domingo, 15/06/25
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Copacabana Palace, 100 anos: hotel transformou um bairro recém-saído de um areal em um mar de prédios cosmopolita e luxuoso

Hotel, inicialmente construído para as celebrações do centenário da Independência, ficou pronto quase um ano depois. Erguida no meio de mansões e chalés, construção impulsionou outros prédios na região.

Imagem Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
Imagem Sthepanie Rodrigues/g1

O Copacabana Palace antes e agora — Foto 1: Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles — Foto 2: Sthepanie Rodrigues/g1

Rio de Janeiro, 1919.

Epitácio Pessoa — o presidente, não a avenida — tinha um plano: transformar Copacabana. 

Mas logo aquele areal ermo? Não fazia muito tempo, era uma viagem de um dia para chegar lá…! 

Àquela época, a então capital da República se expandia lentamente para oeste da Baía de Guanabara, e quem visse o Rio de Janeiro do Atlântico contava uma meia dúzia de casas

Faltavam 3 anos para o Centenário da Independência, e a ordem era criar quartos, muitos quartos, para a festa de 1922. 

Uma família já ligada à hotelaria recebeu uma encomenda. Em pouco mais de 30 meses, erguer um pouso de luxo num lugar pensado para virar a Riviera carioca

Assim começa a história do Copacabana Palace, que neste domingo (13) chega a 100 anos de vida. E o hotel realmente transformou o bairro e o projetou para o mundo.

Copacabana antes do Copa

Foto sem data de Augusto Malta registra uma Copacabana selvagem — Foto: Acervo Instituto Moreira Salles

Foto sem data de Augusto Malta registra uma Copacabana selvagem — Foto: Acervo Instituto Moreira Salles

No século 19, não havia túnel que ligasse o Centro e a então pequena Zona Sul a Copacabana — era preciso subir e descer morros, como o Tabajaras. Não à toa, todos os bairros banhados pelo Oceano Atlântico eram lugares inóspitos e pouco povoados. 

O Posto 6 era o ponto “mais movimentado”: na rocha onde hoje fica um forte ornava a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana

O templo era um local de peregrinação, mas, por conta da dificuldade de acesso, os fiéis demoravam mais de um dia para ir e retornar para casa. 

Imagem Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
O Posto 6 abrigou a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, que foi demolida, e hoje é o endereço do Forte de Copacabana — Foto 1: Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles — Foto 2: Sthepanie Rodrigues/g1 

Essa “lonjura” fez com que alguns pontos de comércio começassem a surgir. 

“As pessoas pernoitavam em volta da igreja. Tinha um movimento festivo. Pois às vezes as pessoas ficavam lá almoçando, jantando, dançando. E no começo, lá em 1904, 1905, 1906, por aí, foi surgindo um restaurante, que depois virou um cabaré. Isso tudo foi animando aquele cantinho da praia”, afirmou a arquiteta Claudia Grangeiro, do Instituto Pereira Passos. 

Cláudia é mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU-UFRJ) com o projeto “Praia de Copacabana: elementos urbanos na construção da paisagem cultural do Posto Seis”. 

A arquiteta lembra que só em 1892 abriram o Túnel Velho — aquele colado no Cemitério São João Batista e que dá nas ruas Siqueira Campos, Santa Clara e Figueiredo de Magalhães. A chegada dos bondes de tração animal passou a facilitar o acesso ao bairro. 

Imagem Augusto Malta/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
O Túnel Velho, uma das primeiras ligações expressas a Copacabana, ontem e hoje — Foto 1: Augusto Malta/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles — Foto 2: Sthepanie Rodrigues/g1

Orla de Copacabana em 1919 — Foto: Augusto Malta/Acervo Instituto Moreira Salles

Orla de Copacabana em 1919 — Foto: Augusto Malta/Acervo Instituto Moreira Salles


No ano de 1904, por ordem do prefeito Pereira Passos, é aberta uma via de serviço litorânea que se tornaria a Avenida Atlântica. 

“O fato de a Avenida Atlântica existir mudou completamente o bairro de Copacabana, e acho que isso influenciou muito outras cidades. Já havia sido construída a Avenida Beira-Mar, ali em Botafogo e Flamengo. Pereira Passos, na época, prefeito do Distrito Federal, o presidente era o Rodrigues Alves, estavam implementando essas melhorias na cidade. Decidiram abrir essa avenida litorânea. Até então as casas eram voltadas para a Avenida Copacabana, as casas e as chácaras de veraneio”, destacou a arquiteta. 

Imagem Rodrigues & C°. Editores e Proprietários/Acervo Instituto Moreira Salles
O Túnel Novo ontem e hoje: dos bondes ao trânsito pesado — Foto 1: Rodrigues & C°. Editores e Proprietários/Acervo Instituto Moreira Salles — Foto 2: Sthepanie Rodrigues/g1

A obra da Avenida Atlântica só terminaria em 1910. Mas antes do fim dela, o bairro começava a mudar. Em março de 1906, foi inaugurado o Túnel Novo (aquele entre a Princesa Isabel e o RioSul). E a partir de 1909 e até 1911, a região passou por obras de saneamento. 

Em 1919, com a Avenida Atlântica já duplicada e pavimentada, Epitácio Pessoa achou que era hora de Copacabana virar a Princesinha do Mar. 

Como o Copa foi construído

Theodor Preising registrou em 1922 o Copa se destacando numa inóspita Copacabana — Foto: Coleção Brascan Cem Anos no Brasil/Acervo Instituto Moreira Salles

Theodor Preising registrou em 1922 o Copa se destacando numa inóspita Copacabana — Foto: Coleção Brascan Cem Anos no Brasil/Acervo Instituto Moreira Salles 

A missão foi conferida aos Guinle. A família, até hoje sinônimo de glamour, já era proeminente no ramo hoteleiro. 

O empresário Octávio — quinto filho do casal Eduardo e Guilhermina Guinle — era o responsável pelo Palace Hotel, que ficava na então Avenida Central, atualmente Avenida Rio Branco. 

Coube a Octávio pilotar o plano de Epitácio, junto com o sócio Francisco Castro e Silva. Mas a ideia de um hotel de luxo em Copacabana não parecia financeiramente atraente — era um areal, lembram? 

O acordo só foi fechado com a promessa de permissão de instalação de um cassino no local. 

E se era para parecer com um hotel da Riviera Francesa, foi contratado para o projeto Joseph Gire, que havia desenhado vários deles. O arquiteto é o autor de outras obras no Rio, como o Hotel Glória e o edifício A Noite, primeiro arranha-céu da cidade. 

Hotel Glória, em 1928; à direita, Edifício A Noite, em 2021 — Foto: Augusto Malta/Acervo Instituto Moreira Salles; Stephanie Rodrigues/g1

Hotel Glória, em 1928; à direita, Edifício A Noite, em 2021 — Foto: Augusto Malta/Acervo Instituto Moreira Salles; Stephanie Rodrigues/g1 

Mais tarde, ele voltaria a trabalhar com a família Guinle, com o projeto do que hoje é o Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro.

O prazo era 1922, mas, enfrentando várias dificuldades na construção, o hotel abriu as portas somente no 13 de agosto de 1923, quase um ano depois do começo das celebrações do Centenário da Independência. 

Imagem Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
— Foto 1: Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles — Foto 2: Sthepanie Rodrigues/g1 

O hotel recebeu a visita do presidente da República, nessa época Artur Bernardes, na inauguração, que foi conduzida por Octávio Guinle. 

“O Sr. presidente da República percorreu todas as dependências do hotel, que é o maior da América do Sul, ora admirando a riqueza das decorações, ora examinando cuidadosamente os confortáveis móveis construídos no Rio de Janeiro e os luxuosos mobiliários importados da Suécia”, publicou o jornal O Paiz no dia 14 de agosto de 1923. 

Por que o hotel transformou Copacabana?

O Copa três anos após a inauguração — Foto: The Aircraft Operating Co. Ltd/Acervo Instituto Moreira Salles

O Copa três anos após a inauguração — Foto: The Aircraft Operating Co. Ltd/Acervo Instituto Moreira Salles 

Ao longo do tempo, os hóspedes famosos ajudaram a consolidar a reputação do lugar, que passou a ser um espaço de desejo. Por mais que o Rio de Janeiro contasse com outros hotéis de luxo, todos queriam estar com a realeza e as celebridades nos salões do Copa. 

“O Copacabana Palace consagrou o bairro no turismo internacional e de qualidade. Ele começou a ficar conhecido fora do Brasil a partir desse endereço. A pessoa poderia não só se hospedar, mas também assistir a grandes shows, apostar em cassino. Era um lugar de muito glamour, de muita elegância. E de cultura brasileira. A gente estava formando uma cultura brasileira”, afirmou Cláudia.

A arquiteta conta que o hotel chamou a atenção para a mudança no estilo de vida na região. 

“Em Copacabana havia uma série de mansões, palacetes, chalés. E cada um em um estilo diferente. Mas, a partir do Copacabana Palace, que era uma condição mais vertical, começaram a surgir os prédios, com apartamentos grandes, luxuosos, art-déco, a arquitetura moderna da época. Depois o modernismo se firmou em Copacabana”, ensinou a arquiteta. 

Fachada do Copacabana Palace, que completa 100 anos — Foto: Stephanie Rodrigues/g1

Fachada do Copacabana Palace, que completa 100 anos — Foto: Stephanie Rodrigues/g1 

Claudia destaca que Copacabana, ao longo de mais de um século de existência, é palco de uma efervescência e vitalidade com altos e baixos assim como o hotel. 

“Copacabana consegue se reinventar. E o Copacabana [Palace] é um exemplo disso. Já esteve decadente, já trocou de donos e continua um lugar de representatividade, de carioquice, de muito glamour ainda, apesar de muitos momentos que teve”, disse. 

Cláudia lembra que o hotel “é difícil de conservar”. “É um prédio antigo, tombado. Isso o torna um lugar que precisa de certas adaptações de vez em quando. Como edificação, como qualidade como hotel. Mas tem sido bem mantido e continua sendo um endereço de muito charme no Rio de Janeiro”, pontuou. 

Quantos quartos têm o Copa e quanto custa dormir lá?

Copacabana Palace completa 100 anos de existência — Foto: Stephanie Rodrigues/g1

Copacabana Palace completa 100 anos de existência — Foto: Stephanie Rodrigues/g1

O hotel tem 239 apartamentos e suítes em dois prédios: o principal e o anexo. 

As diárias, até a última atualização desta reportagem, custavam, por noite (sem taxas): 

  • Apartamento Superior Vista Cidade: R$ 2.200
  • Apartamento Superior Vista Lateral Mar: R$ 3.003
  • Apartamento Luxo Frente Mar: R$ 3.601
  • Suíte Vista Cidade: R$ 2.491
  • Suíte Piscina: R$ 3.501
  • Suíte Vista Mar: R$ 4.350
  • Suíte Luxo Frente Mar: R$ 6.302
  • Suíte Master: R$ 9.890
  • Suíte Cobertura Vista Mar: R$ 15.130
  • Suíte Cobertura Vista Parcial Mar: R$ 10.230
  • Suíte Copacabana: R$ 25.011

Há três restaurantes: Cipriani, MEE e Pérgula. Os dois primeiros são estrelados no Guia Michelin, um dos mais rigorosos do mundo. 

O complexo possui ainda 13 salões. Os maiores são o Nobre, com 355 m², e o Golden, com 311 m².

Por Cristina Boeckel, Eduardo Pierre e Stephanie Rodrigues, g1 Rio

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