Mensagens no aplicativo de WhatsApp atribuídas a Marcus Thiago de Oliveira Figueiredo, coordenador-geral de Tecnologia de Informação do órgão público, revela possíveis investidas contra uma secretária a partir de agosto de 2019, apenas dois meses após o gestor tomar posse no cargo público.
Os diálogos que integram um processo administrativo interno vieram à tona somente agora.
As conversas foram obtidas com exclusividade pelo Metrópoles e escancaram a mesma metodologia já reconhecida nesses tipos de crime: a estratégia de recorrer à importância da função para coagir a vítima a devolver, por meio de favores sexuais, uma possível ascensão no local de trabalho.
De acordo com o Diário Oficial da União (DOU), Marcus Thiago foi nomeado para o cargo no dia 17 de junho de 2019 para receber um salário bruto mensal de R$ R$ 10.373,30.
A reportagem teve acesso à troca de mensagens que integra um longo relatório que tramita no Conselho de Ética da instituição. Os diálogos perduraram por pelo menos um mês e, embora a postura da estudante demonstre distanciamento dos desejos carnais do chefe, a investida tem uma escalada obscena. A coluna preservou a identidade da vítima por decisão editorial.
“Vem aqui para a gente despachar, minha princesinha. Terminou? Vou ficar mal acostumado. Acho que esse mal costume é bom, hein. Estou sentindo o seu cheirinho aqui, acredita?”, teria ele iniciado a conversa num dos momentos mais suaves do diálogo.
“Quando chegar, venha dar um cheiro na minha sala. Assim, me apaixono ainda mais por essa princesinha. Quando o coronel sair, venha aqui por favor”, teria insistido o gestor antes da confirmação monossilábica da auxiliar.
Em outro trecho, é possível identificar uma aparente sinalização de benesse no caso de a empreitada funcionar. “Já consegui sua vaga, viu? Quer conversar amanhã ou quer conversar hoje? Quer comer algo?”. Na resposta, a secretária recua do convite por mencionar uma festa de aniversário naquela noite.
Em outros momentos, fora do horário de expediente, a mensagem atribuída ao coordenador-geral de Informática da Embratur também aparenta que ele estaria determinado a manter uma relação amorosa com a universitária. “Se amanhã quiser dormir comigo, venha porque te darei muito carinho e não sexo”, teria insinuado. Depois, ele vai além: “Agora, que vou te dar muitos beijinhos, isso eu vou”.
Nas mensagens seguintes, a universitária parece demonstrar desconforto com a situação e diz que as investidas do chefe não seriam apropriadas. “Não apropriado pelo local ou por não ser consentido?”, provocaria Thiago antes de receber a resposta: “Pelo local, por você ser casado e eu, compromissada”, teria dito a estudante. Com sinais de risos, o perfil atribuído a Marcus Thiago recua e diz que tudo se trataria apenas de uma “brincadeira”.
Durante inúmeros momentos da conversa, o incômodo da estudante com as mensagens do possível superior hierárquico é constrangedor. “Você sente tesão em mim?”, teria questionado o chefe. “Thiago, sinceramente, não. Te vejo como amigo. Nunca olhei você com esses olhos”, despista a secretária.
Em outro momento, o perfil mira novamente: “Vamos ser claros? Minha intenção para você é sexo?”, continua. A secretária confirma: “Estou interpretando mal? Se estiver, me desculpa”, reage. “Vou ser bem claro, tá? Você me desperta desejo, sim”, confessa.
No decorrer desse enredo, os capítulos protagonizados pelo perfil com a foto do coordenador-geral de Informática da Embratur passam a ter um conteúdo ainda mais erótico.
“Tive um sonho contigo que acordei achando que era real”, iniciou. Quando a moça pede para saber o conteúdo, o perfil atribuído ao gestor continua: “Foi gostoso”. Após um aparente desprezo pela história, o interlocutor insiste: “Depois que eu tinha muitos orgasmos, eu te chupava todinha e você gozava muito na minha língua. E você pedia muita coisa. Gostou? Ficou excitada?”, registra trecho do diálogo.
Durante a análise do material que tramita na comissão disciplinar da Embratur, é possível identificar uma postura de distanciamento adotado pela auxiliar administrativo. Por vários momentos, ela diz ser comprometida, relata a preocupação com os rumos da conversa e sinaliza desconforto com as investidas de mensagens de cunho sexual.
O que dizem os envolvidos?
A coluna procurou todos os mencionados no suposto episódio de assédio sexual. Por telefone, a então contratada da agência pública afirmou que não comentaria absolutamente nada acerca do caso. Da mesma forma acionado, o coordenador-geral não atendeu as ligações realizadas durante a tarde e a noite dessa quinta- feira (13/8).
Já o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, decidiu atender as ligações da reportagem e, ao tomar conhecimento do teor, disse já ter tomado providências sobre o episódio.
“Soube desse lamentável episódio apenas na semana passada e foi aberta uma sindicância interna para apurar os fatos. Assim que tomei conhecimento dessa situação, determinei o imediato afastamento desse rapaz até que o caso seja elucidado”, disse à coluna.
Segundo o pernambucano, várias oitivas têm sido realizadas dentro da agência com o objetivo de colher depoimentos sobre a conduta do conterrâneo. Não há previsão para o Conselho de Ética da instituição apresentar o resultado da auditoria.
Assessoria de imprensa da instituição enviou nota à reportagem. Afirmou que a agência é dotada de uma ouvidoria interna, de uma Gerência de Recursos Humanos e de uma Gerência Jurídica. “Quaisquer processos internos que exijam apuração sobre condutas de colaboradores são realizados sob sigilo, com prazos também sigilosos, conforme legislação vigente”, diz o comunicado.
*Fonte: Metrópoles