Maria José Rocha Lima
Na foto, um casamento que durou 60 anos: o casamento do tio Clóvis Lima com a minha tia Teresa Amorim. A foto foi um presente da minha prima Geruza. Um testemunho de casamento de almas. Os guardas de honra são meu primo Verinho, minha irmã Sueli e eu. No Brasil, da década de 50 do Século XX, era regra geral que os casais durante a cerimônia tivessem guardas e damas de honra. As noivas escolhiam as crianças da família.
Contam que herdamos a tradição das damas e guardas de honra dos romanos. Dizem que os romanos eram muito supersticiosos, e tinham medo de espíritos malignos. Então, no momento do casamento, eles cercavam os noivos com pessoas vestidas iguais a eles, o que confundiria os maus espíritos e não permitiria que eles interferissem na cerimônia.
Nossos tios se casaram, viveram seis décadas e tiveram seis filhos muito queridos: Geruza, Lucivaldo, Clóvis Filho, Nelson, Rodivaldo e Silvana. Também com essas damas e guarda de honra, tinha que dar certo! Viveram lado a lado e curiosamente um morreu dois meses depois do outro.
Eram muito amigos, dividiam não só as alegrias, mas também as dificuldades. Eram uma força em dose dupla para solucionar os problemas da vida e também para triplicar felicidades. A minha tia Teresa era brincalhona, entrosava-se com facilidade, gostava do jeito baiano de ser. Tinha um tio vereador de Salvador, Rubem Amorim, que atuou durante várias legislações e tinha base eleitoral em Paripe, subúrbio praieiro de Salvador, onde residiam. Talvez por isso a tia Teresa fosse tão desinibida. Tio Clóvis era discreto, sempre sério, calado, muito firme e de muita fibra. Meu pai, Hugo Lima, sempre falava do irmão: Clóvis é muito correto! Nosso tio não era de dar repreensões aos filhos a toda hora, mas os avisava: façam a coisa certa, mas se fizerem coisa errada não contem comigo, lembrou Geruza.
Assim, foi um homem muito querido, respeitado por todos, reconhecido pelos filhos, vizinhos, irmãos, sobrinhos e demais parentes como alguém de caráter irretocável. Lembrei-me do amigo, o cantor e compositor Vital Farias, que se inspirou em sua mãe para fazer uma canção. Dona Olívia, a mãe de Vital, costumava dizer: “Ali vai uma pessoa”, para se referir a alguém a quem ela considerasse gente decente, uma pessoa justa, honesta, autêntica, que fazia, sempre, a coisa certa.”
Sobre o meu tio Clóvis, no momento da sua morte, um sobrinho dele, Avelivaldo Modesto, o Verinho, aquele da foto de guarda de honra, me disse: “Prima, titio Clóvis era um homem de bem, um homem honrado, um homem honesto, como ele não conheci nenhum outro”. E hoje a sua filha mais velha, Geruza, falou: “Só existia um homem honrado, honesto: meu pai”.