Projetos também atuam com doação de alimentos para os mais vulneráveis
Em uma noite de quinta-feira, por volta das 21h30, a estudante Letícia Moreira, de 19 anos, deixou sua casa, no Condomínio Novo Horizonte, para buscar atendimento médico no Hospital Regional do Paranoá (HRPA). Letícia sentia dores, devido a uma lesão no joelho, mas enquanto fazia a ficha médica, na emergência da unidade, o machucado se tornou algo secundário. Era 17 de junho e a temperatura mínima, na capital do país, havia alcançado 11,9ºC. Letícia, logo ao chegar ao hospital, percebeu um homem encolhido, sentado em um banquinho de cimento entre os banheiros da unidade. “No começo, pensei que ele esperava atendimento. Mas depois vi que ele não tinha pulseira e, na verdade, tentava fugir do frio”, conta a estudante.
A vontade de ajudar sempre existiu em Letícia, mas, a partir da visão do homem buscando abrigo, ela decidiu criar um projeto que pudesse auxiliar os moradores de rua. “Eu fazia campanhas pelo colégio em que eu estudava e fiz um trabalho sobre as pessoas em situação de rua. Então, quando eu vi o senhor tentando se aquecer no hospital, literalmente tendo que escolher entre o risco de acabar contaminado com alguma doença ou passar frio na rua, eu decidi que precisava agir”.
Letícia, então, contou sobre a ideia para a amiga, Mariana Leite, 21 anos, estudante e moradora do Condomínio Novo Horizonte, e juntas, elas decidiram consolidar a campanha Aqueça um Coração. “Tenho um Instagram onde falo sobre nutrição e a Mariana fala sobre marketing no perfil dela. Decidimos então trabalhar juntas para conseguir as doações de agasalhos. Receberemos os produtos até 1º de julho, porque decidimos que precisávamos entregar logo esses itens devido ao frio dessas semanas. No dia da entrega (sexta-feira) queremos fazer caldo para alimentar os moradores de rua. O nosso foco é não parar nesta ação e estamos divulgando o projeto com diversos amigos para conseguir arrecadar o máximo de agasalhos”, detalha.
As duas amigas querem ajudar, pelo menos, a população do Paranoá e do Itapoã. “Em um momento como este, quando a situação está tão escassa em relação a dinheiro, comida e atenção, precisamos, de alguma forma, fornecer carinho. Eu fiquei pensando o tanto que é difícil: tanta gente gosta do frio, para ficar embrulhado na cama, mas, para quem está na rua, é um momento de sofrimento”, reflete.
Voz e afeto
Desde 2018, os moradores de rua do DF também recebem o auxílio do projeto BSB Invisível. A arrecadação do grupo começou em maio e durará até agosto. Segundo o relato da fundadora do projeto, Maria Baqui, semanalmente os produtos doados são entregues aos moradores. “A gente sai pela rua e quem encontramos, que está em situação de rua, em ocupações, a gente doa os materiais. Também temos muitas pessoas que nos procuram diretamente, falando das dificuldades que estão enfrentando”, conta.
“Nossa intenção é diminuir a invisibilidade social para as pessoas que estão nessa situação. Queremos humanizá-las e dar voz a elas. Ao todo, somos 25 voluntários no projeto e, para mim, essa iniciativa é fundamental. Eu acho que a gente está aqui por um motivo e, fazendo um trabalho de formiguinha, conseguimos transformar o mundo e torná-lo mais justo”, destaca Maria. Segundo a idealizadora do projeto, o BSB Invisível já ajudou a mais de 2 mil pessoas desde que foi fundado.
Com o objetivo de aquecer e minimizar os efeitos da fome para os mais vulneráveis, a Comunidade Grega de Brasília também realizou, neste mês, uma campanha de doação de cobertores e cestas básicas. “Sempre fizemos movimentos solidários, mas, desta vez, decidimos fazer uma campanha maior e com o envolvimento de mais pessoas. Ela veio em um momento muito importante, pois, com a pandemia, a situação das pessoas vulneráveis se agravou ainda mais”, relata Konstantinos Bokos, presidente da Comunidade Grega de Brasília. O objetivo da Comunidade é arrecadar e doar em torno de 300 cobertores e 300 cestas básicas.
O presidente conta que essa é a primeira campanha do gênero realizada pelo grupo, mas a intenção é dar continuidade ao projeto. A campanha teve início em 1º de junho e se encerrará nesta quarta-feira. Para ajudar, é possível levar doações à sede da Comunidade Grega, na 910 Norte, Módulo B, ou adquirir números de rifa da Comunidade e concorrer a uma cesta de produtos gregos.