Aracy estava internada na Clínica São Vicente, na Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e lutava contra um câncer de pulmão desde o fim do ano passado.
Aracy Balabanian, em Cheias de Charme — Foto: Raphael Dias/TV Globo
A atriz Aracy Balabanian, a icônica Dona Armênia de “Rainha da Sucata” e a impagável Cassandra de “Sai de Baixo”, morreu na manhã desta segunda-feira (7), aos 83 anos.
Aracy estava internada na Clínica São Vicente, na Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e lutava contra um câncer de pulmão desde o fim do ano passado. A causa da morte não foi revelada.
Uma das últimas imagens de Aracy foi de um encontro com Claudia Raia e o filho, Luca, em uma visita ao Rio de Janeiro no mês passado.
Aracy Balabanian e Luca, filho da atriz Claudia Raia — Foto: Reprodução/ Instagram
Sul-matogrossense de ascendência armênia
Filha de imigrantes armênios, ela nasceu em 22 de fevereiro de 1940 em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
Aracy se reconheceu como atriz aos 12 anos de idade, já morando na cidade de São Paulo com a família. Ela foi levada pelas irmãs mais velhas para assistir a uma peça de Carlo Goldoni com a companhia de Maria Della Costa.
“Eu chorei muito. Estava emocionada porque era aquilo que eu queria. É muito difícil para uma criança de 12 anos, ainda mais naquela época, querer ser atriz e já perceber que ia ter muitas dificuldades”, disse Aracy ao Memória Globo.
Para realizar o sonho de estar nos palcos, a menina teve que driblar a rejeição do pai, que era contra a filha seguir a carreira. “Eu comecei numa época em que não era bonito fazer televisão, nem teatro”, lembrou.
Aracy Balabanian em Vila Sésamo, na década de 1970 — Foto: Reprodução/ TV Globo
Elogios aos 14 anos
Mas Aracy venceu a resistência em casa e, aos 14 anos, foi convidada por Augusto Boal — então diretor do Teatro de Arena — para um teste no Teatro Paulista do Estudante.
Ela passou, e o primeiro trabalho foi a peça ‘Almanjarra’, de Arthur Azevedo, que lhe valeu elogios dos críticos Décio de Almeida Prado e Sábato Magaldi. “Eles escreveram uma crítica que terminava dizendo: ‘Aracy Balabanian: guardem esse nome’. Eu fiquei possuída”.
Fez vestibular aos 18 anos para a Escola de Arte Dramática de São Paulo e para Ciências Sociais, na USP – este, atendendo ao desejo do pai. Aprovada em ambos, abandonou o último no terceiro ano para se dedicar totalmente ao teatro.
Participou de espetáculos encenados pelo Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC – entre eles, ‘Os Ossos do Barão’, de Jorge Andrade, em 1963 – e integrou o elenco da primeira montagem no Brasil do musical ‘Hair,’ em 1969, dirigido por Ademar Guerra.
Aracy Balabanian em ‘Coração Alado’, 1980 — Foto: Acervo Globo/Memória Globo/Reprodução
A partir de então, Aracy Balabanian deu vida a diversos personagens que ficaram marcados na memória do público. Entre eles estão Gabriela, do programa infantil “Vila Sésamo”, em 1973.
A atriz passou dois anos trabalhando na Rede Manchete. Lá, entre 1986 e 1988, ela integrou o elenco das novelas “Mania de Querer” e “Helena”.
A atriz voltou para a Globo em 1989, interpretando Maria Fromet em “Que Rei Sou Eu?”.
Bis de personagem
Aracy Balabanian como Dona Armênia em ‘Rainha da sucata’, de 1990 — Foto: Nelson Di Rago/Memória Globo/Reprodução
Em 1990, conquistou o país com a Dona Armênia, de “Rainha da Sucata”, mãe controladora de três filhos. Ela emprestou o sotaque e alguns costumes armênios da família à trama. O personagem fez tanto sucesso que voltou em “Deus nos Acuda”, de 1992.
“Minha mãe era uma mulher toda aplicada, mas nós tínhamos uma vizinha que falava muito alto, que se metia na vida de todo mundo. Então, eu fiz um pouco assim. Foi uma loucura o sucesso da personagem”, disse. O bordão “na chon!” é lembrado até hoje.
A atriz interpretou a manipuladora Filomena em “A Próxima Vítima”, de 1995. O papel lhe deu o prêmio de Melhor Atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte.
Aracy Balabanian em ‘A Próxima Vítima’, de 1995′ — Foto: Acervo Memória Globo/Globo/Reprodução
Sai de baixo!
A consagração veio também com Cassandra, em “Sai de Baixo”, de 1996. Ela vivia uma socialite decadente.
“Eu me vi fazendo uma coisa que é o sonho de todo ator: teatro e televisão, ao mesmo tempo. Só que era um espetáculo ensaiado em uma tarde”, contou Aracy ao Memória Globo.
O programa, exibido no domingo à noite, era gravado em um teatro com plateia e incorporava risos e improvisos do elenco.
‘Sai de Baixo’ também era estrelado por Luis Gustavo, Miguel Falabella, Marisa Orth, Cláudia Gimenez e Tom Cavalcante, e teve seis temporadas.
“Marisa Orth e eu fomos as primeiras a chegar para o Daniel Filho e dizer: ‘Não vai dar, tira a gente’. Mas eu acho que nós fomos ficando sem-vergonhas e descobrimos que o público gostava mesmo era de nos ver errar. Quando passou esse susto de ‘não podemos errar’, a gente se divertiu muito”.
Aracy Balabanian como Cassandra em ‘Sai de Baixo’ — Foto: Reprodução/ TV Globo
Outras novelas
A atriz também participou das novelas ‘Da Cor do Pecado’ (2004), na qual foi a governanta Germana; e ‘Passione’ (2010), como Gemma, irmã mais velha do protagonista Totó (Tony Ramos).
Da tradicional matrona italiana, a atriz interpretou o papel da ucraniana Máslova Tilman em ‘Cheias de Charme’, em 2012.
Em 2013, Aracy Balabanian viveu Dona Bubu, mãe de Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes), no remake de Saramandaia — o filho virava um lobisomem toda noite de quinta-feira.
No ano seguinte, fez a dona de casa Iracema, em ‘Geração Brasil’. Durante as gravações, atriz teve que se afastar durante cerca de um mês em decorrência de uma infecção respiratória — mas o núcleo que formou com as atrizes Daisy Lúcidi e Lady Francisco fez sucesso e foi ganhando espaço na trama.
Mais recentemente, Aracy Balabanian continuou mostrando seu talento nas novelas ‘Sol Nascente’ (2016) e ‘Pega Pega’ (2017). Em 2018, ganhou uma homenagem do elenco de ‘Malhação – Vidas Brasileiras’, quando completava 56 anos de carreira. A atriz fazia uma participação como Janete, a avó do personagem Kavaco (Gabriel Contente).
O último trabalho foi em 2019, no especial de fim de ano ‘Juntos a Magia Acontece’, interpretando Dona Rosa.
Fonte: g1