Suspeito de assassinar o influenciador digital Glau Duarte tinha marcado um encontro com ele por uma dessas ferramentas
São Paulo – Desde setembro, ao menos 15 pessoas foram presas no estado de São Paulo por aplicarem golpes em vítimas encontradas em aplicativos de relacionamento.
Os crimes envolvem roubo, extorsão, sequestro, tortura, estupro e até mesmo o assassinato de duas pessoas. Entre os presos, aparecem suspeitos de formação de quadrilha que aplicaram diversos golpes.
“O aplicativo só se tornou um novo meio para a violência que já existe. Eu tenho uma comunidade enorme e recebo praticamente todos os dias relatos de violência”, disse o criador de conteúdo Marcio Rolim. Entre as vítimas, está o influenciador digital Glau Duarte.
Marcio é o Bee40tona nas redes sociais YouTube, Instagram e TikTok. O influenciador digital fala sobre questões LGBTQIA+ para um público de 120 mil seguidores.
“As pessoas sofrem assédio, violência, assaltos, chantagens e vêm me contar, mas a maioria não quer ser exposta”, contou Márcio. As vítimas temem ser, injustamente, culpadas e julgadas pelas violências que sofreram.
A fundadora do canal Soltos no YouTube e da escola de educação efetiva Confraria do Amor, Carol Tikian, afirmou que também acolhe vítimas com vergonha de assumirem que caíram em golpes. Seu público é formado por 283 mil seguidores, majoritariamente mulheres com mais de 35 anos.
Estelionato emocional
Como o público do Soltos é diferente do Bee40tona, os relatos também são distintos. As denúncias que Carol recebe consistem em estelionato emocional, ou seja, criminosos que usam manipulação psicológica para tirar vantagens financeiras.
“Mais recorrente do que te obrigarem a fazer um Pix à força, sob ameaça, é o cara que vai pedir um Pix todo mês e a vítima fará por achar que está construindo uma relação”, disse a criadora de conteúdo.
O estelionato emocional é o crime que foi cometido pelo “golpista do Tinder”:
Aplicativos
Marcio também foi gerente de conteúdo do aplicativo Hornet, de 2017 a 2021. A plataforma de encontros e rede social reúne mais de 1,5 milhão de usuários no Brasil do público LGBTQIA+.
“A violência dentro dos aplicativos cresce cada vez mais e infelizmente nós não temos nenhuma política corporativa que barre esse tipo de evento”, afirmou Rolim.
A reportagem do Metrópoles questionou os aplicativos Hornet, Tinder, Happn, Scruff, Ok Cupid, Bumble e Her a respeito de estatísticas de denúncias de violências e medidas para prevenir esses casos.
Apenas Tinder e Happn responderam. As duas plataformas afirmaram que possuem canais para denúncias, têm tolerância zero e removem perfis denunciados.
Relembre casos em São Paulo
Tortura
Um funcionário público, de 35 anos, foi sequestrado e torturado após cair em um golpe num aplicativo de namoro, na zona oeste de São Paulo, em 8/3.
Após marcar um encontro com uma mulher, o homem foi surpreendido por quatro criminosos em um Golf cinza, no bairro Butantã, que o levaram ao cativeiro onde foi agredido física e psicologicamente por quase 24 horas.
Durante o sequestro, os criminosos exigiram a entrega dos cartões e das senhas da vítima para que fossem feitos saques que somaram R$ 66 mil.
O funcionário público acabou libertado pela Polícia Militar e um suspeito de extorsão foi preso em flagrante na Rua Sebastião Gonçalves, na Vila Albano.
Assassinato de influenciador
Em 9/2, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo divulgou que, de acordo com investigações da Polícia Civil, um dos envolvidos no assassinato do influenciador digital Glau Duarte marcou um encontro com ele por meio de um aplicativo de relacionamento.
Câmeras de segurança de um condomínio em Ubatuba flagraram o suspeito e um comparsa deixando objetos que eram do rapaz em uma calçada.
O suspeito de 26 anos foi preso em 7/2 no bairro Imaculada Conceição, em Taubaté, onde também foram apreendidos dois celulares e quatro pen drives.
Após ser confrontado com as provas da investigação, o homem confessou a participação no crime, mas alegou que as agressões foram cometidas por um comparsa.
“A polícia trabalha com a existência de dois autores e para nós, por ora, o crime é de latrocínio”, afirmou na época o delegado Ricardo Mamede Chelou Martins.
Quadrilha de sete pessoas
Um professor de 48 anos foi vítima de um golpe de aplicativo de relacionamento em 21/2, após percorrer 30 quilômetros de Cotia (SP) até um suposto encontro no Jardim Elisa Maria, região da Vila Brasilândia, em São Paulo.
O homem acabou se tornando refém de uma quadrilha formada por quatro homens (dois de 21 anos, um de 22 e outro de 23) e três mulheres (duas de 19 anos e uma de 18).Os criminosos fizeram empréstimos no valor de R$ 25 mil e saques que somaram R$ 7 mil, totalizando R$ 32 mil, mas acabaram presos.
Sequestro e extorsão
Em 31/1, um homem marcou um encontro com uma mulher por meio de um aplicativo, mas ao chegar ao endereço no bairro Vila Adalgiza, em Osasco, foi surpreendido por um carro com três criminosos armados.
O homem acabou amarrado, vendado, encapuzado e foi obrigado a fazer transferências bancárias no valor de R$ 7 mil. A vítima também teve relógio, cartões e documentos roubados.
A Polícia Militar libertou o homem na região no Rio Pequeno, zona oeste da capital, e prendeu três homens e uma mulher flagrados praticando extorsão mediante sequestro.
Assassinato
Alex Kim Shin, 31 anos, foi morto com um tiro na cabeça em 16/1, no bairro Brasilândia, após ser vítima do golpe do falso encontro marcado com uma mulher por um aplicativo de relacionamento.
Após ser atingido, o comerciante perdeu o controle do Jeep Renegade que dirigia e bateu o carro em frente a um mercadinho. Alex chegou a ser socorrido e levado para o Hospital do Mandaqui, onde foi operado, mas acabou morrendo.
Uma testemunha afirmou para a polícia que o homem teria ido ao local para se encontrar com uma pessoa que conheceu por meio de um aplicativo de relacionamento.
Sequestro de estrangeiro
Em 15/1, dois homens e duas mulheres foram presos também por cometerem extorsão e sequestro na região de Parada de Taipas, na zona norte de São Paulo.
Uma das vítimas da quadrilha que agia em aplicativos de relacionamento foi um homem estrangeiro. Ele se dirigiu a um suposto encontro em 18/11/21 e acabou virando refém.
O grupo exigiu de um amigo do homem o pagamento de R$ 250 mil como resgate e o libertou dois dias depois ao receber R$ 2 mil.
Vítimas mulheres
Em setembro de 2021, um homem de 41 anos foi preso no Brás, na zona leste da capital, após usar aplicativos de relacionamento para violentar e roubar mulheres com mais de 50 anos.
Umas das vítimas, de 68 anos, foi encontrada desacordada e com sinais de violência em sua própria casa no Grajaú, na zona sul. Após ser dopada pelo homem, ela ficou 20 horas inconsciente. A mulher teve celular e objetos de valor roubados de sua residência.
Além de possuir documento falso, o criminoso fazia vítimas usando medicamento ansiolítico, faca, corda e vaselina.
Cuidado ao marcar encontros por aplicativo
O principal fator apontado como um risco ao usar os aplicativos de relacionamento é a vulnerabilidade emocional. Isso vale para todas as pessoas, independentemente do gênero, mas pode ser mais grave para alguns grupos.
“Os criminosos se aproveitam de homens que estão em situação de vulnerabilidade, carência afetiva, abandono parental, de amigos”, disse o criador do canal Bee40tona.
No vídeo a seguir, Marcio Rolim relatou uma agressão que sofreu em um encontro marcado por aplicativo de relacionamento e deu dicas para tentar se proteger:
Principais dicas de segurança dos influenciadores e dos apps Tinder e Happn
Evitar usar o aplicativo se estiver em situações de vulnerabilidade;
Prefira dar match com perfis verificados;
Marcar os encontros em locais públicos;
Conversar antes de encontrar pessoalmente, trocar redes sociais e verificar se as fotos que estão no aplicativo são compatíveis com a rotina da pessoa;
Avisar um amigo sobre o horário e endereço do encontro;
Tomar cuidado e observar a origem de bebidas. (Metrópoles)