quinta-feira, 01/05/25
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A meu pai, no Dia do Trabalhador

Arquivo pessoal

 

Miguel Lucena

Quando penso no significado da palavra “trabalhador”, não vejo estatísticas, sindicatos ou slogans de campanha. Vejo meu pai, Miguel Vicente de Lucena. De enxada ao ombro ou com a velha máquina lambe-lambe a tiracolo, ele cruzava as ruas empoeiradas de Princesa como um Dom Quixote sertanejo, pronto a semear dignidade entre roçados e retratos. Fotografava batizados, casamentos, velórios e documentos — porque para ele toda vida merecia registro, todo rosto merecia ser reconhecido.

Vestia calça de brim, camisa “volta ao mundo” e chapéu de massa. Tinha pouco mais de 1,60m de altura, mas quem o visse mediando conflitos, defendendo os direitos dos trabalhadores ou levantando, com as próprias mãos, a sede do Sindicato em meio aos lajedos, via um gigante.

Presidiu o Sindicato dos Trabalhadores Rurais várias vezes. Não por vaidade, mas por missão. Transformou um terreno de pedras num oásis de cidadania: ambulatório médico, dentista, psiquiatra e solidariedade para quem mais precisava. Não havia burocracia, só cuidado.

Seu nome era sinônimo de respeito. Quando falava, calavam-se juízes, políticos e coronéis. Quando chorou a morte de Margarida Alves, sua amiga de lutas, o choro foi seco, de raiva e luto. Um ano depois, foi ele quem partiu, aos 67 anos — novo demais, cansado talvez de tanto carregar o mundo nas costas.

Hoje, no Dia do Trabalhador, ele vive em cada gesto meu, em cada palavra que escrevo. Porque me ensinou que trabalho não é só suor: é entrega, é luta, é amor.

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