Os privilegiados faziam parte de um de seis grupos num experimento por meio do qual as autoridades querem estudar formas de voltar ao normal
Com a bênção do governo, um grupo de 50 pessoas participou, nos últimos sábado (6) e domingo (7), de baladas em Amsterdã como se não existisse pandemia.
Em meio a cerca de outras 1.500 que dançavam ao som dos DJs, elas não usaram máscara, não tiveram que manter distância, andaram por onde quiseram na pista de dança e entre as mesas e tiveram acesso liberado ao bar. Também ganharam uma bebida fluorescente e foram incentivadas a cantar e gritar.
Os privilegiados faziam parte de um de seis grupos num experimento por meio do qual as autoridades holandesas querem estudar as formas mais seguras de voltar ao normal. Em fevereiro, os organizadores já haviam feito um congresso e um espetáculo de teatro, ambos com 500 participantes, e dois jogos de futebol, com públicos de 1.153 e 1.351 pessoas, respectivamente.
Para entrar nas baladas era preciso estar fora dos grupos de risco e ter um teste negativo para coronavírus feito no máximo 48 horas antes. Os participantes também tinham sua temperatura medida na entrada e são convidados a fazer um segundo teste cinco dias depois.
Os experimentos foram desenhados pelo virologista Andreas Voss, do Centro Médico Universitário Radboud e membro da OMT (equipe de gerenciamento de pandemias da Holanda), e várias universidades holandesas participam do estudo, que fará ainda dois festivais ao ar livre e um concerto pop.
Por enquanto, os resultados são animadores, afirma Tim Boersma, porta-voz da Fieldlab (que conduz o experimento). Nos dois primeiros eventos, não houve nenhuma infecção entre os que se submeteram aos testes (80% dos participantes). Entre os espectadores do primeiro jogo, uma pessoa recebeu resultado positivo. O resultado do segundo jogo ainda não ficou pronto.
No Ziggo Dome, casa noturna de Amsterdã, além dos 50 “visitantes do passado” havia cinco grupos de participantes dos tempos do corona: parte usava máscara o tempo todo, outra só quando se movimentava, o acesso ao bar era restrito e alguns tinham lugar pré-determinado para sentar e dançar.
Alguns participantes foram seguidos por observadores, e as festas foram filmadas com uma tecnologia chamada dynamic crowd measurement, que facilita a análise dos movimentos. Todos usavam uma etiqueta eletrônica que registra os contatos com uma precisão de 10 centímetros e permite computar quantos encontros houve e quanto eles duraram. No caso dos 50 baladeiros liberados, a dispersão das gotículas de saliva também foi rastreada, com a ajuda da bebida fluorescente.
No sábado, a festa reuniu na casa noturna 1.578 pessoas, entre funcionários e voluntários que pagaram 15 euros (cerca de R$ 100) pelo ingresso. No domingo, foram 1.482. Mais de 100 mil interessados acessaram a página, e os lugares se esgotaram em 20 minutos.
Além dos limites impostos à maioria dos grupos, o horário das baladas experimentais foi atípico: das 15h às 19h, para respeitar o toque de recolher nacional, das 21h às 4h30. No final, todos são aconselhados a limitar suas atividades sociais por até 10 dias, para reduzir ao máximo a chance de contágio.
Em cada um dos eventos, os pesquisadores testam diversas variáveis, como as formas de evitar que pessoas infectadas participem, a melhor maneira de rastrear contatos depois e como influenciar o comportamento do público –nas baladas, por exemplo, uma das observações foi que parte dos que deveriam ter ficado de máscara tiraram a proteção quando começavam a dançar.
Fatores como a qualidade do ar nos locais fechados, o efeito da dinâmica do evento (número e duração de contatos, dispersão de saliva) no risco de transmissão também são pesquisados.
Ao final da rodada de experimentos, terão sido estudados eventos-piloto de quatro tipos diferentes: 1) passivo interno, com visitantes controlados, como congressos, concertos e cinema; 2) ativo interno, quando participantes podem gritar ou cantar, como nas baladas; 3) ativo externo, como jogos esportivos ou concertos ao ar livre e 4) festivais.
Nesse último, na definição dos organizadores, “os visitantes ficam entusiasmados, divertem-se de forma exuberante, dançando, rindo e conversando”. “Circulam e se reagrupam em vários locais.”
Cerca de três semanas depois de cada evento, os resultados são compartilhados com o Instituto Nacional de Saúde Pública e Meio Ambiente e o OMT. Com base neles, as autoridades de saúde farão recomendações para as próximas etapas de reabertura.
Com 4.500 novos casos na média da última semana, a Holanda vê a epidemia mais controlada em relação ao pico de 11 mil casos registrados em dezembro, mas ainda está longe dos menos de 100 por semana de maio e junho do ano passado. O país teve na média dos últimos sete dias 39 mortes, contra mais de 150 mortes em abril do ano passado. Nessa segunda onda, o maior número foi em janeiro: 106 mortes.
Até este domingo, o governo holandês havia administrado 5,9 doses de vacina para cada 100 habitantes, abaixo da média da União Europeia.
As informações são da FolhaPress/JBr