São Paulo — A AFBNDES, associação que representa os funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), questionou neste domingo a diretoria da instituição de fomento após a destituição de uma executiva da área jurídica, em meio a tensões com técnicos da área responsável pela gestão da carteira de participações acionárias. O tema será tratado numa assembleia da AFBNDES nesta segunda-feira, 7, às 14h30.
A superintendente Luciana Tito foi destituída do cargo à frente da área jurídica operacional na última quinta-feira, 3, por causa de divergências em torno da estratégia para acelerar as vendas da carteira do BNDES, como revelou o Broadcast/Estadão. O estopim da destituição foi a oferta pública de ações do Banco do Brasil (BB), anunciada também na quinta-feira.
Na quarta-feira, a Coluna do Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, revelou que 20.785.200 ações do BB de posse da União, e administradas pelo BNDES, ficariam de fora da oferta, que venderá papéis em Tesouraria do próprio BB e que estão na carteira do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), gerido pela Caixa.
A oferta poderá movimentar R$ 5,7 bilhões. O BB transferiu as ações de posse da União para o BNDES em agosto, para serem vendidas – a diretoria do banco de fomento tentou aproveitar a oferta para vender os papéis.
Segundo fontes ouvidas sob condição do anonimato, regras internas do BNDES exigiriam pareceres jurídicos e técnicos para justificar a precificação dos papéis do BB conforme definidos na oferta. Divergências em torno dessas regras entre a diretoria do BNDES e Tito teriam levado à destituição da funcionária do cargo da superintendente. O BNDES não comentou a destituição da executiva.
“As circunstâncias do afastamento recente de uma das mais respeitadas advogadas do Banco da superintendência jurídica operacional confirma que a governança do Banco está sob sério risco e nos deixa seguros sobre a necessidade de demandar publicamente explicações”, disse a AFBNDES, em nota divulgada neste domingo. Nela, a entidade se diz “perplexa com a forma como tem sido conduzida a BNDESPar”, a empresa de participações do banco de fomento.
Como mostrou o Estadão/Broadcast desde terça-feira, 1º, as tensões passam pela opção entre fazer ofertas públicas, como a do BB, ou usar a “mesa de operações” do BNDES e pelo cumprimento dos normativos que balizam essas decisões. No BNDES, circulam comentários sobre receios, entre os técnicos da área, de vender as ações baratas demais.
“Os cargos de chefe de departamento na AMC (Área de Mercado de Capitais) continuam em aberto pela dificuldade de se encontrar empregados do BNDES, especialmente que tenham experiência na área de mercado de capital, que aceitem as diretrizes e os procedimentos que foram adotados. As sinalizações são de que a atual gestão opta por saídas violando o conhecimento técnico do setor, como a preferência de utilização de venda de ações por ‘oferta pública’ em casos que seria indicado a ‘venda em mesa’”, diz a nota da AFBNDES.