Presidente eleito diz que número de casos deve explodir em janeiro e fevereiro, e alerta que imunização deve demorar até chegar a todos; vice de Biden, Kamala Harris é vacinada em Washington
WASHINGTON — Em um pronunciamento marcado pela franqueza e uma certa dose de esperança a médio prazo, o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, alertou os americanos de que o pior momento da pandemia ainda está por vir.
— As próximas semanas e meses serão muito duros, um periodo muito duro para nossa nação. Talvez o mais duro de toda a pandemia. Sei que é difícil ouvir isso, mas é a verdade — declarou o democrata.
Falando em Delaware, Biden reconheceu que os EUA devem superar a trágica marca de 400 mil mortos pelo novo coronavírus antes mesmo que ele assuma o cargo, no dia 20 de janeiro — ele lembrou que, há algumas semanas, disse que o país atingiria esse número ainda no mandato de Donald Trump, e afirmou ter sido chamado de pessimista.
Agora, defende que as autoridades precisam se preparar para um forte aumento do número de casos em janeiro e fevereiro, resultado das festas de fim de ano e prováveis aglomerações ao redor dos EUA. Para ele, uma melhora só poderá ser vista em março — e as vacinas, por enquanto, não devem ser colocadas nessa equação, uma vez que o ritmo de distribuição delas está bem abaixo do adequado, na avaliação do democrata.
— O plano do governo Trump para distribuir vacinas está com atraso, muito atraso — declarou Biden, afirmando que, no atual ritmo, seriam necessários anos para vacinar toda a população dos EUA.
Kamala é vacinada
O objetivo da chamada Operação Warp Speed (Velocidade de Dobra), organizada pelo governo de Donald Trump para acelerar o desenvolvimento de imunizações, era vacinar cerca de 80% dos americanos até o fim do primeiro semestre. Mas um levantamento da NBC News mostrou que, no atual ritmo (cerca de 2 milhões de pessoas vacinadas), seriam necessários quase 10 anos para atingir a meta.
Biden reconheceu que elevar esse ritmo de vacinação para algo em torno de um milhão de doses por dia vai demandar o que chamou de “maior desafio operacional da história dos EUA”. Por isso, afirmou que vai usar a Lei de Produção de Defesa, que chegou a ser invocada por Trump para a produção de insumos hospitalares, para impulsionar a produção das vacinas. A legislação, estabelecida nos tempos da Guerra da Coreia (1950 — 1953), permite que o presidente mobilize empresas para que produzam itens considerados de primeira necessidade.
Além disso, Biden antecipou que vai lançar campanhas informativas sobre a segurança da vacina, e lembrou que foi imunizado na segunda-feira passada. Nesta terça-feira, foi a vez de sua vice, Kamala Harris, receber a primeira dose da vacina produzida pela Moderna, em Washington.
— Mal senti — afirmou a democrata, logo depois de receber a injeção. — Quero encorajar a todos para que recebam a vacina, é relativamente indolor, segura, é sobre salvar vidas.
Máscaras
Biden também usou o discurso para defender o uso amplo de máscaras, mesmo diante de um aumento do ritmo de vacinação. E sugeriu ao presidente Trump que se engaje na campanha para que as pessoas usem a proteção — durante a campanha presidencial, o republicano chegou a zombar do hoje presidente eleito pelo uso da máscara em ambientes públicos.
— Eu dou crédito ao ex-governador Chris Christie (amigo de décadas de Trump) por fazer com que as pessoas usem máscaras por elas mesmas, por quem elas amam e pelo seu país. Espero que o presidente Trump o escute — pontuou Biden, antes de esperar que o republicano também receba a imunização em breve, como já o fez o atual vice-presidente, Mark Pence.
O GLOBO*