*Maria José Rocha Lima
Alunas do CED 11 de Ceilândia, cidade satélite de Brasília foram obrigadas a dançar Funk, semi – nuas no banheiro da escola. Depois foi verificado que a arma era de brinquedo. Mas as alunas e a direção ficaram apavoradas e indignadas com a violência e desassombro desses “alunos”, que se comportam como verdadeiros delinquentes. A violência escolar no Distrito Federal é uma realidade inegável. Claro que violência escolar é hoje um fenômeno mundial, mas isto não nos autoriza a conviver com este fenômeno avassalador, no coração do poder no Brasil. Há exatamente um ano, no mês de agosto de 2018, foi publicado no G1 do Distrito Federal uma pesquisa feita pelo Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro) revelando que 58% dos educadores do DF dizem ter sido vítima de algum tipo de agressão na escola ou dentro da sala de aula. Os principais agressores são os estudantes (43%). O relatório mostra ainda que o tipo mais comum de violência é a verbal, citada em 43% das entrevistas. Em seguida, estão as ameaças (29%) e o bullying (11%). Dez anos depois da publicação de um relatório de análise criminal da Polícia Civil do Distrito Federal-PCDF-, fala-se em um crescimento geométrico dos atos de violência relacionados à escola. O documento mostra que, do total de professores entrevistados, 74% já presenciaram algum tipo de violência dos alunos contra outro educador. A maioria dos casos ocorreu em escolas das regiões de Ceilândia (15,8%), Plano Piloto e Cruzeiro (16%) e Taguatinga (8,5%). Ao todo, foram ouvidos 1.355 professores entre dezembro de 2017 e março deste ano. As professoras associam as causas principalmente ao uso de entorpecentes e à presença do tráfico em locais nas proximidades das escolas. Também o “estresse no ambiente escolar” é citado. Os dados do SINPRO corroboram os da PCDF, embora os da Polícia Civil sejam mais amplos por ter alcançado um número muito elevado de unidades escolares; por abordar um espectro maior de fenômenos de violência; e por dispor, supomos, de informações estratégicas de inteligência.
Já em 2008, era observada uma violência preocupante nas escolas do DF, de acordo com o relatório de Análise Criminal, da Polícia Civil, realizado a partir de dados colhidos em 406 unidades escolares das 642 existentes no DF. O relatório reuniu dados das regiões administrativas e dos lagos, com exceção do plano piloto, mostrando dados preocupantes e estarrecedores. Em 30% das unidades de ensino, das 406 consultadas, foram registrados casos de alunos que deixaram de ir à escola com medo da violência; em 38% das unidades a iluminação pública era insuficiente; 41% das escolas têm bares, nas proximidades; 33% têm comércio e 26% têm ambulantes nas proximidades da escola. Em 39% das escolas foram registrados eventos como roubo, ameaça à vida, agressão física contra professores e funcionários dentro ou nas proximidades da escola. Em 31% das escolas foram registrados eventos envolvendo alunos como vítimas de ameaça pela internet. O consumo de drogas nas dependências da escola ocorria em 4% delas sempre e em 24% ocasionalmente. Já o consumo de drogas nas proximidades da escola era de 37% sempre e 36% ocasionalmente. Os índices relativos ao tráfico de drogas nas dependências da escola era de 4% sempre e 18% ocasionalmente. O uso de álcool nas dependências da escola é de 2% sempre e 26% ocasionalmente. Isto, porque os diretores não conseguem identificar a ingestão de álcool, que segundo os professores é camuflada pelo uso frequente de garrafas de sucos; de água porque em Brasília se vivencia o fenômeno da falta de umidade elevada, obrigando os gestores a permitirem o porte desses recipientes. Também é preocupante a ação de gangues no interior da escola, envolvendo ou não alunos, chega a ocorrer em 16% das escolas. , uma política pública de enfrentamento da violência escolar é das mais urgentes e necessárias, pois ninguém aprende com medo.
Maria José Rocha Lima. É mestre e doutoranda em educação.Foi deputada estadual da Bahia de 1990 a 1999. E fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira.