
Miguel Lucena
Conheci em Princesa um cidadão que se dizia valente. Por qualquer besteira no forró, ameaçava puxar a faca e furar o fole, caqueava-se todo como se fosse sacar um revólver da cintura, mas a turma do deixa-disso logo acalmava o valentão de ocasião. Era mais garganta que coragem.
Um dia, porém, ninguém o segurou. A roda abriu, o povo esperou o espetáculo, e ele, em vez de agir, ficou apalpando a cintura e gritando: “Me segura, senão eu mato um!” — mas não havia ninguém pra segurar, nem coragem pra matar.
A política anda cheia desses cabras. Falam grosso, prometem revoluções, juram acabar com a corrupção, prender corruptos, varrer o país com sua valentia moral. No fim, ficam só apalpando a retórica, pedindo que os segurem. Não querem mudar nada: querem é o palco e os aplausos.
E o povo, como no forró, às vezes acredita que dessa vez a faca vai sair do bornal. Mas o máximo que sai é a língua solta do valentão.