Pacientes com câncer que precisam de tratamento de radioterapia têm de esperar até 120 dias para iniciar as sessões por causa da falta de equipamentos na rede pública de saúde doDistrito Federal. Um dos três equipamentos de radioterapia da rede está quebrado desde abril.
egundo a Secretaria de Saúde, por causa do problema, a fila para radioterapia tinha 540 pacientes nesta segunda-feira (7). No início de junho, 400 pessoas aguardavam o início do tratamento.
A radioterapia na rede pública atualmente é realizada com uma máquina no Hospital de Base e outra no Hospital Universitário deBrasília (HUB), que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O segundo equipamento do Base é o que está quebrado há três meses.
De acordo com a secretaria, o processo de licitação para manutenção da máquina de cobalto está em fase final. O DF tinha convênios com os hospitais particulares Anchieta e Santa Lúcia para a realização do tratamento, mas os contratos foram cancelados. Até a última atualização desta reportagem, a pasta não informou o motivo do rompimento dos contratos.
Servidores relataram que os dois equipamentos restantes estão em más condições de uso. Eles afirmam que as máquinas são ultrapassadas. Um radioterapeuta que preferiu não se identificar trabalhava no Hospital de Base e pediu exoneração do cargo por causa das condições de trabalho na unidade.
“As máquinas vivem quebrando, a tecnologia usada é muito ultrapassada, muito arcaica. Eles têm uma bomba de cobalto que em lugar nenhum do mundo é utilizada mais. A técnica de tratamento é muito ultrapassada, os efeitos colaterais e a toxidade do tratamento são muito maiores e a eficiência é muito menor.”
Ele explicou que há casos de câncer em que o paciente não pode esperar para o início do tratamento de radioterapia. De acordo com o radioterapeuta, pessoas com cânceres menos invasivos podem aguardar até três meses para começar uma radioterapia, mas que ficam mais agressivos com interrupções no tratamento.
“A gente vê paciente se tratando naquelas condições, com efeitos colaterais que poderiam ser evitados, as máquinas param e o governo não se manifesta. Radioterapia é um tratamento que deve ser contínuo e não dá para o paciente ficar nessas interrupções que acontecem.”
De acordo com a secretaria, há previsão de compra de dois novos aparelhos de radioterapia para 2017. Em 2018, o GDF espera inaugurar o Hospital do Câncer, que, segundo a pasta, contará com mais dois equipamentos de radioterapia, cirurgias oncológicas e quimioterapia para 2,5 mil pacientes por ano. As medidas apresentadas são previsões a longo prazo, que não alteram a atual situação de pacientes que aguardam uma vaga para tratamento.
A aposentada Maria da Silva, de 68 anos, foi dignosticada com câncer de mama em dezembro do ano passado. Após passar por duas cirurgias no Hospital Regional de Ceilândia, a aposentada foi liberada da mastologia e em 22 de maio o médico solicitou o início da radioterapia. Desde então, Maria aguarda ser chamada para começar o tratamento.
Questionamos a Secretaria de Saúde sobre a situação de Maria na lista de espera. A pasta solicitou que fosse repassada a data de nascimento da paciente para que fosse checada a informação. Depois, a secretaria afirmou que precisaria do número do cartão do SUS, do número da solicitação do procedimento ou do nome completo da mãe da paciente para repassar as informação à reportagem.
O filho de Maria, o servidor público Carlos Silva contou que os próprios médicos recomendaram que ele procurasse a Justiça ou então hospitais particulares para realizar o tratamento porque não há previsão para que a aposentada seja atendida. Um tratamento de radioterapia na rede privada custa por volta de R$ 12 mil.
“Todos os pacientes que necessitam desse tratamento e que não têm como pagar estão sem assistência. São muitas pessoas, são vidas que estão sendo perdidas, porque é um tratamento crucial para dar fim ao câncer”, afirmou.
Ele disse que desembolsou cerca de R$ 1 mil com exames particulares realizados pela mãe durante o tratamento. Se não conseguir a radioterapia na rede pública, o servidor público pretente recorrer a empréstimos bancários.
“Quem precisa hoje não tem para onde correr. Você imagina, um tratamento de câncer, uma situação tão grave, o tempo é crucial, não se pode aguardar tanto.”
G1