Este ano, chamas destruíram 17,28 mil hectares, área maior que Santa Maria. Moradores de Brasília contam ao g1 os perigos e satisfações da profissão.
Entre janeiro e setembro de 2021, incêndios florestais no Distrito Federal destruíram 17,28 mil hectares, área maior do que a região de Santa Maria (veja detalhes abaixo). Em meio ao perigo, algumas pessoas arriscam a vida no combate às chamas.
Aos 45 anos, o brigadista Rodrigo Amaral é um dos que trabalham dobrado na época de estiagem. Pego pelo “vício do fogo”, como ele mesmo define, Rodrigo contou a g1 que assumiu o papel de preservar a natureza porque tem um “compromisso com a população”.
O brigadista tem contrato com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mas também atua de forma voluntária. Ele é membro do Grupo Ambientalista do Torto (GAT), uma Organização Não Governamental (ONG) que reúne 37 voluntários que prezam pela preservação não apenas do Cerrado, mas de todos os biomas.
A paixão pela profissão surgiu em 2015. “Moro em uma área próxima ao Parque Nacional de Brasília, na Granja do Torto. Uns amigos começaram a combater o fogo e decidi ir junto”, conta Rodrigo que acabou se especializando na área.
” Acabamos trabalhando em vários parques, no Brasil inteiro. É gratificante poder ajudar a preservar essas áreas”, diz ele.
Riscos
O brigadista conta que, para assumir a profissão, é necessário passar por treinamentos e decidir sobre especializações. “Tem gente que opera motosserra, dirige caminhão pipa. O ideal é chegar a um nível bom e trabalhar com o máximo de segurança, mas não deixa de ser algo perigoso”, relata.
De acordo com o Rodrigo, nas ocorrências, o ideal é sempre estabelecer uma rota de fuga e analisar alguns quesitos, como velocidade do vento, tipo de relevo e umidade relativa do ar.
“Não entramos em combate para colocar a equipe em risco. Porém, susto a gente toma em todas ocorrências”, diz.
‘Serviço que traz satisfação’
Morador do Lago Oeste, Walmir de Araújo Silva, de 49 anos, trabalha como brigadista florestal há 9 anos.
“Na minha primeira missão, fomos cercados pelo fogo. Tivemos que fugir para um lago pra conseguir sobreviver. É uma profissão perigosa, mas o serviço traz satisfação”, diz Walmir.
Ele conta que já trabalhou no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e hoje presta serviço ao ICMBio.
“Tenho outras fontes de renda, mas me apaixonei pela preservação. Hoje, inclusive, faço plantações para ajudar no reflorestamento”, aponta. O brigadista explica que o ideal é estar com “o psicológico preparado”.
“Não podemos querer ser heróis e trabalhar sem cuidado. É um serviço sério.”
Incêndios no DF e estiagem
Dados do Corpo de Bombeiros mostram que os incêndios florestais destruíram 17,28 mil hectares entre janeiro e setembro de 2021, no Distrito Federal. A área é maior que a região de Santa Maria, por exemplo, que tem 13,1 mil hectares.
Em comparação com igual período do ano passado, o total da área queimada teve redução de 8%. Nos primeiros nove meses de 2020, 18.78 mil hectares foram destruídos.
Em relação ao total de chamados à corporação, também houve redução. No ano passado, foram 6.681 registros e, este ano, o número passou para 4.441, uma queda de 33%.https://559b6e2e5b7cffdb6934048270aacd26.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Durante o período de estiagem, os incêndios florestais costumam se intensificar. Entretanto, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a chuva deve ganhar força a partir da próxima semana, prevê o meteorologista Mamedes Luiz Melo.
“No domingo (9), o DF começa a ter uma condição melhor de chuvas. Com isso, a tendência é de que as queimadas comecem a diminuir, além de haver melhora na qualidade do ar”, diz Mamedes.
Este ano, a capital ficou 75 dias sem chuva. Nas últimas semanas, precipitações em áreas isoladas foram registradas na capital.