Arnaldo Niskier
da Academia Brasileira de Letras e Comendador
do Tribunal Regional do Trabalho
A taxa de fecundidade no Brasil não passa de 1,57 filho por mulher, segundo o IBGE. No filme “Adolescência”, o ator e diretor Stephen Graham revela que “como pais, tentamos dar aos nossos filhos o máximo de orientação e amor possível. Mas, no fim das contas, não temos controle sobre as suas escolhas”. É claro que o fator econômico é relevante, mas não podemos desconsiderar as razões comportamentais. Ter ou não ter filhos é uma decisão do casal.
A série televisiva “Adolescência” levantou várias discussões a respeito do tema. Por que um menino de 13 anos esfaqueia uma colega? A série aponta problemas nas redes sociais e o ambiente caótico em algumas escolas. Como deve ser o comportamento do corpo docente, em algumas dessas situações? Será que coibir o celular nessas escolas é a solução? Deve-se regular o seu uso fora delas.
A família retratada faz uma aposta de educação a longo prazo. Devemos comentar, com o devido cuidado, a famosa frase de Machado de Assis “não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. Teria ele razão?
Adolescentes têm crises de ansiedade, déficit de atenção, hiperatividade e depressão, além de dependência de celular e redes sociais, homofobia e bullyng inadmissíveis. Onde entra a culpa dos pais?
A felicidade não se garante com apenas um filho. A garantia de um bom comportamento não é coisa certa, mas é claro que o amor devotado às crianças, no tempo certo, pode dar bons resultados em matéria de educação. Nessa verdadeira loteria, não se pode assegurar a culpa do homem ou da mulher, nesse processo pedagógico. É certo que a educação dos filhos ocupa os pais, mas não garante um rumo adequado. Isso depende de fatores que não dominamos, mas que devemos cultuar. Filhos podem representar o maior amor do mundo, mas nem sempre os resultados são favoráveis, em termos de educação. O que se vê, hoje, nos consultórios de psiquiatria enche o nosso coração de preocupações. É preciso tratar a matéria com o maior cuidado.