Apesar da gravidade da doença, muitos são os tabus que cercam as idas ao urologista, dificultando o diagnóstico precoce
“Alertar, orientar e convocar os homens a fazerem os exames”, esses são, como pontua o chefe da Urologia do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), Paulo Roberto de Assis, os principais objetivos da Campanha Novembro Azul. De acordo com o Iges DF, por ano, o câncer de próstata chega a matar 15 mil homens em todo o Brasil, e campanhas como esta ajudam a combater o preconceito com o exame clínico.
Segundo dados do INCA (Instituto nacional do Câncer) de 2020, o câncer de próstata é a neoplasia que mais acomete homens em todo o país, perdendo apenas para tumores de pele não melanoma. Somente no último ano, foram mais de 65000 novos casos diagnosticados, o que corresponde a 29% do total de tumores entre os homens de todo o Brasil. Se tratando do DF, de acordo com a Secretaria de Saúde, em 2020, foram registrados 175 óbitos decorrentes da enfermidade. Este ano, até o momento, o número se aproxima do de 2020, correspondendo a 100 mortes. “Apenas no Brasil, no último ano, foram registrados quase 16 mil óbitos pela doença”, salienta o Dr. Felipe Machado, médico urologista no Hospital Anchieta.
Devido a números tão elevados, a importância da campanha mundial do Novembro Azul torna-se indiscutível, visto que propõe a conscientização da prevenção e do diagnóstico precoce sobre a doença. “A chance de cura depende principalmente da fase, estadiamento no momento do diagnóstico, e pode chegar a mais de 95% em 15 anos, se o tumor for pouco agressivo. O risco de se desenvolver câncer metastático, entre aqueles homens submetidos ao rastreio, é 30% menor do que entre os homens que não vão ao urologista”, afirma Felipe.
Conforme traz a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), todos os homens acima de 50 anos (sem fator de risco) e acima de 45 anos (com fator de risco, como história familiar ou etnia negra) devem se submeter ao rastreio do câncer de próstata através do exame de sangue (PSA) e do toque retal. “Apesar do avanço tecnológico, até 18% dos tumores de próstata são diagnosticados pelo toque retal, isso porque nem todos os tumores de próstata produzem PSA, principalmente uma subclasse bem agressiva, com diferenciação neuroendócrina”, acrescentou o profissional do Anchieta.
Tabu acerca do exame
De acordo com informações do DATASUS, nos últimos 2 anos, o número de consultas ambulatoriais entre os homens foi cerca de 15% menor do que entre as mulheres. “É indiscutível a presença do tabu masculino em relação às consultas médicas, e parte dessa explicação é a herança cultural de uma organização familiar patriarcal”, avalia Felipe Machado. No DF, o número de ultrassonografias de próstata por via transretal registrados pela SES DF foram, em 2020, 405, enquanto este ano, até o momento, apenas 100 exames foram catalogados. Por via abdominal, contudo, foram 3074 em 2020 e 1916 em 2021. “O toque retal deve ser desmistificado. Ele faz parte do exame físico realizado pelo urologista. Ele não dói, dura alguns segundos e é realizado com auxílio de uma pomada anestésica”, argumenta o doutor.
Para o chefe da Unidade de Urologia do Hospital de Base, Dr. João Ricardo Alves, apesar de os números ainda serem altos, nos últimos anos já se percebe uma maior procura por médicos por parte dos homens brasileiros. Segundo ele, isso se deve a campanhas como a do Novembro Azul. Na capital, o primeiro atendimento é realizado pelas equipes de saúde da família nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). O acolhimento é realizado pela equipe de enfermagem que também faz a coleta do exame de PSA. Conforme esclarece a secretaria, o usuário também pode realizar os exames rápidos de HIV, hepatite e sífilis e, caso a equipe julgue necessário, o paciente pode ser encaminhado para o atendimento médico, ou para exame de ecografia, ou, ainda, para atendimento com especialista.
Doença silenciosa
Por não apresentar sintomas, 95% dos casos de câncer de próstata são diagnosticados já em fase avançada, o que dificulta a cura. “É uma doença silenciosa, especialmente nos estágios iniciais. Quando o tumor avança localmente, podem surgir sintomas como dificuldade de urinar, sangramento na urina, dor abdominal ou infecções urinárias”, pontua Felipe. Já quando a doença encontra-se no estado de metástase (espalhada em outros órgãos), podem surgir dor óssea, fraturas ou sintomas neurológicos (epilepsia).
É importante lembrar que várias outras doenças, como ressalta o especialista, podem acometer o aparelho urinário, como o crescimento benigno da próstata, infecções, cálculos renais e outros tumores na bexiga ou rim. “É importante procurar um urologista sempre que sentir qualquer alteração no padrão urinário”, aconselha o médico. Todos os homens acima de 45 anos, mesmo sem sintomas, devem iniciar o rastreio para câncer de próstata.
Felizmente, nos dias de hoje, a maioria dos tumores (95%) é diagnosticada na fase localizada, e o tratamento pode ser curativo com a realização de cirurgia ou radioterapia. “A evolução tecnológica, especialmente no campo cirúrgico, com o surgimento da plataforma robótica, tem melhorado os resultados funcionais da cirurgia e promovido uma recuperação mais rápida e com menos tempo de internação e complicações”, aclara o urologista.
A única forma de garantir a cura é, portanto, o diagnóstico precoce. A indicação da melhor forma de tratamento irá depender, contudo, de vários aspectos, como estado de saúde, estadiamento da doença e expectativa de vida. Em casos de tumores de baixa agressividade há a opção da vigilância ativa, na qual periodicamente se faz um monitoramento da evolução da doença intervindo caso haja sua progressão.