocolos de manuseio de cadáveres do GDF e da própria associação recomendam que as autópsias não sejam realizadas em pessoas que morreram pelo novo coronavírus, independentemente desses casos serem classificados como investigados, prováveis ou confirmados.
Somente locais como Brasília, Minas Gerais e São Paulo podem concluir os trabalhos, por terem os equipamentos necessários para realizar o que chamam de “virtopsias”, ou autópsias virtuais.
Para a análise dos corpos que chegam ao instituto, houve incremento dos equipamentos de proteção individual utilizados pelos peritos. Além disso, todas as necropsias estão sendo realizadas por meio de inspeção externa do corpo e exame tomográfico, de modo que não é necessária a abertura do cadáver.
Metrópoles*