Prefeito de São Paulo foi sepultado no mesmo cemitério que seu avô, Mário Covas. Ele tratava um câncer no sistema digestivo e estava internado desde 2 de maio no Hospital Sírio-Libanês.
O corpo do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), foi sepultado no Cemitério do Paquetá, em Santos, no litoral paulista, no início da noite deste domingo (16). Familiares se despediram do político no mesmo local em que o avô, Mário Covas, foi enterrado há 20 anos, após morrer de câncer na bexiga. Covas lutava desde 2019 contra um câncer no sistema digestivo com metástase nos ossos e no fígado.
Bruno Covas estava internado desde 2 de maio. Na sexta-feira (14), ele teve uma piora no quadro de saúde e a equipe médica informou que seu quadro havia se tornado irreversível. De acordo com a unidade, o prefeito faleceu às 8h20 deste domingo.
Uma cerimônia foi realizada no Edifício Matarazzo, sede da prefeitura, reunindo familiares e amigos próximos, por volta das 13h. A cerimônia durou cerca de 50 minutos. Depois, o corpo de Bruno seguiu em cortejo em carro de bombeiros por ruas da capital até a Praça Oswaldo Cruz. Durante o trajeto, na Avenida Paulista, o carro dos bombeiros foi cercado por simpatizantes que queriam se despedir e seguravam faixas e cartazes.
Em seguida, o cortejo com familiares e amigos próximos, incluindo o governador João Doria (PSDB), seguiu para Santos, até o Cemitério do Paquetá, onde chegou por volta das 17h40. Equipes da Guarda Civil Municipal (GCM) de Santos montaram um cerco no entorno do cemitério, para evitar aglomerações.
Repercussão em Santos
O ex-prefeito de Santos, João Paulo Tavares Papa, lamentou a morte de Bruno Covas descrevendo como uma “perda imensa”. O político ainda relembrou a época em que ambos disputaram uma eleição em Santos, quando Covas concorria como vice.
“O Bruno é um exemplo para a juventude brasileira, porque ele, apesar de todas as dificuldades pessoais que estava enfrentando, e com todas as dificuldades que o Brasil atravessa no campo político, continuava dando demonstrações a toda a nossa população e aos jovens, em particular, já que acreditava na política, sabia que a única transformação possível para o nosso país, e para todos os países, é através da política, da boa política. Deixou essa mensagem muito forte”, disse o ex-prefeito.
O também ex-prefeito de Santos Paulo Alexandre Barbosa lembrou os dias de convivência, quando ambos atuavam como deputados na Assembleia Legislativa. “Uma grande perda para todos nós, um santista ilustre, uma perda para Santos, para o Brasil, pela liderança do Bruno”, disse Barbosa.
Já o atual prefeito de Santos, Rogério Santos, afirmou que Bruno foi um exemplo desde a juventude. “O Bruno era um homem corajoso, um exemplo para todos nós, de determinação, de compromisso com o poder público, com a política, com a gestão pública, era um homem que deu grandes exemplos. Deixou o legado da boa política, da boa gestão”. O prefeito ainda diz que a administração vai pensar em uma homenagem para Covas, que é natural da cidade do litoral. Foi decretado luto oficial de três dias no município.
O governador João Doria falou sobre a morte de Bruno Covas na saída do sepultamento em Santos. Ele comentou a importância do político, que começou a trajetória ainda jovem. “Bruno deixa uma história escrita, ainda que na sua juventude, e essa história será sempre um grande exemplo para todos nós, na nossa vida pessoal, na nossa vida familiar e na nossa vida política, também”, disse Doria. Ele ainda reiterou que a cerimônia foi restrita a amigos e familiares, da maneira que Covas desejava.
“Aos 41 anos, ele se despediu de nós, mas deixou um legado, um legado de alguém que, no plano humano, foi afetivo, humano, carinhoso, amoroso, sincero, compartilhador, e dividiu com os seus amigos, seus familiares e com o seu filho seu espírito sempre muito afetuoso, brincalhão e integrador”, descreve Doria.
O secretário da Casa Civil, Ricardo Trípoli, salientou as qualidades de Bruno, como os princípios na gestão. “Ele tinha como princípio a democracia, o respeito, era preocupado com as diferenças sociais em uma cidade como São Paulo. Deixou um plano de metas pronto para a cidade de São Paulo”, diz.
Trípoli ainda salienta que todos os trabalhos na prefeitura aconteciam em equipe, que Ricardo Nunes, vice de Covas que assumirá a cidade de São Paulo por 30 dias, fazia parte de todas as decisões. “Todos nós somos uma equipe única, o Bruno dizia ‘olha, somos uma equipe, e vamos enfrentar tudo isso juntos’. O Ricardo disse exatamente isso, estamos no mesmo projeto”, finaliza.
Velório em SP
O corpo do prefeito chegou ao Edifício Matarazzo às 13h13 e foi levado ao hall monumental do 3º andar, onde ocorreu uma homenagem de familiares e amigos mais próximos. Na chegada do cortejo, o corpo foi aplaudido pelas pessoas que estavam no local.
Durante a missa celebrada pelo padre Rosalvino, Tomás foi abraçado por Gustavo Pires, assessor especial de Covas e amigo. Tomás usava a camiseta dos Tucanáticos em homenagem à juventude do PSDB.
O ex-vereador Mário Covas Neto, tio de Bruno, participou da cerimônia com a leitura de trechos da missa. A mãe de Covas, Renata Covas Lopes, seu pai Pedro Mauro Lopes, e seu irmão, Gustavo Costa Lopes, acompanharam a cerimônia. O governador João Doria e sua mulher, Bia, também estiveram presentes, além do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). A cerimônia durou cerca de 50 minutos.
Sobre o caixão fechado foram colocadas as bandeiras do Brasil e de São Paulo. O filho Tomás ajudou a carregar o caixão até o carro do Corpo de Bombeiros. Simpatizantes do prefeito aplaudiram a saída do corpo para o cortejo pelas principais ruas do Centro de São Paulo. Na Avenida Paulista, o carro dos bombeiros foi cercado por simpatizantes que queriam se despedir e seguravam faixas e cartazes. Em seguida, o cortejo segue para Santos, no litoral paulista.
Na sede da prefeitura, as bandeiras do estado e do município foram hasteadas a meio mastro em sinal de luto. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) assumiu o cargo após ato da Mesa Diretora da Câmara Municipal de São Paulo e seu primeiro ato foi decretar luto oficial de sete dias na cidade. O governador João Doria (PSDB) também decretou luto oficial de sete dias no estado.
Internação
Covas estava internado no Hospital Sírio-Libanês, no Centro da capital paulista, desde 2 de maio, quando se licenciou da prefeitura. Na sexta-feira (14), ele teve uma piora no quadro de saúde e a equipe médica informou que seu quadro havia se tornado irreversível.
Familiares e amigos de Covas permaneceram no hospital desde então. Nas últimas horas de vida, o prefeito recebeu sedativos e analgésicos para não sentir dores.
Na noite de sexta (14), um padre chegou a fazer a unção dos enfermos, um sacramento católico. Durante a noite de sábado (15), representantes de diversas religiões participaram do ato ecumênico na porta do hospital, que durou 30 minutos e terminou com a oração Pai Nosso.
Covas teve o câncer diagnosticado em outubro de 2019, após ser internado com uma infeção na pele chamada erisipela. O tumor regrediu, mas, neste ano, novos nódulos foram encontrados no fígado, na coluna e na bacia.
O tucano é o primeiro prefeito da cidade de São Paulo a morrer durante o mandato. Ricardo Nunes (MDB), o vice que hoje é prefeito em exercício, irá assumir definitivamente o cargo.
Neto favorito de Mário Covas
Nascido em Santos, no litoral paulista, em 7 de abril de 1980, Covas era filho de Pedro Lopes, engenheiro da Autoridade Portuária de Santos, e Renata Covas, a única filha mulher de Mário Covas e Lila.
Era o neto favorito de Mário Covas, que foi prefeito da Capital na década de 1980 e governador do estado entre 1995 e 2001.
Aos 9 anos, passou a integrar o “Clube dos Tucaninhos”, cuja carteirinha de filiação era guardada por ele como recordação até depois de adulto.
Aos 14 anos, Bruno Covas deixou o litoral e foi morar na cidade de São Paulo com o avô, no Palácio dos Bandeirantes, sede oficial do governo paulista. De acordo com funcionários, Bruno era “bem mais tranquilo para lidar do que o avô”.
Cursou o Ensino Médio no Colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais da Capital, onde conheceu um de seus grandes amigos, Luiz Álvaro Salles Aguiar de Menezes, que se tornou seu secretário municipal de Relações Internacionais décadas mais tarde.
Menezes disse que na escola os colegas se surpreendiam ao descobrir que Bruno era neto do governador. “Acho que eles esperavam uma figura engomadinha, e não aquele cabeludo com camiseta de rock’n’roll sem manga que estudava com a gente”, contou, em entrevista ao SP1.
Naquela época, o jovem Bruno Covas não se interessou em participar do grêmio estudantil do colégio.
Casamento, separação e 1ª vitória eleitoral
Covas graduou-se em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e em economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e iniciou a carreira política em 2004, quando se candidatou a vice-prefeito de Santos na chapa do correligionário Raul Christiano.
Bruno Covas sentiu o gosto da vitória nas urnas pela primeira vez aos 26 anos, como deputado estadual. Foi reeleito aos 30, com o maior número de votos. Depois, assumiu o cargo de secretário estadual do Meio Ambiente na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), e, em 2014, venceu a eleição para deputado federal. No Congresso Nacional, votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Eleição para a prefeitura e novo estilo de vida
Covas não completou o mandato como deputado federal. Voltou a São Paulo e se candidatou a vice-prefeito na chapa de João Doria (PSDB), em 2016. A dupla venceu no primeiro turno.
Em 2017, Covas mudou o visual e o estilo de vida: assumiu a careca, passou a seguir uma dieta radical que o levou a perder mais de 16 quilos e iniciou a prática Mahamudra, uma linha esportiva que alia autoconhecimento e exercícios físicos. Também ficou conhecido como “baladeiro”, devido à presença frequente em festas e casas noturnas.
O tucano assumiu a Prefeitura de São Paulo na sequência, em abril de 2018, quando Doria deixou o cargo para se candidatar a governador do estado.
A primeira grande missão à frente da prefeitura ocorreu no feriado de 15 de novembro de 2018, após um viaduto de 2 metros ceder sobre a Marginal Pinheiros.
Infecção na pele e diagnóstico de câncer
Em 19 de outubro de 2019, o prefeito foi diagnosticado com erisipela, uma infecção na pele. Ele foi medicado e liberado, mas, uma semana depois, foi internado. A infecção havia evoluído para trombose venosa profunda (coágulos) na perna direita.
Os coágulos subiram para o pulmão, causando o que é chamado de embolia.
Foi durante os exames para localizar os coágulos que médicos detectaram o câncer. O nódulo estava na cárdia, região entre o esôfago e o estômago, com metástase no fígado e nos linfonodos.
Tratamento e eleição
Em 29 de outubro de 2019, Bruno Covas iniciou o tratamento contra o câncer, que previu inicialmente 8 sessões de quimioterapia, sem deixar o cargo de prefeito e despachando por meio de assinaturas digitais. Em dezembro de 2019, a equipe médica disse que o tumor regredira de modo expressivo. Dois dias depois, contudo, ele foi para a UTI após um sangramento no fígado. As sessões continuaram e, apesar do episódio, a equipe continuava informando que ele apresentava “ótimo quadro geral”.
Em 2 de janeiro de 2020, ainda em tratamento, o prefeito anunciou que seria candidato à reeleição à Prefeitura de São Paulo. Adiante, suas principais promessas de campanha foram zerar a fila de creches, criar unidades de saúde (UPAs e UBSs), um programa de moradias populares na cidade, um sistema de transporte público por barcos e avançar no plano de privatizações.
No mês seguinte, ao término da 8ª sessão de quimioterapia, os tumores do fígado e da região da cárdia não apareceram nos exames. Já os linfonodos, que são gânglios, apresentaram aumento, indicando que o câncer persistia.
Uma nova fase do tratamento foi iniciada, com a imunoterapia, que visa potencializar o sistema imunológico para atacar células cancerígenas.
Em maio de 2020, o prefeito chegou a ser hospitalizado devido a um desconforto abdominal – os exames indicaram que se tratava de uma colite, inflamação do cólon, parte central do intestino grosso.
Covas chegou a se mudar para a sede da Prefeitura de São Paulo com a intenção de atuar em tempo integral no combate à pandemia do coronavírus, que avançava no mundo. No mês seguinte, foi diagnosticado com Covid-19, mas não teve sintomas.
Em julho, Covas informou que o tumor estava regredindo e passou a se concentrar na campanha eleitoral. Mesmo em tratamento, fez muitas agendas externas. Sempre com máscara. Mas muitos desses compromissos ocorreram em ambientes cheios e fechados e por um longo período de tempo.
O tucano obteve 32,85% dos votos e foi para o segundo turno com Guilherme Boulos (PSOL), que recebeu 20,24%. Ele venceu em todas as 58 zonas eleitorais da capital, incluindo a periferia.
Foi reeleito com 59,38% dos votos, 3 milhões, com um leque de alianças formado por 11 partidos e maioria na Câmara Municipal.
“São Paulo disse ‘sim’ à democracia. São Paulo disse ‘sim’ à ciência, disse ‘sim’ à moderação, disse ‘sim’ ao equilíbrio”, discursou.
Em entrevista ao “Em Foco”, da GloboNews, descartou lockdown na cidade de São Paulo devido, especialmente, a uma suposta impossibilidade de articular a mesma medida em toda a região metropolitana. Àquela altura, a capital enfrentava um novo aumento do número de casos de Covid-19, que culminou em uma 2ª onda da doença.
Em fevereiro, exames mostraram sucesso da radioterapia no controle dos linfonodos, mas foi detectado um novo nódulo no fígado. A imunoterapia foi interrompida e Covas reiniciou a quimioterapia.
Abril de 2021, ele foi internado depois que os médicos encontraram novos pontos de câncer nos ossos e no fígado, embora o prefeito estivesse sem sintomas, e ainda apto a seguir suas atividades à distância.
Dias mais tarde, ele apresentou uma piora no quadro de saúde, quando foi diagnosticado com líquido nos pulmões e no abdômen devido a uma inflamação no tumor do fígado. Covas precisou continuar no Sírio Libanês para retirada do líquido e para receber alimentação pela veia durante as madrugadas.
Transmitindo coragem e confiança no tratamento, ele postou uma foto do filho nas redes sociais, e disse que continuava a luta pela vida com “vontade gigante de vencer”.
A drenagem do líquido deu certo e Bruno Covas recebeu alta ainda em abril, mas, no dia 2 de maio, decidiu se afastar do cargo novamente, dessa vez por 30 dias devido aos efeitos colaterais do tratamento.
No dia seguinte, ele foi transferido para a UTI do hospital Sírio-Libanês e intubado após a descoberta de um sangramento no estômago. Os médicos identificaram uma úlcera junto ao tumor original, na cárdia. As sessões de quimioterapia foram suspensas.
Durante todo o tratamento, o prefeito se mostrou otimista, afirmando diversas vezes que “não tinha dúvidas de que vou vencer mais este desafio”, mesmo sabendo que “a guerra estava longe de terminar”, e sempre agradeceu ao apoio da equipe médica responsável pelo tratamento e às pessoas que oravam por ele. (G1)