Os movimentos de Lula e Bolsonaro acontecem no momento em que os demais pré-candidatos ao Planalto dão suas últimas cartadas
João Pedro Pitombo
Salvador, BA
Depois do fim da janela partidária, que resultou em mudanças na correlação de forças no Congresso Nacional, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se preparam para dar novos passos na pré-campanha ao Planalto
Faltando pouco menos de seis meses para a eleição, ambos mobilizam seus times, acirram o duelo por aliados nos estados e tentam cristalizar o cenário de polarização que se desenha para a eleição presidencial de outubro.
Os movimentos de Lula e Bolsonaro acontecem no momento em que os demais pré-candidatos ao Planalto dão suas últimas cartadas para consolidar uma terceira candidatura competitiva.
Mas enquanto os demais partidos não chegam a um consenso e veem seus próprios pré-candidatos a governador adotarem uma estratégia de neutralidade em relação à eleição nacional, Lula e Bolsonaro costuram palanques próprios na maioria dos estados.
Bolsonaro trouxe para o seu entorno cinco legendas do chamado centrão: PL, PP, Republicanos, PTB e PSC. Juntos, esses partidos têm 188 deputados federais, 19 senadores e elegeram 1.502 prefeitos nas eleições de 2020.
Do outro lado, Lula deve ir para as urnas ancorado por uma aliança entre PT, PSB, PC do B, PV, Solidariedade, PSOL e Rede. Estas legendas saíram da janela partidária com 109 deputados federais e 8 senadores. Há dois anos, elegeram juntas 620 prefeitos.
A correlação política, contudo, não é determinada por forças estanques: há políticos bolsonaristas em legendas aliadas ao PT, lulistas em siglas que dão apoio a Bolsonaro e, sobretudo, uma miríade de potenciais aliados espalhados por partidos aos quais nenhum dos dois estará coligado.
É sobre este terceiro grupo que Lula e Bolsonaro devem se debruçar ao longo dos próximos meses, costurando apoios no varejo para fortalecer os seus respectivos palanques durante a campanha presidencial.
Depois de lançar sua pré-candidatura à reeleição em 27 de março, Bolsonaro mobilizou a sua tropa na janela partidária e chegará à eleição com uma base parlamentar mais forte no Congresso e nas Assembleias Legislativas.
O presidente terá candidatos a governador do seu arco de alianças em nove dos dez maiores colégios eleitorais do país. Em São Paulo, estado que concentra 32 milhões de eleitores, Bolsonaro apadrinhou o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Em Minas Gerais, o presidente escolheu o senador Carlos Viana (PL) para ancorar seu palanque em meio à postura dúbia do governador Romeu Zema (Novo). No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro (PL) disputa a reeleição com o apoio do presidente.
A estratégia contrasta com a que foi adotada na eleição de 2018, quando o PSL, então partido de Bolsonaro, lançou candidatos próprios a governador apenas em dois dos dez maiores estados –Ceará e Santa Catarina.
Naquela eleição, parcerias informais foram feitas ao longo da campanha, com a aproximação com João Doria (PSDB), em São Paulo, Romeu Zema (Novo) em Minas Gerais e Wilson Witzel (PSC) no Rio de Janeiro –os três saíram vitoriosos nas urnas há quatro anos.
Neste ano, Bolsonaro deve ter palanques duplos em estados como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em estados menores, há possibilidade até mesmo de palanque triplo.
“Estamos avançando em um processo eleitoral tradicional, com palanques nos estados e uma base de candidatos a deputado que vão levar a mensagem do presidente até a ponta, onde está o leitor. É um projeto padrão que está bem encaminhado e bem conduzido”, avalia o líder do governo na Câmara, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR).
Ao mesmo tempo em que terá candidatos próprios na maioria dos estados, Bolsonaro já coleciona aliados que vão concorrer a governos estaduais de partidos fora da sua aliança.
Nesta semana, o governador do Amazonas e candidato à reeleição Wilson Lima (União Brasil) anunciou que apoiará a reeleição do presidente em outubro. Ao menos outros dois pré-candidatos a governador da União Brasil tomaram o mesmo caminho: Capitão Wagner, no Ceará, e Marcos Rocha, em Rondônia.
Outra meta é fechar uma aliança no Paraná com o governador Ratinho Júnior (PSD), que disputa a reeleição. O PL lançou o deputado federal Filipe Barros ao governo, mas a tendência é de uma composição até as convenções, entre julho e agosto.
No campo administrativo, o presidente aposta na retomada da economia pós-pandemia e nos efeitos de um pacote de bondades que inclui estímulos econômicos, o fim da taxa extra nas contas de energia e o Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que sucedeu o Bolsa-Família.
O ex-presidente Lula, por sua vez, deve ir para a eleição com o apoio de PT, PSB, PCdoB, PSOL e Solidariedade, arco de alianças mais robusto que o de Fernando Haddad (PT) em 2018.
Mesmo ainda formalmente restrito a partidos do campo da esquerda, conseguiu avançar para a centro-direita ao definir o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) como candidato a vice.
Também intensificou conversas com partidos fora de seu arco de alianças. Nesta segunda-feira (11), o petista reuniu-se em Brasília com grupo de senadores do MDB, PSD e PDT.
Mesmo com a pré-candidatura da senadora Simone Tebet ao Planalto, o MDB já definiu apoio a Lula nos nove estados do Nordeste —o último estado da região a aderir foi a Bahia, que há duas semanas migrou para a base petista no estado.
O senador Humberto Costa (PT-PE) afirma que o grupo de partidos aliados terá como principais desafios pacificar os palanques estaduais, onde ainda há divergências, e avançar na negociação de alianças informais nos estados.
O bloco lulista ainda tentará formalizar novos apoios ainda no primeiro turno: “Ainda não descartamos a possibilidade de um apoio do PSD. É um dos partidos que a gente gostaria de ter no nosso campo, se houver abertura”.
Dentre os dez maiores colégios eleitorais, Lula já tem palanques em oito. Em estados como São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul, caso não haja mudanças até a convenção, o petista deve ser apoiado por mais de um candidato a governador.
No Ceará, por outro lado, ele dividirá o palanque com o também presidenciável Ciro Gomes (PDT), já que petistas e pedetistas vão repetir a aliança local das últimas quatro eleições.
Em Minas Gerais, há negociações em curso para que o PT apoie o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) na corrida pelo governo. O cenário é o mesmo do Pará, onde o PT deve apoiar a reeleição do governador Helder Barbalho (MDB).
Lula vai lançar oficialmente a sua pré-candidatura em maio e deve ancorar a sua campanha na memória dos 13 anos de governos petistas, na defesa da democracia e nas críticas à Bolsonaro na condução da economia e da pandemia.
Dentre os demais partidos que pleiteiam a Presidência, o cenário ainda é cercado de incertezas. O grupo formado por PSDB, MDB, Cidadania e União Brasil trabalha para afunilar as pré-candidaturas e prometem anunciar um candidato único do grupo até 18 de maio.
Foram apresentados os nomes de João Doria (PSDB), ex-governador de São Paulo, da senadora Simone Tebet (MDB-MS) e do deputado federal Luciano Bivar (União Brasil). O ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) também se movimenta.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), por sua vez, intensificou sua presença nas redes sociais e tem dado especial atenção à comunicação digital, direcionada sobretudo ao público jovem. Ele também abriu flancos de negociação com o PSD e União Brasil para uma possível aliança.