(foto: Reprodução/Facebook – IOC/Fiocruz – Reprodução/Facebook – Apu Gomes / AFP)
Nem minorar a necessidade de atenção à situação pandêmica da Covid-19 nem entrar em desespero a ponto de não contribuir para o enfrentamento. O combate eficaz e a redução dos danos estão nas mãos de autoridades governamentais, entidades representativas da saúde internacional, grupos de pesquisa, cientistas e especialistas e, não menos importante, da população.
Para diminuir o número de infecções, é essencial seguir recomendações que são atualizadas diariamente pelos governos locais, seguindo as orientações nacionais, como cobrir a boca ao tossir e espirrar no cotovelo e manter as mãos sempre higienizadas. Ficar atento às informações por meio de veículos oficiais e de credibilidade é essencial porque “estamos enfrentando não só um agente viral, mas também uma avalanche de notícias que nem sempre são verdadeiras”, alerta a virologista Marilda Siqueira, chefe de laboratório de vírus respiratórios da Fiocruz. Ela e outros especialistas contribuem nesta reportagem com avaliações e projeções neste cenário de pandemia.
» O que dizem os especialistas ?
Jonas Brant, médico veterinário — Especialista em epidemiologia e saúde coletiva
Atuação do governo federal
Um fato bastante relevante é a mobilização do Brasil. O ministro da Saúde tem ido a público se manifestar, o ministério tem feito coletivas diárias onde atualiza o Brasil e toda população sobre quais ações devem ser desenvolvidas. Também está se reunindo com o Congresso, coordenando os esforços. Então, acho que há uma mobilização intensa do governo brasileiro, principalmente do setor de saúde e de vigilância. Tudo isso é importante que a gente fortaleça essa organização, para evitar fake news, pânico e para que a sociedade consiga enfrentar isso de maneira coesa. No entanto, é importante destacar que realmente a situação é bem complicada. Será um desafio muito grande que a nossa sociedade enfrentará. Não acho que a gente deva minimizar preocupações e cuidados, porque temos impactos diretos e indiretos da doença, como no cenário econômico de suspensão de atividades em algumas cidades. O ponto chave nesse momento é se preocupar com idosos e pessoas que possuem diabetes, hipertensão, insuficiência renal e entre outras. São as mais vulneráveis ao novo coronavírus.
Marilda Siqueira, virologista — Chefe de laboratório de vírus respiratórios da Fiocruz
Vacinação
Não se tem ainda uma vacina e provavelmente a gente não terá em menos de um ano. A OMS identificou ao menos 20 empresas trabalhando nesse projeto, mas, mesmo que tenham desenvolvido ou detectado proteínas virais ou feito algum vírus recombinante, até chegar à população, demora. Uma coisa é identificar, outra, é injetar no braço de alguém. Existe todo um protocolo já estabelecido nacionalmente e internacionalmente de estudos clínicos de diversas fases, então não teremos vacina tão cedo. A imunização de influenza não protege contra o coronavírus, mas é importante que os grupos contemplados se vacinem, porque é uma infecção
a menos. Ela é uma dose que precisa ser tomada anualmente até porque as cepas mudam.
Manuel Renato Retamozo Palácios, infectologista — Mestre em medicina tropical
Cenário futuro
O que se espera para as próximas três semanas é um aumento gradativo de casos confirmados do novo coronavírus. Isso já foi demonstrado por estudos estatísticos realizados. Em relação aos casos positivos, eles podem ser leves, moderados e, também, graves. Logo, isso não precisa ser motivo para entrar em pânico. Simplesmente é o que se espera pelo modelo matemático aplicado. Pode ser que exista alguma peculiaridade no Brasil que faz com que a curva adote alguma algum tipo de progressão diferente. Lembramos que o Brasil é um país tropical. Estamos na época em que termina o verão e começa o outono. Então, você pode trazer uma variação esperada para as próximas semanas quando se fala em número de casos.
Nísia Trindade, socióloga — Presidente da Fiocruz
O que podemos aprender com o coronavírus?
Essa questão do medo faz parte da história das epidemias na saúde. Não é um fenômeno novo, mas, hoje, se dá em um outro contexto de globalização e das relações. Então, a complexidade é maior. É importante a gente aprender com essas experiências e trabalhar a epidemia do medo, que é outra epidemia que se forma. Lidar com emergência sanitária e novas viroses respiratórias será uma constante para o mundo. Na Fiocruz, nós temos instituído uma coordenação de vigilância em saúde já atenta a esse progressivo quadro no mundo.
Patricya Tavares, médica — Especialista em Longevidade Saudável
Mudança de hábitos
O Brasil vem se preparando para a chegada do vírus ao nosso país e vem adotando as medidas necessárias para tentar conter ao máximo a progressão do vírus. Essa pandemia do novo coronavírus vem nos ensinar que devemos sempre cuidar da nossa saúde como um todo (boa alimentação, atividade física, um sono adequado, controle de doenças prévias) para que se for contaminado por esse ou qualquer outro vírus o paciente consiga evoluir de forma leve. A situação veio lembrar também que temos uma responsabilidade comunitária para evitar a disseminação.
Eliana Bicudo, médica infectologista — Coordenadora de infectologia da Secretaria de Saúde do DF
Sobre medidas de proteção
Nós precisamos nos manter calmos e garantir a higienização dos ambientes e das nossas mãos. Não há necessidade de usar máscaras como proteção. As pessoas que estão com sintomas de doenças respiratórias é que precisam usar máscaras para proteger o próximo. Isso é super importante. Naqueles ambientes públicos em que a gente duvidar que houve uma higienização, que a gente faça a nossa higienização. Após abrir portas de banheiros públicos, higienizar as mãos. Ao andar em ônibus, tentar manter as janelas abertas. Não há necessidade de pânico e sair correndo para mercados porque isso não vai ajudar e aumentará aglomerações. A doença virá e os órgãos estão preparados para receber os pacientes mais graves.
Heloisa Ravagnani Muniz, médica infectologista — Presidente da Sociedade de Infectologia do DF
Sobre as ações de contenção do DF
Da parte da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, nós achamos que essas medidas no momento são desnecessárias porque não temos um nível de transmissão do vírus aqui no DF tão grande. Os casos estão sendo monitorados e, de certa forma, controlados. Diante de uma epidemia viral, o momento de contenção e quarentena é real e pode chegar, mas estamos nos posicionando diante da situação que temos hoje. Na semana que vem, o cenário pode mudar. Hoje, não vemos como necessidade o fechamento de escolas, por exemplo. A Sociedade de Infectologia posiciona-se junto ao governo, no sentido de auxiliar todas as medidas que forem necessárias para reduzir a transmissão do vírus e nos colocamos à disposição de qualquer autoridade que precise da nossa ajuda. Estamos juntos no combate ao vírus.
Samuel Barros, nutricionista — Especialista em nutrição funcional
Como melhorar sua imunidade
Os vírus são oportunistas e possuem vantagens quando o sistema imune do hospedeiro está em desequilíbrio. Para evitar estar mais suscetível ao vírus e bactérias patogênicas, precisamos fortalecer nossa barreira imunológica, e uma maneira eficiente de fazer isso é tendo cuidados com a alimentação. A hidratação é uma das maneiras mais simples, baratas e efetivas que temos de contribuir para nossa saúde corporal. Outra dica para auxiliar a reforçar o sistema imune é incluir frutas e vegetais no cardápio. Esses, por sua vez, são ricos em vitaminas, minerais e compostos bioativos que podem auxiliar no combate aos vírus e bactérias indesejadas no organismo. Além disso, temperos como açafrão, pimenta preta, curry, cravo, canela, páprica e cominho auxiliam na saúde dos intestinos, que por sua vez, é um dos grandes controladores da imunidade humana. Sempre que possível, adicionem nas refeições. (CB)