Ilustração
Zé Euflávio
Quando o homem foi à Lua o mundo vivia a época da Guerra Fria, com uma disputa insana entre os Estados Unidos da América e a União Soviética, as duas potências que disputavam a hegemonia do mundo.
Na disputa espacial, os soviéticos saíram na frente com Yuri Gagary indo para o Espaço Sideral e pronunciando a célebre frase: “A Terra é azul”. Mas os americanos foram os primeiros a chegar à Lua com a Nave Apolo XI levando os astronautas Buzz Aldrin, Neil Armstrong e Michael Colins ao satélite da terra.
E Armstrong ao descer da nave e pisar na Lua deu uns três ou quatro passos e falou para o mundo ouvir: “Um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a Humanidade”. A nave voltou à Terra e os três americanos entraram para a História.
A Nasa, que desenvolveu o projeto, fez um filme e essa película correu o mundo como peça publicitária do governo americano. Foi tão longe que chegou ao Principado de Sant’Ana do Garrote, que na época era um lugar no fim do fim do mundo, não se parecendo com a cidade bonita que é hoje.
Pois bem, o filme da Nasa chegou e escolheram o Colégio Teotônio Neto para apresentar a saga americana ao povo do lugar. Um carro de som passou o dia circulando pela cidade convidando a população para o evento.
Ao passar pela rua do Xique-xique, Mané Piçarra, um negro velho morador de lá, ouviu e chamou Dona Tertulina Caica, sua mulher, para ouvir e disse com voz de intimação: “Nós vamos olhar isso”, ao que a mulher disse: “Ora se vamos”.
No início da noite os se arrumaram e seguiram para o Colégio. Sentaram na primeira fila de cadeiras e ficaram esperando ansiosos pelo início do filme. Finalmente, começou.
O filme é uma peça educativa feito numa linguagem de fácil entendimento para todos e começa mostrando o movimento de rotação e translação da Terra. Piçarra já ficou desconfiado, mas continuou assistindo.
No final, quando todos iam saindo, os dois se encontraram com Geraldo Sabiá e Sabiá perguntou a Piçarra: “E aí Mané Piçarra, gostou do filme? Eu achei muito bom”, disse em tom de provocação.
— Geraldo, eu nasci no ano da estreia e já vi e sei de muita coisa desse mundão véi sem porteira — respondeu. (O “ano da estreia” a que ele se refere é o ano em que o Cometa Harley passou próximo à Terra e foi visto a olho nu, aí por volta de 1800 e lá vai fumaça).
— O negócio tem muita mentira. Geraldo, se a terra rodasse, Sant’ana passava em Piancó, em Patos, em Brasília e ia até São Paulo, onde mora meu filho Agamenon — disse.
— E lhe digo mais: uma coisa só roda se tiver eixo. De que tamanho é esse eixo da terra e onde fica? — indagou.
E encerrou a conversa dizendo:
— Geraldo, meu filho, você é muito novo e ainda tem muito o que aprender. Olhe, a Lua é de São Jorge. Quem disser que foi lá, não volta e se voltar é porque não foi. Entendeu? — e partiu com Dona Tertulina para casa.