Calendário de entrega de vacinas está atrasado. Governo de São Paulo culpa ataques de Bolsonaro à China
Foto: Fábio Vieira/Metrópoles
São Paulo – Com o cronograma de entrega de vacinas atrasado, o Instituto Butantan só conseguirá fazer previsões sólidas sobre a distribuição da Coronavac a partir de dezembro. Essa é a expectativa do diretor do instituto, Dimas Covas. Ao Metrópoles, ele afirmou que essa é a data estimada para que os insumos do imunizante estejam em produção no Brasil na nova fábrica do instituto, que está em construção e deve ficar pronta em setembro.
Até lá, o instituto, ligado ao governo de São Paulo, dependerá do envio de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), que é produzido pelo laboratório chinês Sinovac, mas depende de aval do governo chinês para deixar o país.
Devido aos atrasos da entrega da matéria-prima, o Butantan não conseguiu concluir a entrega das 46 milhões de doses da vacina dentro do prazo, que encerrou em 30 de abril. O instituto tem capacidade de produção, mas não tem material suficiente para seguir o ritmo de 24 horas de trabalho, que foi adotado no início deste ano.
No período em que o IFA estava chegando com regularidade, o governador João Doria (PSDB) chegou a antecipar, de setembro para agosto, o prazo de entrega do contrato para o fornecimento de 54 milhões de doses da Coronavac , firmado com o Ministério da Saúde.
Caso os atuais entraves se perpetuem, esse cronograma também corre risco. O último carregamento de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), esperado para 24 de março, só chegou em 19 de abril.
Já o carregamento de 6 mil litros que estava previsto para chegar até o dia 10 de abril foi postergado e fracionado. O Butantan vai receber apenas 2 mil litros, e até o dia 13. O restante está com prazo em aberto.
De acordo com Covas, não são mudanças da produção da Sinovac, que informou que o quantitativo está pronto, mas determinadas pelas autoridades chinesas.
Para integrantes da gestão do governador João Doria, o principal responsável pelo atraso é o governo federal, que tem histórico de ataques à China, em especial o presidente Jair Bolsonaro.
Na quarta-feira (5/5), sem citar diretamente o país asiático, Bolsonaro sugeriu que a China criou o coronavírus para ter “guerra química”. “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou porque um ser humano ingeriu um animal inadequado”, disse.
Embora Doria tenha pedido recentemente ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para parar de falar mal da China, até esta quinta-feira (6/5) integrantes do governo paulista evitavam colocar a culpa do atraso diretamente nas relações internacionais.
O próprio gestor estadual pedia respeito ao governo federal, mas ressaltava que havia uma ótima relação com a China. Citava o fato de o estado ser o único do Brasil a ter um escritório no país asiático.
“As declarações desastrosas impactam na liberação dos insumos para produção das vacinas contra Covid-19 no Brasil. Lamentável”, disse o governador, nesta quinta.
Ao Metrópoles, Covas já havia negado que as rusgas com a China fossem diretamente um problema. Nesta quinta, no entanto, o discurso dele também mudou.
“Embora a embaixada da China no Brasil venha dizendo que não há esse tipo de problema, nossa sensação, de quem está na ponta, é que existe dificuldade, uma burocracia que está sendo mais lenta do que seria habitual, e com autorizações muito reduzidas de volumes. Então, obviamente essas declarações têm impacto, e nós ficamos à mercê dessa situação”, disse.
Questionado pelo Metrópoles sobre a dependência da China, Covas afirmou que o Brasil terá em breve a Butanvac, com produção 100% nacional. O governador João Doria também aposta suas fichas na vacina que tem a mesma tecnologia do imunizante da gripe.
Antes mesmo de o composto ter aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para testes em humanos, ele já anunciou que o instituto iniciou a produção da vacina.
O governador, que tem a vacina como sua principal bandeira política, tem pedido celeridade das autoridades sanitárias para aprovação da Butanvac. Apesar de atrasos na entrega dos documentos do imunizante, Doria espera iniciar o segundo semestre do ano com a expectativa de inclusão da Butanvac no Plano Nacional de Imunização.
Escassez
Enquanto o país enfrenta dificuldades na produção da Coronavac, municípios interrompem a aplicação da segunda dose por falta do imunizante. Um exemplo são cinco cidades do Rio de Janeiro, que, em menos de uma semana, precisaram interromper a vacinação contra a Covid-19 com a segunda dose do composto produzido em parceria com a Sinovac.
No caso de São Paulo, o cronograma de vacinação do mês de maio ainda está em aberto e comprometido. Não há definição sobre o início da imunização de pessoas com 59 anos. Além da escassez da Coronavac, também há atraso na entrega de doses da fórmula da AstraZeneca.
Do Metrópoles *