Uma aluna de publicidade e ropaganda da Universidade de Brasília (UnB) expõe a partir desta sexta-feira (24), no Terraço Shopping, fotografias que exaltam a beleza do cabelo afro e a importância dele para a identidade da mulher negra. Trabalho de conclusão de curso de Sophia Costa, de 21 anos, a mostra “Raízes” vai até o dia 3 de julho e traz 12 imagens de garotas nos papéis de guerreiras, deusas e rainhas africanas.
“O objetivo é mostrar que, quando a mulher negra assume suas raízes, seu cabelo natural, ela se empodera pessoalmente e socialmente. Essa exposição mostra como o cabelo é capaz de fazer a mulher se achar mais bonita e ter uma visão mais forte perante o mundo”, diz a estudante.
Atualmente Sophia se orgulha do cabelo ao natural, mas nem sempre foi assim. Ela conta que alisava as madeixas desde os 13 anos. “Me sentia obrigada (a fazer alisamento), era uma pressão da sociedade. Eu achava que ter o cabelo liso era a única maneira de ficar bonita.”
“Desde criança eu relaxava o meu cabelo. Depois comecei a fazer progressiva a cada três meses. Eu achava que tinha de focar em outras coisas positivas em mim, porque eu nunca teria o cabelo bonito. Na televisão, nas revistas que eu assinava, nos filmes, em todo lugar tinha o bombardeio de que bonito mesmo era o cabelo liso. Não tem como se achar bonita quando você é criança e não se vê em lugar nenhum.”
Sophia conta que a “obsessão” por madeixas alisadas atrapalhava o dia a dia. “Eu tinha que ir ao salão toda semana. Fazia de tudo para não molhar o cabelo. Se chovia, eu não saía. Também não entrava em piscinas. Deixava de fazer qualquer coisa para escovar o cabelo. Acabava com o meu dia.”
Além disso, ela ainda precisava lidar com incômodos. “A escova progressiva é uma química muito forte, que machuca, mas, para mim, não importava. O importante era ter o meu cabelo liso e escorrido”, disse.
Segundo a universitária, os lugares que frequentava também a impediram de assumir o cabelo afro. “Sempre estudei em escolas particulares. Todas as minhas amigas eram brancas e tinham fios lisos. No ensino médio, as poucas meninas negras que havia no colégio também faziam alisamento. Então, eu realmente tinha essa necessidade de alisar o cabelo.”
A garota conta que as coisas começaram a mudar no meio da graduação. “Passei a pegar matérias fora da Faculdade de Comunicação, que também é um lugar bem padrão, e comecei a ver meninas negras que assumiam o cabelo. Eu achava elas lindas e pensava: por que não posso ser assim? Ver essas meninas empoderadas me fez começar a querer mudar.”
Ela começou a ler sobre transição capilar e iniciou o processo que, segundo Sophia, durou um ano. “Durante a transição, o seu cabelo fica completamente indefinido. Fica parte natural e parte liso. Com o tempo, fui lendo mais sobre o assunto e percebi que não era apenas sobre estética .”
Sophia diz que aprendeu muito durante o procedimento. “Esse período mudou a forma como eu vivia e encarava o mundo. Passei a ler autoras negras e entrei em contato com o feminismo negro”. Não foi fácil. “A transição é um momento complicado, porque as pessoas ficam perguntando o porquê de você usar o cabelo natural.”
“Passei a entender porque eu rejeitava o meu cabelo natural. Percebi que não era só um processo individual, era coletivo também. Vi que todas as meninas negras passam por isso. Assumir o cabelo afro é um ato político. Estamos em um país que é muito racista, então você tem de se afirmar o tempo todo. Nós não temos o simples direito de usar o cabelo natural. O racismo está no meu cabelo, no formato do meu nariz e no formato dos meus lábios.”
Ela ainda relembra que o alisamento trazia sentimentos confusos. “Tem toda essa pressão para você alisar para se sentir bonita. No dia, fica lindo e você se sente ótima. Mas depois, os dias vão passando e ele quebra. O fio fica seco. Eu fazia para ser aceita, mas não me sentia eu, não me sentia bonita no final. Olhava no espelho e pensava que aquele cabelo não combinava comigo. Pensava que aquele cabelo não era eu.”
A ideia do ensaio veio da necessidade de usar a experiência da graduação no trabalho de conclusão de curso. No início, ela iria fazer um livro. “Mas aí uma das modelos disse que as fotos tinham ficado tão legais e que eu precisava fazer um exposição”, conta. As modelos estão vestidas com acessórios e maquiagem que lembram o continente africanos.
“Queria falar sobre a questão do empoderamento. Li muito sobre guerreiras e rainhas africanas. As meninas representam essas mulheres. Trouxe elementos da África porque o negro do Brasil ainda não tem uma identidade consolidade. Então foi a forma que encontrei de representar o negro.”
As fotografias foram feitas em quatro finais de semana no estúdio da Faculdade de Comunicação da UnB. De acordo com a aluna, foram gastos mais de R$ 3 mil na mostra.