Maria José Rocha Lima
No Brasil, há escolas públicas que não vêm ofertando aulas presenciais ou remotas.
Nas escolas particulares, houve uma resposta rápida com a utilização de recursos digitais variados, como vídeos gravados e ao vivo; tarefas integrativas e tutores; utilização de recursos como “nuvens”, que permitem que um grande volume de dados fique disponibilizado para qualquer dispositivo que tenha acesso à internet, a qualquer momento; soluções digitais de leitura, com recursos tecnológicos, com os conteúdos produzidos por diferentes fontes e abordando diversos assuntos que ficam disponíveis de forma acessível e mais interativa. E, ainda, com a capacidade de personalizar a forma de aprendizagem, plataformas que usam sistemas inteligentes para perceber as dificuldades dos alunos a partir das suas interações e, assim, se ajustarem às suas necessidades.
Já as escolas públicas ainda não ofertam plataformas digitais para todos; a grande maioria dos professores não tinha formação para lidar com as mídias digitais; a maioria dos alunos não tem acesso à Internet; quase todos são filhos de pais das classes populares, trabalhadores, que não dispõem de tempo para acompanhar os estudos dos filhos, até porque muitos são subescolarizados.
Quase 20 milhões de alunos deixaram de ter aulas durante a pandemia. Estudos publicados preveem um abandono da escola três vezes maior da que já ocorria. O impacto da falta de aula presencial ou remota na evasão escolar é fatal. Sem vínculo com a escola, sem vínculo remoto ou presencial, o passo seguinte é o abandono escolar. Mais de cinco milhões de crianças e adolescentes já se desligaram da escola.
A alfabetização de crianças até os oito anos já era muito ruim e ficará pior. Em maio de 2018, o ex – ministro da Educação Rossieli Soares, em audiência pública no Senado Federal, informou que mais de 50% das crianças não estavam alfabetizadas no terceiro ano do ensino fundamental e mais de 370 mil foram reprovadas ou abandonaram a escola em 2016. No Norte e Nordeste, esse percentual chegava a 70%. No 6º ano, somente 82,8% foram aprovadas, mais de 570 mil foram reprovadas ou abandonaram a escola em 2016. Na 1ª série do ensino médio, em 2016, 791 mil jovens abandonaram a escola ou foram reprovados, isto representava 25,9%.
O que virá depois da farsa da escola pública? Há uma tragédia anunciada, e só investimentos robustos poderão recuperar a escola pública brasileira.
Diferentemente das escolas particulares, a resposta na rede pública foi morosa e absolutamente insuficiente. Por que não foram adquiridas plataformas digitais para todas as redes?
Por que não foram utilizadas nos estados as TVs e rádios educativas, com teleaulas, a exemplo do Telecurso da Fundação Roberto Marinho?
Por que não foram distribuídos celulares e tablets, e agilizados programas para a fundação de laboratórios de informática, nas escolas Brasil afora?
As escolas públicas exigirão investimentos robustos, porque nelas faltam banheiros, água potável, energia elétrica e áreas ventiladas e adequadas.
A retomada exige principalmente a garantia de medidas sanitárias protetivas para os professores. É necessária a readaptação dos professores portadores de comorbidades; contratação de professores substitutos, inclusive para reduzir a jornada dos que ensinam em mais de uma unidade de ensino, para diminuir a intensidade e duração do contato, aumentar as possibilidades de melhoria do ambiente escolar; vacinação ampla de todos os professores e funcionários de escolas.
Para os professores mais velhos, recomenda-se a continuidade e ampliação das aposentadorias, conforme reivindica a Associação Classista de Educação e Esporte da Bahia-ACEB.
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista e dirigente da ABEPP. Membro da Organização Internacional Clube Soroptimista Internacional Brasília Sudoeste