Pressionada pelo preço dos alimentos, a prévia da inflação oficial brasileira registrou em setembro sua maior alta desde 2012. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15) acelerou para 0,45% no mês, após alta de 0,23% em agosto.
O resultado ficou acima da expectativa dos economistas, que era de uma alta de 0,39% para o indicador em setembro, segundo a média das projeções colhidas pela Bloomberg.
No ano, a inflação acumulada é de 1,35%. No acumulado de 12 meses até setembro, o índice também acelerou para alta de 2,65%, vindo de 2,28% em agosto.
Ainda assim, o IPCA-15 acumulado em 12 meses segue bem abaixo da meta de inflação estabelecida pelo governo para 2020, que é de 4%. Mas voltou a superar o piso da meta (2,5%), o que não acontecia desde abril.
A maior variação (1,48%) e o maior impacto (0,30 ponto percentual) no índice vieram do grupo de alimentação e bebidas, que acelerou em relação ao resultado de agosto (0,34%). Os alimentos consumidos em domicílio subiram 1,96% na prévia da inflação de setembro, ante 0,61% em agosto.
A maior contribuição (0,09 p.p.) veio das carnes, com alta de 3,42%. Já a maior variação foi a do tomate (22,53%), ante queda de 4,20% no mês anterior.
O óleo de soja (20,33%), o arroz (9,96%) e o leite longa vida (5,59%) também subiram. Com isso, os três itens acumulam no ano altas de 34,94%, 28,05% e 27,33%, respectivamente.
Os transportes tiveram a segunda maior variação em setembro, de 0,83%, puxada pela gasolina, que subiu 3,19%, na terceira alta consecutiva. O óleo diesel (2,93%) e o etanol (1,98%) também apresentaram alta.Muito demandados em meio à pandemia, com as pessoas ficando mais em casa, os artigos de residência registraram aumento de 0,79%, com avanço nos preços de TV, som e informática (2,04%) e eletrodomésticos e equipamentos (0,66%). Os preços do computador pessoal, subiram 17,99% de janeiro a setembro deste ano.
Por outro lado, houve uma forte deflação nos planos de saúde (-2,31%) em setembro, com a decisão da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) de suspender os reajustes de preços até o fim de 2020.
“Normalmente, o reajuste ocorre em julho e é retroativo a maio. Com a suspensão, todo o fator apropriado antecipadamente em maio, junho, julho e agosto, referente ao reajuste que seria anunciado em julho, foi descontado no IPCA-15 de setembro”, explicou o IBGE em comunicado.
Ainda na ponta negativa, os preços dos itens de vestuário continuaram em queda (-0,27%), embora o recuo tenha sido menos intenso que o observado nos meses de julho (-0,91%) e agosto (-0,63%).
A alta do preço dos alimentos, em meio a um aumento das exportações devido ao real desvalorizado e demanda internacional aquecida, tem sido fator de preocupação para o governo.
No início do mês, foi zerado o imposto de importação para 400 mil toneladas de arroz, numa tentativa de conter a carestia do cereal.
Antes disso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu “patriotismo” aos donos de supermercado para evitar uma alta de preços maior de itens da cesta básica.
Economistas ouvidos pelo Banco Central para a elaboração do Boletim Focus voltaram a elevar nesta semana suas projeções para a inflação de 2020, de 1,94% para 1,99%. Foi a sexta semana seguida de aumento na projeção. Para 2021, a expectativa é que o indicador feche o ano em 3,01%.