quarta-feira, 20/08/25
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Amazônia ainda pode evitar ‘ponto de não retorno’, aponta estudo

Levantamento diz que não há colapso climático único iminente para toda a floresta, mas alerta para avanço do “efeito martelo”: pressão direta causada por desmatamento, fogo e fragmentação do bioma.

Reprodução/Internet

 

A Amazônia não está condenada a um colapso inevitável, mas o tempo para agir está se esgotando.

É isso o que mostra um recente estudo liderado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e publicado na revista científica “Annual Review of Environment and Resources” nesta semana.

A pesquisa indica que não há evidência de um único ponto de não retorno climático para todo o bioma, mas alerta que múltiplos colapsos regionais já se desenham, impulsionados pela combinação de desmatamento, queimadas, perda de fauna, fragmentação e mudanças no regime de chuvas.

O estudo também chama atenção para o chamado “efeito martelo”, que descreve a pressão direta e constante provocada por ações humanas como desmatamento, queimadas, exploração madeireira, fragmentação e perda de fauna.

Diferente de um colapso climático irreversível, esse processo ainda pode ser contido, desde que as causas sejam enfrentadas de forma imediata.

“Embora as mudanças climáticas e os distúrbios locais já estejam provocando grandes transformações negativas na Amazônia, a falta de evidências de um colapso florestal iminente causado exclusivamente pelo clima (sem o fator fogo) também representa uma janela crucial de oportunidade. O destino da Amazônia não está predeterminado por um único ponto de não retorno — as escolhas, políticas e ações tomadas hoje podem direcionar a região para um futuro mais sustentável”, afirmam os pesquisadores no artigo.

Essa pressão, no entanto, não para de crescer. Entre 2024 e 2025, a degradação florestal aumentou 497% em relação ao ano anterior, atingindo mais de 36 mil km²,impulsionada principalmente por incêndios.

No mesmo período, o desmatamento subiu 4%, chegando a 4.495 km². O fogo sozinho respondeu por 15% da perda total da floresta no período — quase o dobro do pico registrado em 2016.

Apesar do cenário, o IPAM afirma que a resiliência da Amazônia permanece, especialmente nas regiões mais conectadas e com cobertura florestal contínua.

Medidas urgentes

Para tentar conter esse avanço, o estudo propõe cinco frentes prioritárias: reduzir o desmatamento — chamado de “primeira linha de defesa”, restaurar áreas degradadas, manejar incêndios, fortalecer políticas públicas e ampliar a cooperação com povos indígenas e comunidades tradicionais.

Esses territórios concentram apenas 1,6% da perda de vegetação nativa no país entre 1985 e 2020 e foram responsáveis por proteger 20% das florestas brasileiras no período.

“Florestas inseridas em uma matriz com alta cobertura florestal podem recuperar rapidamente a biomassa e a riqueza de espécies arbóreas”, diz o texto do estudo.

 

Além das cinco frentes prioritárias já citadas, o estudo destaca ainda que a eficácia dessas ações depende de coordenação em larga escala e da integração entre políticas ambientais, econômicas e sociais.

A redução do desmatamento, por exemplo, exige não apenas fiscalização, mas também incentivos para atividades sustentáveis que mantenham a floresta em pé.

Já a restauração de áreas degradadas é apontada como essencial para reconectar fragmentos florestais, ampliar a biodiversidade e recuperar funções ecológicas.

O documento ressalta também que áreas cercadas por alta cobertura de floresta tendem a se regenerar mais rápido, tanto em biomassa quanto em diversidade de espécies.

No manejo do fogo, a recomendação é combinar prevenção — como a criação de aceiros e o controle de queimadas ilegais — com estratégias de resposta rápida para evitar que incêndios se tornem incontroláveis. O estudo alerta que a intensificação das secas aumenta a vulnerabilidade da Amazônia a queimadas severas.

Por fim, ainda segundo os pesquisadores, o fortalecimento de políticas públicas é apresentado como um pilar de sustentação dessas medidas.

E isso envolve desde a aplicação efetiva de leis ambientais até a garantia de financiamento contínuo para programas de conservação e pesquisa.

 

 

 

 

 

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