Maria José Rocha Lima*
A advogada Amanda Marques fez um vídeo em que aponta uma série de irregularidades em cartilha distribuída em uma escola pública do Distrito Federal. O livro, denominado Niara, traz a personagem da obra com a missão de explicar como roubar os super-ricos. O conteúdo mostra as “distorções” sociais e econômicas na população. Entretanto, a abordagem promove o ódio à riqueza e aos ricos, estimulando o roubo e a violência em nome da justiça social.
Podemos imaginar a gravidade dessa ação, considerando o momento político em que vivemos: de extrema violência, de promoção do hedonismo e do consumo desenfreado, de relativização dos valores morais e suspeição da ética.
A advogada ressalta a “parcialidade dos temas tratados, a linguagem e as expressões pejorativas que mostram o viés político da publicação. A liberdade de expressão deve ser respeitada, mas não podemos compactuar com a difusão de material político-ideológico nos centros de ensino do DF”.
Tudo na cartilha tem significado político-ideológico. Em uma das cenas, o livro orienta que “todos sejamos Robin Hood”, personagem conhecido como o Príncipe dos Ladrões, porque roubava dos ricos para dar aos pobres. Prezava a vida ao ar livre e tinha o espírito aventureiro. Nesse livro se acompanha a história de Robin Hood, desde o nascimento até a morte. Robin Hood foi “adotado” ainda bebê por um guarda florestal da Floresta de Nottingham. Aqui, reside mais uma impropriedade, que é reforçar que o filho adotivo apresenta “tendência antissocial”.
Na floresta, Robin fez muitos amigos e ficou conhecido como o príncipe dos ladrões, pois todo homem que possuísse muito ouro e passasse pela floresta era forçado a dividir uma grande refeição com o bando de Robin e pagar uma taxa por ela, de acordo com os bens que possuísse. Passando a ser Robin Hood, o justiceiro trava muitos encontros, fazendo amizades e reforçando a inimizade com a lei.
Para a advogada, a intenção da cartilha é ensinar que “todo rico é ladrão”.
O deputado Delmasso (PR) e a deputada Júlia Lucy (União Brasil) atenderam ao apelo da advogada Amanda Marques e encaminharam ofício à Secretaria de Educação do DF solicitando esclarecimentos. A SEEDF, em nota, afirmou: “A Secretaria de Educação tomou conhecimento da distribuição de uma cartilha com apologia política no Centro de Ensino Médio da Asa Norte (Cean) e encaminhou o caso imediatamente à Corregedoria. A referida cartilha não só faz oposição aberta ao atual presidente da República como promove uma dirigente sindical que se declara pré-candidata ao Governo do Distrito Federal por um partido de oposição. A Secretaria de Educação esclarece que a cartilha foi distribuída por um professor de sociologia, sem o conhecimento da direção da escola, da Coordenação Regional de Ensino nem da Subsecretaria de Ensino Básico. A Secretaria repudia um ato como esse e informa que não permitirá proselitismo político de nenhuma espécie nas escolas públicas do DF e que fará cumprir fielmente o Regimento da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal: ‘I – envolver o nome da unidade escolar em manifestações estranhas às suas finalidades educativas; II – ferir a suscetibilidade dos estudantes no que diz respeito às convicções políticas, religiosas, etnia, condição intelectual, social, assim como no emprego de apelidos e/ou qualificações pejorativas; III – fazer apologia à política partidária no interior da unidade escolar”.
Para nós, educadores, diferentemente desses caminhos tortuosos, a escola deve indicar às crianças e jovens o caminho do respeito à lei; às autoridades, à vida ética e às lutas pelo bem, pelo justo e pelo belo!
MARIA JOSÉ ROCHA LIMA é mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia-UFBA e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista filiada à ABEPP. É membro da Soroptimist International SI Brasilia Sudoeste.