*Maria José Rocha Lima
Hoje é aniversário da minha mãe, a amada, intuitiva e devotada Dona Teresinha.
Depois de ler Os Evangelhos à Luz da Psicanálise, da francesa Françoise Dolto, melhor entendi o valor da mãe na vida de um filho. Dolto muito me impressionou com a análise sobre As Bodas de Caná. Para ela, é interessante verificar que, no relato de São João Evangelista, a Virgem Santa Maria é mencionada antes de Cristo. Antes do filho, a mãe: “No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava lá. Também Jesus e seus discípulos foram convidados para o casamento”. (Jo 2, 1-2). Foi ali o início dos sinais (Jo 2,11), ou seja, o primeiro milagre realizado por Cristo, com o qual Ele manifestou, em público, a Sua glória, suscitando a fé dos discípulos.
A psicanalista entende que foi Maria quem apresentou Jesus Cristo, nas Bodas, encorajando – O a realizar o seu primeiro milagre de transformar água em vinho. Foi muito inspirador para entender o papel da mãe e o papel que teve a minha. Pedi ao poeta Miguel Lucena que transformasse em versos o que ele realizou com maestria:
Quando Jesus transformou/ Na festa a água em vinho,/ Não fez aquilo sozinho,/Pois Maria o encorajou./Na hora que ela mandou/Jesus o milagre obrar,/Ele estava a matutar/ E ela inspirou confiança: A mão que embala a criança/ Diz e indica o caminhar.
Quantas vezes a minha mãe indicou o meu caminhar! Primeiro indicou o meu caminho nos estudos e o caminhar, matriculando-me no Curso Normal, argumentando a minha vocação para professora, desde os 10 anos de idade, dando aulas para crianças pobres. Fiz o Curso Normal, tornei-me professora primária antes de completar 18 anos e passei em dois concursos públicos (municipal e estadual), ganhando autonomia financeira, bem jovem, e fiz uma bela carreira na área da educação, alcançando os níveis mais elevados de formação.
Em 1978, minha mãe, assistindo televisão, viu o anúncio da realização de assembleia de professores, na Associação dos Professores Licenciados da Bahia – APLB -. Os salários dos professores primários estavam atrasados, e ela sugeriu que eu fosse até lá, para defender o meu salário e das colegas. Durante a assembleia me pronunciei e iniciei minha jornada de luta sindical. Fui presidente da APLB e Vice- Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação. Por último, fui deputada estadual da Bahia. Isto ela não indicou, porque desconfiava do cretinismo parlamentar e desaconselhava- me, entendendo que, na política, eu perderia a credibilidade conquistada. Ela era meio vermelhinha, apreciava a teologia da libertação, gostava de Fidel Castro etc.
A mão da mãe é um molde/ Onde a criança é firmada,/Nela se sente amparada/E sente mesmo que pode./O fogo da vida explode/No primeiro engatinhar/Com a mãe a ensinar/Os passos da eterna andança: A mão que embala a criança/ Diz e indica o caminhar. Parabéns, mãe!
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada por dois mandatos e é Psicanalista filiada à ABEPP.