As saídas temporárias de presidiários, a pretexto de ressocializá-los com a reintrodução ao convívio familiar, são mais uma criação do Estado brasileiro para não assumir suas responsabilidades de construir presídios para que os criminosos cumpram suas penas integralmente.
A hipocrisia nacional leva juízes e promotores a fingirem que acreditam na ressocialização a partir de medidas como os saidões, os quais se transformaram em agendas do crime organizado para a realização de assaltos, sequestros e acertos de contas entre desafetos.
A criminalidade aumenta de forma absurda durante os saidões, mas a frouxidão leva autoridades de Segurança Pública, gente de uma frieza tumular e alguns do coração de lata, a buscarem argumentos para justificar tantos crimes de uma só vez.
O saidão do Dia da Mães foi trágico no Distrito Federal: seis homicídios consumados e 10 tentados, dois latrocínios consumados (um deles vitimou o revisor Rubens Bonfim Leal, do Correio Braziliense) e um tentado, 227 assaltos a pedestres, 62 furtos de veículos, cinco roubos a residências e dois roubos com restrição de liberdade da vítima.
Chega de fingir que está tudo bem. Vivemos em uma guerra, a cidadania não pode ser refém de políticas ditadas pelos interesses dos bandidos. É hora de inverter essa lógica infame. A lei precisa proteger o cidadão e a cidadã que se acordam às 5h da manhã para ganhar o pão de cada dia e não o criminoso que ataca as vítimas no ponto de ônibus.
A lei deve ser clara: pena é para ser cumprida e paga, sem arremedos para favorecer bandoleiros.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.