Fachada da do CEF 410 na Asa Norte declara luto pela morte de professor. — Foto: Aline Ramos/G1
Enquanto passava mal, Odailton enviou áudios a amigos afirmando que o mal estar teria começado depois que ele tomou um suco de uva oferecido por uma colega de trabalho com quem tinha desavenças. A polícia afirma que não foram encontrados indícios do suco nos materiais analisados.
A direção da escola também emitiu nota afirmando que nenhum servidor ofereceu qualquer líquido a Odailton. A unidade ainda desmente diversos pontos citados pelo professor nos áudios enviados aos amigos.
Segundo o delegado Laércio Rossetto, responsável pelas investigações, “a hipótese de morte natural está descartada”. No entanto, a polícia ainda não conseguiu determinar exatamente o que ocorreu.
Entenda o caso
Odailton passou mal no dia 30 de janeiro, dentro do CEF 410. Ele morreu na terça, após cinco dias internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
Nas gravações enviadas a amigos , o professor afirma que o mal estar teve início após tomar o suco. Diz ainda que a colega o recebeu “com ódio no olhar” e que teria oferecido o suco quando os dois estavam sozinhos. Ele também levantou a hipótese de ter sido envenenado.
Veja transcrição abaixo:
“Minha amiga, eu tô te mandando a mensagem porque tu demora a atender. Aí eu fico agoniado. Eu cheguei aqui, a mulher com uma cara feia da p* para mim. Os quadros que eu tinha deixado já tavam tudo empilhado para eu carregar. Minha folha de ponto para assinar. Quase que ela não deixa eu entrar na escola.
Aí depois ela viu que eu estava de boa e tal, não sei o quê. Mas a mulher com ódio, ódio, ódio nos olhos, né? Aí eu fui, aí ela me chamou na salinha ali para assinar a folha de ponto. Aí quando eu fui ver ainda me deu uma garrafinha de suco de uva. Tomei até um susto. Uma garrafinha dessas, né… Aí eu falei: ‘Não vou tratar mal, né? Não vou ser deselegante não’. Eu fiquei meio receoso, mas aí fui e tomei.
Eu não sei…agora, já tem uns 15 minutos. Agora, tá me dando uma dor de barriga desgraçada. Será se essa p* botou algum laxante para me sacanear? Botou alguma coisa dentro dessa p* desse suco de uva. Porque não é possível a dor na barriga que eu tô.
Eu hein, tô grilado agora, agora eu tô grilado. A mulher me olha de cara feia. Aí depois que o pessoal sai todo de perto, que ela me põe ali naquela salinha, que era do Bira, para assinar a folha, e me vem com uma garrafinha de suco de uva e me dá.
Sei lá, agora eu tô com o estômago aqui f*, doendo. Não sei que p* é essa. Tô com medo vou até ligar para a minha mulher. Mas vamos esperar, não deve ser nada não, deve ser dos meus remédios. Vai dar tudo certo. Ai, não é possível que ela tenha a coragem. Ah meu pai do céu.”
O que diz a direção da escola
Já a direção do CEF 410 nega a versão do professor. Em nota divulgada na sexta-feira (8), a unidade afirma que em nenhum momento o professor ficou sozinho com a servidora citada na conversa e que ele apenas ingeriu água enquanto esteve no local. Veja íntegra abaixo:
- Nenhum servidor de nossa instituição jamais serviu qualquer coisa ao professor Charles no dia do evento;
- A única substância líquida que o professor Charles ingeriu no CEF 410 Norte foi água, o que o fez por vontade livre, colhendo-a na sala dos professores diante de outras pessoas que ali estavam;
- Ao contrário do que foi divulgado pela imprensa, não havia nenhuma reunião agendada entre a atual equipe gestora e o ex-diretor;
- No dia do fatídico evento, encontravam-se na escola alguns servidores terceirizados e professores que, de forma voluntária, foram preparar as dependências que estavam em obras, antes da volta às aulas;
- Nas dependências da escola, antes e durante a chegada e permanência do professor Charles, encontravam-se aproximadamente 14 pessoas, entre professores, servidores terceirizados e pedreiros, incluindo 03 policiais militares do batalhão escolar;
- A nova diretoria assumiu a gestão em 02/01/2020 sem nenhum processo de transição com a gestão anterior, uma vez que o professor Charles estava ausente da escola desde 19/12/2019.
- O professor Charles não foi recebido com hostilidade na escola, antes, com o respeito que lhe era devido em razão do cargo que exercia;
- O professor Charles a todo tempo que permaneceu na escola, aproximadamente 2 horas, antes de passar mal, em nenhum momento ficou sozinho com a servidora apontada;
- Quando o professor Charles começou a passar mal, foi imediatamente socorrido pelos presentes;
- A servidora apontada foi a responsável por determinar que ligassem para a emergência do SAMU no momento que foi informada, na sala dos professores, que o professor Charles estava passando mal;
- A referida servidora foi a responsável pelas ligações para a esposa do professor Charles assim como para os amigos;
- Todos os procedimentos iniciais de socorro ao professor foram prestados pelo vigilante da escola, pela professora apontada e outros servidores que ali se encontravam até a chegada dos bombeiros.
Suposta denúncia de corrupção
Em outros áudios divulgados na sexta, o professor disse que faria uma denúncia contra a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto por suspeita de desvio de recursos. Na gravação, Odailton não cita nomes e nem detalha provas, diz apenas que vai reunir documentos.
O professor citou supostas práticas de propina e “rachadinha” entre funcionários da escola. “Está havendo racha de dinheiro, propina, para beneficiar empreiteiros”, diz no áudio.
Em nota, a Secretaria de Educação informou que as prestações de contas da escola entre os anos de 2009 e 2018 foram aprovadas. A documentação relativa a 2019 ainda não foi apresentada, mas está dentro do prazo, que acaba no final de fevereiro.
A pasta disse ainda que “aguarda as investigações policiais e a finalização do inquérito para se pronunciar”.