Miguel Lucena*
Após as manifestações de 2013, a classe média tornou-se o alvo preferido dos ataques ideológicos de próceres da esquerda, como Marilena Chauí, que passou a abominá-la depois que subiu na vida e enriqueceu. A raiva aumentou com a eleição de Bolsonaro, cuja campanha foi garantida no grito por esse segmento cansado de sustentar os de cima e os de baixo.
Durante palestra, Marilena afirmou: “A classe média é uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante. Fim”.
As afirmações da filósofa não encontram eco na realidade: a classe média é ordeira, cumpre expediente, cuida de seu pequeno comércio, paga impostos, plano de saúde, realiza estudos e pesquisas nas universidades, enquanto os de cima mamam nas tetas do Estado via estatais e corrupção desenfreada; já os de baixo vivem como podem, enfrentando privações e a violência que é praticada pelos da mesma classe.
Os partidos de esquerda sempre se aproveitaram da revolta da classe média, recrutando para a luta armada pequeno-burgueses radicalizados, revoltados com a situação, e mandando-os para a morte.
Nas cúpulas partidárias comunistas e esquerdistas em geral, a composição sempre foi de classe média. Quando muito, escolhiam um operário para integrar a direção, sendo Lula uma exceção porque já era uma liderança reconhecida. Lênin, Trotsky, Prestes, João Amazonas, Marighella, Lamarca e outros menos conhecidos eram oriundos da classe média e diziam representar o proletariado, o qual, coitado, nem sabia.
O cronista João do Rio, famoso no Rio de Janeiro do início do século 20, põe a classe média na rés do chão:“Nas sociedades organizadas, há uma classe realmente sem interesse: a média, a que está respeitando o código e trapaceando, gritando pelos seus direitos, protestando contra os impostos, a carestia de vida, os desperdícios de dinheiros públicos e tendo medo aos ladrões. Não haveria forças que me fizessem prestar atenção a um homem que tem ordenado, almoça e janta à hora fixa, fala mal da vizinhança, lê os jornais da oposição e protesta contra tudo. Nas sociedades organizadas interessam apenas: a gente de cima e a canalha”. (In A Cidade de João do Rio, páginas 53/54).
A classe média ganha o suficiente para ter uma vida digna, apertada, por isso luta contra as escorchas tributárias, pois não recebe de volta serviços públicos decentes, tendo de pagar por plano de saúde e escolas para seus filhos.
Respeitadora dos códigos sociais, a classe média tem um nome a zelar. A esquerda tentou descaracterizá-la, criando uma nova classe média para confundir em geral e enganar os pobres em particular, levando-os a se endividarem com a linha branca de eletrodomésticos e TVs de não sei quantas polegadas.
A classe média garante o equilíbrio das relações sociais. Não fosse ela, não haveria serviço público, mesmo capenga, e os de baixo já teriam, na bala e na faca, acertado as contas com os de cima, ou os de cima ainda estariam escravizando os de baixo, como ocorria tempos atrás.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor