domingo, 16/11/25
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A mania do estrangeirismo

 

Miguel Lucena

A elite brasileira sempre teve uma quedinha por enfeitar o português com palavras importadas, como quem põe plumas no pavão para ver se ele voa. Antes, era o francês — ou melhor, um françol, meio língua, meio pose. Lembro de ouvir madames perguntando, com o nariz empinado: “Veio avec?”, querendo saber se a criatura estava acompanhada. Outras se despediam com um afetado “À bientôt, chérie!”, mesmo sem saber localizar Paris no mapa.

O tempo passou, o francês saiu de moda, mas a mania de enfeitar o pavão continua firme. Agora o charme é o inglês — também aquele inglês de salão, misturado com o nosso português cotidiano. Ontem vi a propaganda de um prédio de luxo oferecendo Espaço Wellness, como se “bem-estar” fosse palavra pobre, digna apenas de prédio sem porte-cochère. Daqui a pouco vão anunciar Roof Top do Churrasco e Kids Place da Birra, e o público vai achar o máximo.

O brasileiro sofisticado não quer falar inglês: quer parecer que fala. É o charme de pedir delivery do pastel, marcar um meeting no boteco e dizer que a TV da sala tem smart functions, embora ninguém saiba pra quê. Até o cachorro agora não faz mais xixi: dá um check-out no tapetinho.

No fundo, é a velha necessidade de parecer mais fino do que é — como dizia minha avó, “quem tem estilo não precisa mostrar”. Mas a elite insiste. E segue misturando línguas para ver se, de repente, fica bilíngue por osmose.

Enquanto isso, a língua portuguesa, coitada, segue firme, acolhedora, elegante — mesmo sendo tratada como convidada de segunda classe no próprio país.

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