*Frutuoso Chaves
Duvido que houvesse menino, por malvado que fosse, capaz de caçar, ou machucar, uma lavadeira, aquele passarinho com plumagem branca e preta e uma máscara estreitinha, quase uma fita, que se esticaria de orelha a orelha se, na verdade, orelhas tivesse. Sabem não? Aquelas avezinhas que lavaram a roupa do Menino Jesus.
Nunca mais vi um desses bichinhos. Lembro que visitavam a calçada da loja de tecidos de Seu Ernesto, notadamente, em dias de chuva, para o banho em poças d’água.
Imbatível na balieira, o amigo Coló, que não poupava bicho de pena, diminuía os passos, pisava devagarinho e desviava a rota a fim de sequer espantar uma daquelas aves. Talvez, em respeito, também, à condição da própria mãe que vivia de lavar a roupa de boa parte das famílias de Pilar.
Lembro dela: uma senhora calma, magrinha e de olhar triste. Nunca ouvimos um impropério de sua boca. Não fosse pelo passarinho, eu juraria que seria sua a incumbência sagrada de lavar camisa de santo.
Já perto da mudança para João Pessoa, aos 14 anos, eu ainda via bandos pequenos de lavadeiras nas praças e calçadas de Pilar. Surgiam em grupos de três, ou quatro, a revirarem folhas em busca de insetos. Tinham um canto suave e alegre e empinavam o peito enquanto batiam as asas para se mostrarem umas às outras. Mansinhas, permitam a aproximação humana, à distância de dois passos, desde que se andasse com os pés leves de Coló.
Atino, de repente, para a ausência de lavadeiras no Recife da minha infância. Também, para o fato de que vi pouquíssimas no Centro Comercial de João Pessoa, ou no bairro da Torre, para onde vim, apesar de áreas grandes o suficiente para conterem, a um só tempo, 30 cidades do tamanho de Pilar.
Já capaz de pesquisar o tema, não cheguei a supor que fossem seres nativos daquelas beiradas do Rio Paraíba, como José Lins do Rego, ou o Major João José Maroja, menor, este último, em significância.
Li que, cientificamente, as lavadeiras têm o nome de “Fluvicola nengeta”, coitadas. A coisa resulta da mistura de latim com tupi. Remete à ideia de “fluvius”, rio. E “nengeta”? Sei lá…
Também não sei se foram os pardais – passarinhos robustos e territorialistas em vão importados da Europa nos anos de 1900 para comer o mosquito da febre amarela, no Rio de Janeiro – que expulsaram dos perímetros urbanos as lavadeiras. Estas mal chegam, cada uma, a 20 gramas. Por falar nisso, as andorinhas também andam sumidas. Os feiosos pardais, não. Aí, tem
* Jornalista profissional com passagens pelos jornais paraibanos A União (Redator e Chefe de Reportagem), Correio (Redator e Editor de Economia), Jornal da Paraíba (Editorialista), O Norte (Editor Geral), O Globo do Rio de Janeiro e Jornal do Commercio do Recife (correspondente na Paraíba, em ambos os casos). Também pelas Revistas A Carta (editada em João Pessoa) e Algomais (no Recife).