Apesar de ter tido a assinatura de todos os 200 países-membros, alguns representantes anunciaram durante sessão plenária que esperavam um acordo mais definitivo sobre o financiamento para as nações mais pobres que já sentem as mudanças climáticas.
A 26ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP26, foi encerrada neste sábado (13) com um texto aprovado por seus quase 200 países-membros, após algumas suavizações nos termos do acordo e um pedido de mudança de última hora feito pela Índia. Pela primeira vez, o documento prevê a redução gradativa dos subsídios aos combustíveis fósseis e do uso do carvão. Mesmo após o encerramento do evento, o conteúdo está longe de ser uma unanimidade.
- Além dos trechos incluídos sobre os combustíveis fósseis, a COP26 finalizou o livro de regras do Acordo de Paris e os pontos que estavam em aberto, como o artigo 6º, que se refere ao mercado de carbono;
- Países se comprometeram com U$S 100 bilhões por ano até 2025 para financiar medidas para evitar o aumento da temperatura, mas, segundo ativistas e especialistas, o valor não está de fato na mesa;
- Países em desenvolvimento demonstraram descontentamento com os trechos a respeito do financiamento por parte dos países ricos das “perdas e danos” já sentidos devido às mudanças do clima. Isso, no entanto, não impediu a aprovação do documento.
Três rascunhos haviam sido divulgados no decorrer dos últimos dias, sendo o último na manhã deste sábado. O segundo deles suavizou as expectativas relacionadas aos combustíveis fósseis: antes, se falava em acelerar “a eliminação do carvão e dos subsídios aos combustíveis fósseis”; depois, o documento passou a prever “a eliminação progressiva do uso sem restrições” do carvão e dos “subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis”. Por último, na versão final, a Índia pediu de última hora para trocar o termo “eliminação” por “redução” do uso do carvão.
“A economia real está dando saltos rumo à descarbonização, enquanto a diplomacia climática evolui lentamente. Mas o pacote de Glasgow ecoa, ao menos em parte, o que está acontecendo no mundo real: a transição do carvão para [combustíveis de fontes] renováveis, o reconhecimento de que o metano precisa ser controlado e também o imperativo de apoiar os países mais vulneráveis”, avaliou presidente da Talanoa e membro do Painel de Acreditação do Green Climate Fund.
Seve Paeniu, ministro de Tuvalu, mostra fotos de seus netos na COP26 — Foto: Phil Noble/Reuters
Apesar da assinatura de todos os países-membros, alguns discursos criticaram as questões de “perdas e danos”. Países já afetados pelas mudanças climáticas, como Ilhas Marshall, Tuvalu e África do Sul, defenderam o financiamento de países ricos pelos problemas causados pelas emissões de carbono. Os maiores responsáveis pelo aquecimento do planeta são Estados Unidos, China, União Europeia, Rússia, Índia e Brasil.
A representante das Ilhas Marshall disse aos negociadores que o texto “não é isento de falhas”, mas que “constitui um progresso real”. Seve Paeniu, ministro de Tuvalu, mostrou fotos dos netos, clamando por medidas para as gerações futuras. Os comentários demonstraram uma certa decepção com a conferência, mas o grupo acabou por assinar o documento, incluindo o G77, a coalização dos países em desenvolvimento.
“Eles vão sair aqui de Glasgow com um gosto muito amargo na boca. Todo mundo cedeu para ter um acordo, porque as mudanças climáticas fazem necessário o fechamento das regras do Acordo de Paris, mas é um texto que não está realmente conversando com a urgência do assunto. A gente não tem na mesa esforços suficientes”, avaliou Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima.