Maria José Rocha Lima*
Professora Marinalva, ao estudar um texto de Florestan Fernandes(1989) que trata da “brutalização dos professores primários”, imposta pelos governantes, me ocorreu escrever sobre a nossa conquista, levando as professoras primárias a ingressarem na APLB, como um grande marco histórico.
Em 1981, o Movimento dos Professores Primários atuou no âmbito da Associação dos Professores Licenciados do Brasil – Seção da Bahia, com relativa liberdade. Nesse período, a APLB teve como presidente o Professor Braulino Valeriano, do Colégio Anísio Teixeira, que era um homem de fé, católico praticante, muito democrático e que repetia sempre que “para ele não importavam as crenças ideológicas que as pessoas professassem, nem os partidos que seguissem, o que importava, para ele, eram as ações, era o trabalho das pessoas em defesa dos professores e da entidade”. Foi o nosso Tancredo Neves para a realização da transição.
A APLB, de 1952 a 1981, representava apenas os professores licenciados. E em 1981 alterou o estatuto, introduzindo um artigo que dispunha sobre a filiação provisória dos professores primários à entidade.
Tivemos ainda como um importante aliado o professor de Matemática Misael Silva, também do Colégio Anísio Teixeira, que simpatizava com a unificação dos professores licenciados e primários. Ele entendia de estatuto e de cálculos salariais, como ninguém.
O professor Braulino simpatizava com a idéia de ingresso dos professores primários na APLB, o que permitiu um crescimento geométrico do movimento de professores. Naquela diretoria, contamos com outros que, se não ajudavam, não criavam empecilhos à ação do Movimento dos Professores primários: os professores Joel do Nascimento, Iná Monte Santo e Maria Helena Silva, egressos ou simpatizantes do PCB.
Nessa época, as primárias, como éramos chamadas, experimentamos importantes avanços organizativos e consequentemente melhorias nas condições profissionais na rede municipal de Salvador, com a conquista de um piso salarial de três ou cinco salários mínimos(não lembro de memória); reserva de 30% da carga horária para estudo e planejamento; gratificação do pó- de- giz; e gratificação por periculosidade pelo trabalho em áreas inóspitas e/ou de difícil acesso. Essas conquistas relevantes, naquela rede de Salvador, tiveram impactos nas redes municipais, estadual e até na pauta de reivindicações nacional.
*Mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBa) e doutoranda em educação Foi Deputada Estadual da Bahia, 1991-1999. Preside a Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista, é dirigente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise – ABEPP.